Brasília, 07/12/2021 — As
novas contradições do governo no discurso de insistir com a privatização
das estatais federais às vésperas das eleições — inclusive daquelas mais
bem classificadas pelo próprio Executivo, a exemplo da Caixa Econômica
Federal — provocaram a reação dos empregados do banco público. A
Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) analisou,
com indignação, as recentes declarações do ministro Paulo Guedes
[Economia] na defesa de criação de um “fundo de erradicação da pobreza”
como tentativa de argumento para a venda não só da Caixa Econômica como
também da Petrobras, Eletrobras e do BNDES. Estas empresas estão entre as
instituições com as melhores avaliações na 5ª certificação do Indicador
de Governança IG-SEST, que avaliou 60 estatais.
No contexto da divulgação dos
resultados do Indicador, na última semana, Guedes chegou a admitir que o
governo seguirá o caminho das privatizações porque o abandono dessa
agenda pode representar perda de apoio do eleitorado de
Bolsonaro. “Venda alguns ativos aqui e enche o tanque do
fundo. Nosso desafio é gerir bem as estatais, mas encaminhando para o
mercado", afirmou o ministro. Conforme analisa o presidente da
Fenae, Sergio Takemoto, as falas de Paulo Guedes confirmam que
as ações do governo têm uma meta, uma direção: a eleição presidencial de
2022.



“A única preocupação
é reelegerem o atual presidente, não se importando com as reais
demandas da sociedade nem se as medidas tomadas terminarão de destruir o
país”, destaca Takemoto. “Como pode um ministro falar em venda do
patrimônio da nação para encher um ‘tanque’ que, na realidade, é o tanque
do mercado financeiro?”, questiona o dirigente.
Ao defender recentemente
a privatização de todos os aeroportos do país, Guedes reafirmou
que o governo está atuando para que as estatais também sejam
privatizadas: "Elas estão sendo preparadas, modernizadas,
transformadas do ponto de vista de governança para não haver de novo
Petrolão, Mensalão, 'Caixão', porque a Caixa também estava
nisso".
O presidente do banco, Pedro
Guimarães, ressaltou — também na ocasião do anúncio da 5ª certificação do
IG-SEST — que a empresa “nunca teve tanto lucro, nunca emprestou
tanto”. No terceiro trimestre, a Caixa Econômica aferiu lucro
líquido de R$ 3,2 bilhões, representando um aumento de 69,7% em
relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano [até
setembro], o lucro do banco alcançou R$ 14,1 bilhões.
“É esta empresa pública, com
estes resultados e que provou ser essencial para o país
especialmente na pandemia, que o governo quer vender. Junto com a
privatização de outras estatais necessárias ao Brasil, a real intenção é
maquiar o orçamento, passando à sociedade a falsa mensagem de recuperação
econômica no cenário eleitoral”, alerta Sergio Takemoto.
"O governo não tem políticas
públicas sustentáveis nem saídas viáveis para o país”, emenda o
presidente da Fenae, ao pontuar o recuo do PIB [Produto Interno Bruto]
pelo segundo trimestre consecutivo e a economia de volta ao caminho
da recessão. “Ao invés de focar em medidas de reaquecimento da produção e
do emprego, o que o governo faz é tentar queimar o patrimônio dos
brasileiros. E quando o dinheiro das privatizações acabar, o que será
feito do Brasil vendido ao mercado?”, acrescenta.
DANOS À POPULAÇÃO — Takemoto
também observa que a abertura de capital da Caixa Seguridade, no início
deste ano, acendeu a luz amarela sobre como a venda de subsidiárias do
banco comprometerá o desempenho da instituição, colocando em
risco os programas sociais históricos operacionalizados pela
Caixa. Exemplo disso são o Bolsa Família, já extinto pelo atual
governo; e o Minha Casa Minha Vida, substituído pelo Casa Verde e
Amarela, que desassistiu a população mais carente ao acabar com
o subsídio para acesso à moradia.
“O mesmo risco correm a Caixa
DTVM, que foi criada já com a promessa de abertura ao mercado, e também a
Caixa Cartões, as Loterias Federais e o ainda nem oficialmente criado
Banco Digital. São as próximas subsidiárias estratégicas da Caixa
Econômica na meta privatista de Pedro Guimarães e Bolsonaro”,
afirma Sergio Takemoto.
A representante dos empregados no
Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, observa que o Brasil
caminha na contramão do mundo, conforme apontam diferentes indicadores.
“Seja na volta da miséria, na destruição de políticas e
programas sociais ou na privatização das estatais”, pontua.
Ao observar que o Reino Unido
fundou um banco público de desenvolvimento no contexto da pandemia e que
a Alemanha utiliza estrutura pública equivalente para fazer investimentos
e superar a crise, Serrano aponta: “Enquanto isso, no Brasil, o governo
quer privatizar tudo aquilo que for possível, piorando a qualidade de
vida da população, que ficará sem os serviços executados pelas empresas
públicas. A realidade já nos mostra isso: aumentos sucessivos dos preços
da gasolina, do gás, da luz elétrica. Tudo isso tem a ver com essa
política de privatização. E acabar com a Caixa significa perder a
principal gerenciadora de políticas públicas e operadora de investimentos
no país”.
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