Sob a
justificativa de razões “técnicas” e os maiores índices de furtos no
fornecimento do serviço, a concessionária de energia elétrica Equatorial
Pará, que assumiu a antiga Celpa em 2012, convenceu a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), ganhando a queda de braço com entidades de
consumidores em ação popular e em outra ação, impetrada na Justiça pela
Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Pará, ambas parcialmente atendidas,
mesmo assim alçando o estado ao topo da energia elétrica mais cara do Brasil.
Os
consumidores do Pará passaram a ter a maior tarifa residencial de energia
elétrica do país, com o reajuste médio de 11% nas tarifas da distribuidora
local, autorizado pela Aneel, que entrou em vigor na última semana, o que fez o
preço da energia consumida por kWh (quilowatt-hora) passar para R$ 0,96, sem
contar impostos a taxa de iluminação pública. A média nacional é de R$ 0,72 por
KWh.
A
Equatorial PA atende a 2,9 milhões de unidades consumidoras no Estado. Antes do
reajuste, ocupava o quarto lugar no ranking do custo da energia. Agora, superou
a Enel Rio, que atende 66 cidades do interior fluminense. Os dados são da Aneel
e contabilizam os reajustes até segunda-feira (21).
A discussão
sobre a revisão tarifária no Pará foi acalorada dando plena vitória à
concessionária. No início, a proposta da Aneel era de um aumento que beirava os
16%. Depois de reclamações do governo, congressistas e entidades locais, o
percentual de alta ficou em 11%, na média. O Estado tem um dos maiores índices
de perda de energia do país, seja por motivos técnicos ou furto. Isso pesou no
aumento. A Enel Rio, agora em segundo lugar, também contabiliza altas perdas.
No caso da
Pará, a distribuição de energia ainda tem o desafio de atender áreas distantes
com uma pequena concentração de consumidores. São atendidos todos os 144
municípios paraenses, que somam uma área de 1.248 mil km², cerca de 14,7% do
território brasileiro. Com isso, a distribuidora atende a uma média de 17
consumidores por km². Isso impacta os custos de distribuição.
“Por ser um
estado continental, a logística e os custos para operação, manutenção e
expansão da rede elétrica são muito mais altos e desafiadores que nos outros
estados. Além disso, com uma densidade demográfica muito abaixo da média
nacional e com cargas predominantemente residenciais, a divisão dos custos
resulta em uma parcela maior para cada consumidor, quando se compara a
concessões com cargas maiores e mais concentradas”, afirmou a Equatorial PA. Em
nota, a empresa justifica sua posição.
O que diz a Equatorial Pará
A
Equatorial Pará destaca que as revisões tarifárias são conduzidas e definidas
pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para todas as distribuidoras
do setor elétrico, em períodos de 4 ou 5 anos, conforme legislação vigente para
o setor e os Contratos de Concessão.Nesse sentido, a Revisão Tarifária tem por
objetivo reconhecer na tarifa os investimentos feitos pela concessionária no
período, assegurando a receita necessária para que o serviço seja prestado,
satisfazendo as condições de continuidade, eficiência e segurança da operação.
Os itens relativos à distribuição respondem a cerca de 31% de uma fatura média
e, na revisão tarifária 2023, proporcionaram uma redução de 4,45% no efeito
médio dos consumidores.
Adicionalmente, por volta de 35% de uma fatura média se destinam ao repasse de
impostos e encargos setoriais aos agentes governamentais, enquanto os restantes
34% são repassados para geração de energia e transmissão.É importante frisar
que alguns fatores impactam neste cálculo e na tarifa de energia praticada em
cada estado, dos quais destacamos o tamanho, a densidade demográfica,
características dos consumidores e a complexidade do Pará. Por ser um estado
continental, a logística e os custos para operação, manutenção e expansão da
rede elétrica são muito mais altos e desafiadores que nos outros estados. Além
disso, com uma densidade demográfica muito abaixo da média nacional e com
cargas predominantemente residenciais, a divisão dos custos resulta em uma
parcela maior para cada consumidor, quando se compara a concessões com cargas
maiores e mais concentradas.
“Por causa
dos índices de pobreza e do alto custo de energia, a inadimplência no Pará é
alta, o que também acarreta custos”, disse a distribuidora. Atualmente, 77% dos
consumidores residenciais estão na Tarifa Social, com subsídio suportado pela
CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), rateada entre todos os brasileiros
por meio da conta de luz.
Também pesa
no Estado o alto percentual de consumidores que migrou para o mercado livre de
energia (22%) na tentativa de amenizar o peso da conta de energia no custo de
vida das famílias, o que, no modelo atual, faz com que os custos da rede sejam
divididos entre menos clientes.
“Embora
seja um dos estados responsáveis pela segunda maior geração de energia do país,
o fato não é levado em consideração nos cálculos desse reajuste, o que infere
que o prestígio político da região, não apita nada em Brasília”, reconhece um
deputado que obviamente pediu anonimato.
As tarifas mais baratas
Na outra
ponta do ranking, está a Energisa Borborema (PB), com preço de R$ 0,54 por kWh.
A empresa atende a 229 mil unidades consumidoras na região do agreste da
Paraíba, com sede na cidade de Campina Grande (PB).
Na
sequência aparecem concessionárias da região Sul, sobretudo do Paraná e Santa
Catarina. As companhias que atendem menos consumidores se destacam. Segundo
especialistas, por contarem com redes menores e menos complexas, a manutenção é
mais simples e barata.
A diferença
da tarifa por kWh da Equatorial PA para a Energisa Borborema é de R$ 0,42. Ou
seja, os consumidores no Pará pagam até 77,8% a mais pela energia do que os do
agreste paraibano que não podruz energia para o sistema nacional. Se
considerarmos o consumo médio de 150 kWh, a conta de luz ficaria assim:
•
Equatorial PA – R$ 144, antes de impostos e taxas;
• Média nacional – R$ 108, antes de impostos e taxas;
• Energisa Borborema (PB) – R$ 80,40, antes de impostos e taxas.
Consumo nacional
O consumo
nacional de energia elétrica encerrou o 1º semestre de 2023 com alta de 1,4% no
comparativo com o mesmo período de 2022, segundo balanço da CCEE (Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica). Já o volume de energia consumida nesse
período no ano passado foi de 65.851 MW médios, enquanto em 2023 alcançou a
marca de 66.760 MW médios.
O aumento
no consumo coincidiu com a alta das exportações da indústria mineradora. O
setor vive uma retomada contínua da produção em razão do mercado já conquistado
na China e da magnitude dos valores de suas vendas.
O
crescimento das atividades no comércio e no segmento de serviços também
influenciou a alta no consumo. Tal movimentação é um reflexo da melhora nos
índices da inflação e do consequente aquecimento da economia, especialmente das
atividades em supermercados.
As
condições climáticas mais amenas do que o normal de janeiro a abril apontavam
para queda no consumo de energia elétrica devido ao uso menos frequente dos
aparelhos de ar-condicionado. Mesmo assim, o consumo cresceu por conta das
atividades dos setores econômicos.
Produção de minérios
Entre as
regiões que se destacaram no consumo de energia elétrica no Brasil, o Norte e
Nordeste são responsáveis pelas maiores porcentagens. Maranhão e Pará são os
Estados que lideram o ranking por causa das atividades de extração de minérios.
O
crescimento do mercado livre de energia também impulsionou o consumo nacional.
Foram mais de 3.300 novas unidades consumidoras ingressando nesse ambiente no
1º semestre. Isso representa alta de 5,2% no comparativo anual, segundo a CCEE.
Em
contrapartida, o ambiente regulado reduziu em 0,7% no mesmo período. O
crescimento da micro e minigeração distribuída, fatores climáticos e o
deslocamento de agentes para o mercado livre influenciaram a movimentação.
Valor da tarifa extra pode
cair
A Aneel
iniciou na terça-feira (21), o julgamento para definir os parâmetros para
acionamento das bandeiras tarifárias e os novos valores que vão vigorar no
próximo ano. A proposta que está na mesa é para reduzir a cobrança adicional na
conta de luz em até 36,9%, conforme nota da área técnica do órgão, confira
abaixo.
DocAneel
Os valores
devem ser menores para todas as bandeiras. Pela proposta, a amarela deve ter a
maior redução, com valor adicional caindo dos atuais R$ 2,99 para R$ 1,88 a
cada 100 KWh (quilowatt-hora) consumidos. A verde seguirá sem cobrança
adicional. Cada bandeira é acionada de acordo com o cenário de geração de
energia, que varia de favorável (verde) a desfavorável (vermelha patamar 2).
Eis os
valores propostos na nota técnica por bandeira:
verde –
segue sem cobrança adicional;
amarela – dos atuais R$ 2,99 a cada 100 KWh para R$ 1,88 (-36,9%);
vermelha patamar 1 – de R$ 6,50 a cada 100 KWh para R$ 4,46 (-31,3%);
vermelha patamar 2 – de R$ 9,79 a cada 100 KWh para R$ 7,87 (-19,6%).
A agência
ainda vai abrir consulta pública para discutir os valores antes de tomar uma
decisão final. O processo é relatado pelo diretor Fernando Mosna.
A proposta
considera os custos de aquisição de energia no cenário atual. Apesar do período
seco, os reservatórios estão cheios, o que indica que o próximo ano não deve
trazer riscos para a geração hidrelétrica. No ano passado, a Aneel aumentou os
valores extras cobrados em cada bandeira em até 64%.
Atualmente,
não há cobrança extra. A bandeira verde está vigorando desde abril de 2022,
chegando ao 16º mês consecutivo em decorrência das condições favoráveis de
geração de energia no país. Por causa das boas condições dos reservatórios, a
agência projeta que não será preciso acionar as bandeiras até o final do ano.
Além do
crescimento na oferta de energia hidráulica no SIN (Sistema Interligado
Nacional), a área técnica da Aneel considerou para reduzir os valores a
diminuição de custos em contratos sob gestão das distribuidoras e o menor custo
de aquisição dos combustíveis neste ano, como diesel e gás natural, necessários
para a geração das termelétricas.
A
metodologia usada para o acionamento das bandeiras também deve ter alteração. A
área técnica propôs mudanças no ESS (Encargos de Serviços do Sistemas), que
trata da segurança energética. Entram nesse encargo os custos que não estavam
previstos inicialmente nas operações de energia, como o acionamento
extraordinário de termelétricas em caso de risco hidrológico, que pode ser
ordenado pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico).
Segundo o
relatório técnico, a “experiência recente mostrou que nem sempre a sistemática
atual é capaz de induzir propriamente as escalas de risco e de custo definidas
pelo CMSE no exercício de sua competência de assegurar a segurança energética
do país”.
A proposta
prevê a incorporação de uma outra camada para a definição das bandeiras
tarifárias, que será ativa apenas em momentos em que houver atuação do CMSE
sobre a geração extraordinária no sistema.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.