O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anuncia o placar da votação na PEC da Reforma Tributária, aprovada em 2° turno (Foto: )
Após três
meses de tramitação no Senado Federal, o texto aprovado pela Câmara dos
Deputados, em 7 de julho, a Reforma Tributária, na forma do Projeto de Emenda
Constitucional (PEC n° 45/2019), foi aprovada em dois turnos pelos senadores,
na sessão da noite de quinta-feira (9), e segue para nova análise dos deputados
devido modificações.
Discutida
há quase 30 anos no País e defendida por diversos setores como uma forma de
melhorar a produtividade da economia, a proposta segue para a última fase de
tramitação no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, Depois de nova
votação na Casa, é que a reforma vai virar lei. O presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), disse que vai colocar a proposta em votação “assim que chegar”.
O principal
objetivo da Reforma Tributária é simplificar e facilitar a cobrança dos
impostos federais, estaduais e municipais. Esses tributos são a principal fonte
de financiamento de serviços públicos – como saúde, educação, segurança
pública, entre outros.
Os impostos
também são fundamentais para reduzir a desigualdade social no Brasil. No
entanto, obrigações pesadas e alíquotas altas acabavam virando um entrave para
o crescimento do País, defendem alguns.
A reforma
prevê a redução de cinco tributos em dois, que passariam a ser cobrados uma
única vez no destino, ou seja, onde os produtos e serviços são consumidos, e
não mais na origem. Esse arranjo é conhecido como IVA dual (ver mais abaixo).
O valor do
IVA será estipulado por uma regulamentação após a aprovação. No entanto, a área
econômica do governo calcula que a alíquota será algo em torno de 27,5% sobre o
valor do produto, para manter a atual carga tributária do país.
O texto
também estabelece tratamentos diferenciados a setores com alíquotas zero – para
produtos da cesta básica – e reduzidas como, por exemplo, para serviços de
educação, medicamentos, transporte coletivo e produtos agropecuários.
O
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que o aprofundamento do
debate sobre a reforma foi essencial para afastar o medo das mudanças que
virão.
“A reforma
se impôs porque o Brasil não podia mais conviver com o atraso. O debate
aprofundado foi essencial para diminuir a incerteza e afastar o medo de uma tão
ampla reformulação do sistema tributário nacional”.
O ministro
da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a ampliação de exceções a categorias e
atividades, mas considerou que o texto aprovado foi um bom começo. “Essa PEC
merece uma nota 7,5 com louvor. E agora, ela tem dispositivo que pode
transformar numa nota 10. É que a cada 4 anos você vai fazer uma revisão das
exceções. Então tudo isso vai ajudar o país a encontrar um equilíbrio entre os
setores e o federativo”.
Confira
abaixo os principais pontos da reforma tributária e o impacto deles para o seu
dia a dia.
Unificação
de Impostos
A Reforma
Tributária unifica cinco tributos – três federais, um municipal e um estadual –
que hoje incidem sobre o consumo, como acontece na maior parte dos países.
Isso vai
permitir que todos os produtos paguem uma mesma alíquota, o que evita
distorções. Mas há regimes diferenciados (ver mais abaixo) para alguns setores.
Assim, fica
mais fácil para as empresas recolherem impostos sobre bens e serviços. Para os
consumidores, há uma maior clareza sobre é pago de tributos sobre o consumo.
Importante
lembrar que não haverá aumento e nem redução de carga tributária.
Quatro
alíquotas e regimes diferenciados
A reforma
tributária prevê quatro alíquotas.
Padrão –
será o valor do IVA (CBS/IBS) que será pago pelos produtos e serviços em geral
– com estimativa que fique em até 27,5%;
0% – para
produtos da cesta básica nacional (ver mais baixo);
Alíquota
reduzida, dividida em duas:
• Redução
de 60% – nas alíquotas dos dois novos impostos unificados em setores como
educação, saúde, produtos agropecuários e outros. O relator também incluiu
nesta alíquota alimentos que farão parte de uma cesta básica estendida (ver
mais abaixo);
• Redução
de 30% – nas alíquotas dos dois novos impostos unificados para profissionais
liberais, como médicos, advogados e arquitetos.
Importante
pontuar que alguns itens da cesta com alíquota reduzida, como mostra o
infográfico abaixo, podem se tornar isentos. A decisão será tomada em lei
complementar, após a promulgação do texto.
A cada
cinco anos será feita uma revisão dos benefícios fiscais desses setores.
O Senado
também incluiu três novos setores em regimes específicos, ou seja, com regras
diferentes do futuro imposto sobre valor agregado. São eles:
• Operações
que envolvam serviços de telecomunicações;
• Serviços de saneamento e concessão de rodovias;
• De agências de viagens e turismo;
• Transporte coletivo de passageiros.
Fim da
cobrança do imposto sobre imposto
O
recolhimento dos impostos se dará no local onde as mercadorias e serviços foram
consumidos. Isso evita a cobrança de tributos sobre tributos.
No jargão
tributário, o imposto não será cumulativo, ou seja, quando um vendedor compra
uma roupa na fábrica, ele vai pagar imposto somente sobre o valor que foi
agregado na fábrica.
Não paga,
por exemplo, imposto sobre a matéria-prima que deu origem à roupa. Isso porque
a fábrica já terá recolhido a sua alíquota quando adquiriu o material do
produtor.
Para o
nosso dia a dia, com esse sistema mais enxuto, será possível colocar nas notas
fiscais o valor da alíquota paga pelo consumidor. Atualmente apenas o ICMS
(estadual) vem com essa descrição na nota.
Portando, o
consumidor vai passar a saber exatamente o quanto paga de impostos aos
governos.
Imposto
seletivo
O imposto
seletivo, chamado de “imposto do pecado”, vai incidir sobre produtos nocivos à
saúde – como cigarros e bebidas – e ao meio ambiente. A alíquota para esse novo
imposto é de 1%.
Estão
incluídos nessa lista a extração de petróleo e de minerais, além de armas e
munições, com exceção das compradas pela administração pública.
O imposto
seletivo não vai mais incidir sobre a Zona Franca de Manaus. O Senado criou uma
Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide) para a região.
Tributação
sobre renda e patrimônio
A reforma
trouxe alterações na cobrança de impostos sobre renda e patrimônio, com
cobrança de IPVA para jatinhos, iates e lanchas, tributação progressiva sobre
heranças e atualizações no IPTU.
Há exceções
na cobrança de impostos para aeronaves utilizadas em serviços agrícolas.
Já a
cobrança do ITCMD será feita no domicílio da pessoa falecida. A medida já gerou
uma corrida aos cartórios em todo o país.
Cesta
básica nacional
Os produtos
da “cesta básica nacional” serão isentos de impostos. Haverá também uma cesta
“estendida”, que vai pagar 60% menos do que o cobrado dos demais setores.
O texto não
esclarece que itens terão imposto zerado e quais pagarão um pouco mais. Esses
produtos devem ser definidos por meio de lei complementar. Além disso, haverá
um mecanismo de cashback, em que parte do dinheiro pago será devolvido.
Cashback na
conta de luz e gás
A proposta
estabelece o uso obrigatório de cashback para reduzir o impacto dos impostos na
conta de luz das famílias de baixa renda. Todos os detalhes ainda serão
definidos por meio de lei complementar.
O Senado
incluiu ainda, nesse mecanismo que prevê a devolução obrigatória de impostos
para um público de baixa renda, o gás de cozinha.
Trava de
crescimento da carga tributária
O texto
incluiu uma trava para impedir que a carga de impostos cresça além da média de
anos anteriores.
Esse valor
será calculado com base na média da receita dos impostos sobre consumo e
serviços no período 2012/2021, apurada em relação ao Produto Interno Bruto.
Isso quer
dizer que se a arrecadação crescer mais do que isso, a alíquota de referência
dos novos tributos será reduzida. Essa apuração será feita de cinco em cinco
anos.
Período de
transição
O texto do
Senado ainda estabeleceu um período de transição para unificação dos tributos
que deve durar sete anos, de 2026 a 2032
A previsão
é que a partir de 2033, os impostos atuais sejam extintos.
Ampliação
do fundo nacional do desenvolvimento regional
A reforma
tributária cria dois fundos com recursos da União:
• Um deles
vai compensar as empresas que ainda teriam direito a benefícios fiscais, como a
isenção de ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias
e sobre Prestações de Serviços)
• Outro
fundo de desenvolvimento regional vai compensar Estados pelas perdas na
arrecadação com as novas regras tributárias. O valor será de R$ 60 bilhões por
ano a partir de 2043.
O Senado
propôs que o Conselho Federativo dos Estados atue somente para monitorar se a
verba do Fundo de Desenvolvimento Regional está sendo dividida segundo as
regras. A intenção é diminuir a ingerência política.
Os
senadores também aprovaram a inserção de uma nova proposta de divisão do fundo,
com 70% dos recursos divididos segundo os critérios do Fundo de Participação
dos Estados e 30% tendo como prioridade os Estados mais populosos do País.
Houve
também a inclusão do Amapá, Acre, Rondônia e Roraima no fundo de
sustentabilidade e diversificação econômica, que antes iria atender apenas o
Estado do Amazonas.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.