Se mantiver pelo resto do ano o pique com que
arrecadou durante os primeiros quatro meses de 2021, o governador Helder
Barbalho poderá fechar as contas do Pará posicionando o estado como a 8ª maior
praça financeira do país. Seria um feito inédito ultrapassar Goiás e Santa
Catarina no ranking dos mais ricos. A receita consolidada no balanço
orçamentário do primeiro quadrimestre mostra o Pará com faturamento acumulado
de R$ 10,033 bilhões, o maior e melhor da história.
As informações foram levantadas pelo Blog do Zé
Dudu, que antecipa agora o resultado das contas das 27 Unidades da Federação,
as quais só serão divulgadas no próximo semestre pelo Tesouro Nacional, por
meio do Boletim de Finanças dos Entes Subnacionais. O Blog coletou a receita oficial
apurada no balanço orçamentário de todos os estados e observou que o Pará está
a um triz de tragar Goiás, maior nome da atualidade do agronegócio, e Santa
Catarina, potência do desenvolvimento social do país.
Goiás registrou R$ 10,109 bilhões em receitas e
está no calcanhar de Santa Catarina, que assinalou R$ 10,177 bilhões. O Pará,
que ultrapassou o Ceará (R$ 9,73 bilhões) no primeiro ano de gestão de Helder,
já está tecnicamente empatado com Goiás e Santa Catarina e o embate de receitas
públicas entre os três deverá ser resolvido literalmente em centavos.
O crescimento das receitas do Pará se escora na
cada vez mais robusta atividade mineral, geradora de royalties de mineração e
da taxa de fiscalização incidente sobre as empresas mineradoras. Esta última
deve render ainda em 2021 cerca de R$ 1 bilhão adicionais ao Pará por conta de
um decreto do Governo do Estado para modificar a forma de cobrança (afastando
benefícios e descontos fixados, desde 2015, nos impostos pagos pelas
mineradoras).
Nos primeiros quatro meses deste ano, os estados
que mais faturaram foram os mais populosos: São Paulo (R$ 88,185 bilhões),
Minas Gerais (R$ 34,711 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 21,936 bilhões). Acre (R$
2,371 bilhões), Amapá (R$ 1,93 bilhão) e Roraima (R$ 1,918 bilhão), por seu
turno, foram os estados que menos viram dinheiro em conta, mas também são os
menos populosos do Brasil. [Confira a tabela completa, com a
arrecadação na íntegra, de todas as 27 Unidades da Federação ao final do
texto.]
Receita
por habitante: Pará patina
Embora a receita paraense esteja em sua melhor
performance, com crescimento de vento em popa, ela é muito baixa,
proporcionalmente ao tamanho da população. O Governo do Estado foi o 7º com a
pior arrecadação do país, considerando-se o ajuntamento de dinheiro público por
capita. A receita por habitante no Pará, de R$ 1.154, só não foi pior que a
registrada por Bahia (R$ 1.125), Alagoas (R$ 1.093) Ceará (R$ 1.059), Paraíba
(R$ 1.047) e Maranhão (R$ 845).
Esse indicador ruim é, também, reflexo da superdepedência
da atividade mineral, mais especificamente de uma empresa (a multinacional
Vale) e uma commodity (o minério de ferro explorado pela empresa). Por outro
lado, enquanto o Governo do Estado arrecadou de janeiro a abril R$ 10,033
bilhões, a Vale faturou dentro do Pará no mesmo período R$ 37,592 milhões
(quase quatro vezes mais), segundo dados da Agência Nacional de Mineração
(ANM).
Mas se os números parecem desproporcionais entre o
governo e a mineradora, pior seria sem ela: tira a Vale do Pará, e o
faturamento do Governo do Estado despenca à metade, já que sumiriam do mapa
vultosas quantias de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),
Taxa de Fiscalização sobre Recursos Minerários (TFRM) e Compensação Financeira
pela Exploração Mineral (Cfem). A queda de recursos envolveria a multinacional
e, por efeito cascata, as empresas que gravitam em torno dela, que rendem
impostos e taxas aos cofres estaduais. Sem a Vale, cidades como Parauapebas e
Canaã dos Carajás, altamente sustentadas pela força magnética da empresa, iriam
à falência num piscar de olhos.
Como estado que apenas produz recursos primários, o
Pará não tem um parque industrial diverso capaz de gerar oportunidades e
fomentar novos negócios, ampliando sua importância na cadeia produtiva
nacional. Seus indicadores de desenvolvimento social, que oscilam entre o muito
ruim e o precário, também afugentam investidores. Os dilemas de infraestrutura,
saneamento básico, educação básica, saúde e segurança, herança de diversas
gestões que não se preocuparam em resolvê-los, pegam mal lá fora e asseveram a
desconcentração da riqueza do estado, sobremaneira dependente da indústria
extrativa mineral. O Pará segue rico e até enriquecendo, do ponto de vista
financeiro, mas desigual e subdesenvolvido, sempre aquém de suas possibilidades
e do seu potencial.