Palácio do Planalto; ao fundo, o Palácio do Congresso Nacional (Foto: )
Brasília – O Projeto de
Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2022 (PLN
19/2021), encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso
Nacional, prevê um aumento de R$ 7 bilhões (2021) para R$ 11 bilhões no ano que
vem – uma diferença de R$ 4 bilhões, para investimentos em energia
elétrica, diante da crise energética e ameaça de desabastecimento ocasionados
pela mais grave restrição hídrica em 90 anos, com a falta de chuvas para
regularizar o nível do reservatório das represas e hidrelétricas.
A peça orçamentária começou a ser analisada pela
Comissão Mista do Orçamento. Vários relatórios setoriais estão sendo elaborados
para facilitar o entendimento dos membros da comissão.
Quem
ganha e quem perde
Num dos relatórios, cujo levantamento foi feito
pela Consultoria de Orçamento da Câmara, com base nos dados do Sistema
Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), que o Blog do Zé Dudu teve
acesso, consta que os ministérios da Defesa e da Ciência, Tecnologia e
Inovações ganharam mais recursos para investimentos no PLOA. Neste ano, a
Defesa tem uma dotação de R$ 7,1 bilhões e no projeto deve ganhar R$ 8,3
bilhões, uma diferença de R$ 1,2 bilhão. Já a Ciência passa de R$ 231 milhões
para R$ 723 milhões, quase três vezes mais.
Os ministérios da Saúde e de Desenvolvimento
Regional são os órgãos que mais perdem na proposta apresentada pelo Executivo:
os investimentos em Saúde caem de R$ 4,9 bilhões, em 2021, para R$ 2,1 bilhões
no ano que vem, menos da metade; enquanto isso, Desenvolvimento Regional vai de
R$ 9,6 bilhões para R$ 2 bilhões, uma diferença de R$ 7,6 bilhões.
As perdas destas duas pastas são maiores se
comparadas à dotação de 2020, em que o Desenvolvimento Regional teve R$ 11,9
bilhões, e a Saúde, R$ 6,2 bilhões em investimentos. No entanto, parte desses
recursos deve ser reposto por emendas parlamentares, que costumam privilegiar
ambas as pastas, especialmente a Saúde, que recebe 50% dos recursos para
emendas individuais. O projeto de Orçamento para 2022 reservou R$ 10,477
bilhões para emendas de deputados e senadores e R$ 5,647 bilhões para emendas
de bancadas estaduais.
Ainda segundo a Consultoria de Orçamento da Câmara,
na comparação entre programas que levam em conta investimentos das estatais, as
maiores perdas estão no Petróleo, Gás, Derivados e Biocombustíveis. No projeto
de lei aprovado pelo Congresso para este ano, o setor recebeu R$ 124,5 bilhões,
mas na proposta do Executivo para o ano que vem apresenta somente a metade ou
R$ 72,6 bilhões.
Outro programa que perdeu investimentos foi a
Aviação Civil, que teve R$ 523 milhões neste ano, mas receberá apenas R$ 76,3
milhões no ano que vem. Já o programa Conecta Brasil, dos Correios, quase
dobrou, passando de R$ 48,8 milhões para R$ 85,1 milhões.
Investimentos por órgão (Fonte: Consultoria de
Orçamento da Câmara/Siop)
Precatórios
e déficit
Segundo o governo, os gastos com investimentos e
outras despesas discricionárias estão ameaçados pelo crescimento de despesas
com decisões judiciais, os chamados precatórios. O pagamento das sentenças
judiciais passou de R$ 55,4 bilhões neste ano para R$ 89,1 bilhões em 2022. O
previsto na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) 2022 era R$ 57,8 bilhões.
Como comparação, as despesas discricionárias serão
reduzidas de R$ 99,1 bilhões, em 2021, para R$ 98,6 bilhões no ano que vem.
Proporcionalmente, elas passam de 7,3% das despesas do Orçamento de 2021 para
apenas 6% em 2022.
Apesar dessas tendências, o desempenho da economia
e a contenção de gastos ajudaram a reduzir o déficit primário no ano que vem
para R$ 49,6 bilhões, equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Na
LDO, a estimativa do déficit era de R$ 170,5 bilhões, ou 1,9% do PIB. Em 2021,
o déficit é de R$ 155,1 bilhões ou 1,8% do PIB.
A reforma da Previdência contribuiu em parte para a
redução do déficit nas contas públicas. O déficit na Previdência deve cair de
3,8% do PIB, neste ano, para 3,1% no ano que vem, chegando a R$ 282,5 bilhões,
segundo a proposta orçamentária.
Saúde
e Educação
O projeto prevê a aplicação de R$ 111,2 bilhões em
manutenção e desenvolvimento do ensino e R$ 134,5 bilhões em ações e serviços
públicos de saúde. O PLOA 2021 previa a aplicação de R$ 98,9 bilhões e R$ 124,6
bilhões nas respectivas áreas. Já os valores atualmente autorizados para 2021 alcançam
R$ 100,1 bilhões e R$ 178 bilhões. Na Saúde, R$ 7,1 bilhões estão alocados para
a continuidade do enfrentamento à Covid-19, sendo:
- R$ 3,9 bilhões destinados à vacinação;
- R$ 1,8 bilhão para despesas com atenção
de média e alta complexidade;
- R$ 700 milhões na atenção primária; e
- R$ 663 milhões distribuídos em outras
programações.
Auxílio
Brasil
Para o pagamento do Auxílio Brasil (Medida
Provisória 1.061/2021), ao qual o presidente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira (PP-AL), designou como relator o deputado Marcelo Aro (PP-MG) e
cujo programa foi criado em substituição ao Bolsa Família, o PLOA 2022 prevê R$
34,7 bilhões para atender 14,7 milhões de famílias. O informativo conjunto das
consultorias do Orçamento observa que, diferentemente do Bolsa Família, as
dotações do Auxílio Brasil não estão regionalizadas. O Bolsa Família
beneficiou, no mês de agosto de 2021, 14,6 milhões de famílias e sua dotação em
2021 é de R$ 34,8 bilhões.
Eleições
A despesa do Fundo Especial de Financiamento de
Campanhas está projetada em R$ 2,128 bilhões, 4,5% superior à despesa de R$
2,035 bilhões autorizada em 2020. O fundo provocou polêmica na votação do
projeto da LDO 2022, que foi aprovado pelo Congresso com uma estimativa de R$
5,7 bilhões, posteriormente vetada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Duas parcelas compõem o valor do Fundo:
- R$ 812 milhões, valor mínimo equivalente
à compensação fiscal que as emissoras de rádio e TV receberam pela
divulgação da propaganda partidária em 2016 e 2017, atualizada pelo INPC;
- R$ 1,316 bilhão, decorrente de redução
da reserva de recursos destinada ao atendimento de emendas de bancada
estadual de execução obrigatória.
Quanto ao Fundo Partidário, o valor programado para
2022 é de R$ 1,06 bilhão.
Pessoal
O projeto não oferece reajuste para servidores. No
entanto, pela primeira vez em três anos, há previsão de concurso público, com a
abertura de 41,7 mil vagas em órgãos do Executivo, universidades federais e
agências reguladoras. A previsão é que as despesas com pessoal cresçam de R$
332,355 bilhões neste ano para R$ 342,799 bilhões no ano que vem.
Prioridades
Outras prioridades destacadas pelo governo no
Orçamento para 2022 são:
- R$ 8,5 bilhões de incorporação para
receita do Fundo Nacional de Ciência e Tecnologia, sendo que metade serão
recursos não-reembolsáveis;
- R$ 10,148 bilhões para investimentos em
andamento no Poder Executivo, com alocação de 10,3% das despesas discricionárias;
- R$ 2 bilhões para realização do Censo
Demográfico em 2022. Na preparação do Censo em 2022, já foi publicado
crédito adicional de R$ 82,3 milhões neste ano, e estão em tramitação no
Congresso Nacional recursos adicionais de R$ 35,7 milhões.
Novos
investimentos
Nos investimentos relacionados no PLN 19/2021, o
governo federal apresentou 67 novos investimentos, que juntos somam R$ 997
milhões. Isso corresponde a quase 4% do valor total das 638 ações de
investimentos para o ano que vem, que juntas somam R$ 25,658 bilhões.
Na nova relação, os investimentos incluem obras ou
a compra de equipamentos, maquinário e veículos. Os dados são do Sistema
Integrado de Planejamento e Orçamento (Siop), somando recursos do orçamento
fiscal e da seguridade social. As emendas parlamentares ainda podem aumentar o
volume de investimentos e a quantidade de ações.
Veja a relação dos 67 novos investimentos, de
acordo com suas funções:
Investimentos com maiores recursos
Perdas
e ganhos
Dos 425 investimentos em andamento, que contam com
uma dotação em 2021, 209 terão os recursos aumentados pelo projeto de lei
orçamentária para 2022, ganhando no total R$ 4,9 bilhões. Outras 194 ações vão
perder no total R$ 10,2 bilhões na comparação com este ano.
Entre os investimentos que mais ganharão recursos
no ano que vem estão ações do Ministério da Defesa, como a aquisição do
cargueiro militar KC-390, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras
(Sisfron), o Projeto Forças Blindadas e o desenvolvimento de sistemas de
tecnologia nuclear da Marinha. Juntas, estas quatro ações terão um incremento
de R$ 956 milhões na comparação com as dotações deste ano.
Já os investimentos de Saúde e Educação estão entre
os que mais perderam recursos. A estruturação de Unidades de Atenção
Especializada em Saúde passou de uma dotação de R$ 2,3 bilhões, neste ano, para
R$ 482 milhões em 2022, uma diferença de R$ 1,8 bilhão. O Fomento ao Setor
Agropecuário, atualmente com R$ 1,4 bilhão, tem apenas R$ 4,5 milhões no
projeto de lei orçamentária para o ano que vem.
Órgãos
Mais da metade dos novos investimentos em 2022 se
destina a cinco ações do Ministério da Defesa, com R$ 627,5 milhões. O
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações tem nove novas ações, com R$ 89
milhões. A Educação conta com duas ações de R$ 59 milhões. Ainda há outras 17
obras de infraestrutura de transporte, com R$ 57,5 milhões.
O novo investimento com mais recursos é a aquisição
de aeronaves para transporte logístico estratégico de pessoal e material, com
R$ 484 milhões. Em seguida, também do Ministério da Defesa, está a recomposição
da capacidade e dos meios da Força Terrestre, que inclui a aquisição de
sistemas e materiais de emprego militar para o Exército, por R$ 70 milhões.
Por Val-André
Mutran – de Brasília