Na foto, o Distrito Industrial onde está instalada a Zona Franca de Manaus (Foto: )
Brasília – O
Decreto 10.979/2022 assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) que reduziu em
25% as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a grande
maioria dos produtos desagradou prefeitos e a Bancada do Amazonas, que “vê na
medida um impacto danoso, de enorme profundidade à competitividade do Polo
Industrial de Manaus, ferindo de morte os mais de 400 mil postos de trabalho
aqui gerados, direta e indiretamente. Uma catástrofe para a economia do
Estado”, diz trecho de nota divulgada pelos deputados e senadores amazonenses.
A redução foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na nesta sexta-feira
(25/2). Só o IPI sobre o cigarro não foi reduzido. O imposto sobre as bebidas e
as armas também foi baixado em 25%.
Houve imediata reação da Confederação Nacional dos
Municípios (CNM) que também criticou a decisão do governo federal de reduzir em
até 25% a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Em nota
(leia a íntegra da
nota da CNM) divulgada no sábado (26), a entidade afirma que
foi pega de surpresa com o decreto publicado no DOU e que a medida resultará na
perda de R$ 4,8 bilhões em receita para as prefeituras.
O montante representa 40% de um mês do Fundo de
Participação dos Municípios (FPM) destinado aos 5.568 municípios brasileiros.
Segundo a confederação, a perda de receita vai prejudicar ações de custeio e
investimento nas áreas sociais das prefeituras. O FPM é abastecido com recursos
do IPI e do Imposto de Renda. O governo federal estima em R$ 19,5 bilhões a
renúncia fiscal em 2022 com a redução do imposto sobre produtos
industrializados.
A entidade afirma que vai pressionar o Congresso a
aprovar projetos que obriguem o governo federal a compensar os efeitos da
redução do IPI. “Infelizmente, se repete o velho hábito de fazer caridade com o
chapéu alheio”, diz a nota assinada pelo presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.
“Essa forma de reduzir impostos que são compartilhados é usualmente utilizada
por todos os governos e sempre causam grandes prejuízos aos municípios.
Trata-se de uma política que fere gravemente o pacto federativo”, acrescenta
Ziulkoski.
“Por se tratar de tributo extrafiscal, de natureza
regulatória, é dispensada a apresentação de medidas de compensação, como
autorizado pela Lei de Responsabilidade Fiscal”, ressaltou o governo em defesa
do decreto.
O tributo incide sobre a atividade industrial e é
uma tentativa do governo federal de estimular a economia. De acordo com o
Ministério da Economia, a redução do IPI em 25% deve beneficiar mais de 300 mil
empresas, sobretudo a indústria de transformação e governo fala em
reindustrialização do Brasil como benefício direto da medida.
Mas, a bancada do Amazonas no Congresso não ficou
nada satisfeita com o decreto. Reagiu à redução do IPI, medida que afeta
diretamente a Zona Franca de Manaus, cujo grande atrativo é o imposto mais
baixo. “Quero dizer que, a partir de agora, o governo do presidente Bolsonaro
assume uma posição contra a Zona Franca e contra os trabalhadores do Amazonas.
Eu lamento muito dizer isso, espero que todos nós possamos nos unir. Nós já
enfrentamos adversários como esses e sobrevivemos. Se Deus quiser, vamos
sobreviver novamente”, disse o senador Eduardo Braga (MDB-AM), desafeto
declarado do presidente Bolsonaro.
A decisão do governo também é criticada em nota assinada
por todos os integrantes da bancada amazonense no Congresso. “Mais importante é
que a adoção de tais medidas refletem manifesta contradição do presidente da
República, Jair Bolsonaro, responsável final por seu governo, que por um lado
verbaliza ser a favor de nosso modelo de desenvolvimento, mas emite decretos
que o fragilizam e causam desemprego e perda de atividade econômica. Não pode
haver dúvidas. Reiteramos que este decreto compromete o futuro do Polo
Industrial de Manaus”, diz o texto (veja a íntegra da nota da
bancada do Amazonas).
Governo defende o decreto
Segundo a Secretaria Especial da Receita Federal, a
estimativa do impacto desta medida é de R$ 19,6 bilhões na arrecadação do
governo federal em 2022. “A diminuição proporcional das alíquotas do IPI
possibilita o aumento da produtividade, menor assimetria tributária
intersetorial e mais eficiência na utilização dos recursos produtivos, conforme
entendimento do governo. Essa redução tributária ocorre após a elevação da
arrecadação dos tributos federais observada ao longo do ano passado, e não
afetará a solvência da dívida pública e o compromisso do governo federal com a
consolidação fiscal”, diz ainda o governo.Para justificar a decisão de reduzir
o IPI, o governo argumenta que o setor industrial brasileiro tem perdido
competitividade e participação no valor adicionado, no emprego e na pauta
exportadora do país. A redução do IPI seria, assim, um incentivo para a
retomada da competitividade do setor. “A redução de 25% do IPI é um marco da
reindustrialização brasileira após quatro décadas de desindustrialização”,
disse o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU