Posto de gasolina — Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil (Foto: )
Por André Catto, g1
O preço médio da gasolina aumentou nos postos do país em 2023, enquanto
diesel e etanol tiveram quedas. É o que mostram dados da
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), divulgados na última terça-feira (2).
Veja abaixo como ficou o
acumulado no primeiro ano do governo Lula 3.
- GASOLINA: o
preço médio passou de R$ 4,96 na última semana de 2022 para R$ 5,58 na semana de 24 a 30 de dezembro de 2023. O avanço é de 12,5%.
- ETANOL: encerrou
2022 custando R$ 3,87. Nesta semana, o valor médio encontrado
foi de R$ 3,42 —
recuo de 11,6%.
- DIESEL: fechou o ano passado a R$ 6,25. Agora, está custando, em média, R$ 5,86 — queda de 6,24% no
ano.
Diversos fatores ajudam a
explicar a variação nas bombas. Entre eles, a reoneração dos combustíveis,
a cotação internacional do petróleo, o câmbio e os reajustes de preços
pela Petrobras às refinarias. No caso do etanol, há relação
direta com a safra de cana-de-açúcar. (veja mais abaixo)
Apesar do registro de fortes
variações nos preços em meados de 2023, é possível perceber uma estabilização
na curva de valores a partir de agosto, tanto para a gasolina quanto para o
diesel e o etanol. Veja
no gráfico abaixo.
O que explica as variações
O ano foi marcado pela retomada
de impostos federais sobre os combustíveis. Além disso, exerceram influência
nos preços a cotação internacional do petróleo, o câmbio e os reajustes dos
valores praticados pela Petrobras — que, em 2023, também alterou sua política
de preços.
No caso do etanol, a queda nos
preços foi influenciada principalmente pela boa safra da cana-de-açúcar e pela decisão das usinas de eliminar
estoques, com o intuito de diminuir custos e baratear o combustível.
Veja
o ponto a ponto:
A cobrança de PIS/Cofins
foi retomada integralmente para a gasolina e o
etanol em junho de 2023, ajudando a pressionar os preços dos combustíveis
— especialmente da gasolina — nas bombas. O retorno da cobrança já era
previsto. Em março, inclusive, o governo Lula (PT) já havia aplicado um aumento parcial dos tributos.
A reoneração dos combustíveis
reverteu a decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de zerar em 2022 a cobrança dos impostos federais, em um contexto de
escalada de preços nas bombas e de proximidade das eleições presidenciais. À época, a medida de Bolsonaro foi vista como eleitoreira por economistas e
analistas políticos.
Já o diesel permaneceu com
impostos federais zerados em 2023 — com exceção de quando teve cobranças antecipadas para financiar o
programa de carros populares do governo federal. A retomada integral de PIS/Cofins para o
combustível ocorrerá em 2024.
Para especialistas, apesar da
retomada de tributos, os reflexos nos preços foram moderados.
"Os efeitos da reoneração
foram amortecidos justamente pelo comportamento dos preços do petróleo no
mercado internacional, que caíram", explica André Galhardo,
economista-chefe da Análise Econômica.
- Cotação internacional do petróleo
O barril de petróleo tipo Brent,
referência para o mercado, encerrou 2022 cotado a US$ 85,91. Um ano depois, na cotação de 29 de dezembro de 2023, fechou avaliado
em US$
77,04, o que representa uma queda de 10,3%.
Galhardo lembra que, apesar de
aumentos pontuais, o petróleo seguiu em tendência de desvalorização ao longo do
ano.
"Os aumentos que nós vimos
foram uma resposta ao aquecimento da economia norte-americana e a sinais de uma
retomada mais forte da economia chinesa, o que acabou não se sustentando",
explica, reforçando que a China não decolou e que os EUA ainda têm dados
"incipientes".
O economista também destaca a
influência da Opep, grupo de países produtores e exportadores de petróleo, na variação dos
preços.
"Em reunião no fim de
novembro, a Opep anunciou novos cortes na produção, mas não da forma que alguns
membros gostariam. Não houve consenso, e o tiro saiu pela culatra: a produção
continua elevada, e o preço da commodity caiu", diz.
Vale lembrar que diminuir a
oferta é um artifício usado pelo grupo para encarecer a commodity: menos petróleo no mercado significa, na
prática, maior valorização do produto.
- Mudança na política de preços da Petrobras
A cotação do petróleo no mercado
internacional influencia diretamente os preços praticados pela Petrobras e,
consequentemente, os valores encontrados nas bombas. Ou seja, quanto mais valorizada a commodity, maior
tende a ser o custo dos combustíveis nos postos.
Essa influência era ainda mais
evidente quando a Petrobras seguia a política de paridade internacional (PPI),
que reajustava o preço dos combustíveis com base nas variações do dólar e da
cotação do petróleo no exterior.
A petroleira, em maio de
2023, anunciou a alteração dessa política. A mudança definiu que seus preços às
distribuidoras passaram a estar no intervalo entre:
- o
maior valor que um comprador pode pagar antes de querer procurar outro
fornecedor;
- e o menor valor que a Petrobras pode
praticar na venda mantendo o lucro.
À época, analistas ouvidos
pelo g1 consideraram o novo modelo confuso e pouco transparente. Na prática, porém, o entendimento era de
que o consumidor final seria beneficiado, justamente porque a estatal passaria a segurar os
repasses das oscilações do dólar e do petróleo.
Vale lembrar que os valores
praticados pela petroleira não são os mesmos dos postos de combustíveis. Os
preços nas bombas também levam em conta os impostos e a margem de lucro das
distribuidoras e revendedoras.
Apesar do aumento dos preços nos
postos em 2023, a Petrobras informou que, ao longo do ano, a gasolina teve
ajustes para baixo nas refinarias, com o litro ficando R$ 0,27 mais barato — queda de 8,7% no período. Já o diesel recuou R$ 1,01 o litro, uma retração de 22,5%, segundo a petroleira.
Mas o que, então, explica o
aumento nos postos?
Ricardo Balistiero, professor de
economia do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), afirma que os movimentos mais
fortes de alta ocorreram no meio do ano, com a retomada de impostos sobre os
combustíveis — apesar da suavização de preços com o mercado externo mais
positivo.
"Foram dois momentos
cruciais de alta. Mas, depois disso, verificamos até uma redução. Então, não
vejo nenhum tipo de pressão que preocupe quanto ao comportamento da
gasolina", diz.
O câmbio também favoreceu os
preços dos combustíveis em 2023. "A moeda brasileira se valorizou em 2023.
Isso é bom inclusive para a Petrobras, porque abre margem para cortes de
preços", diz André Galhardo, da Análise Econômica.
Em 2023, a moeda
norte-americana registrou
queda de 8,06% frente ao real, cotada a R$ 4,8525.
"O ano de 2023 foi muito
positivo para os preços dos combustíveis no Brasil, especialmente se
compararmos com 2022, quando tivemos o conflito entre Rússia e Ucrânia e a
forte taxa de câmbio", compara Ricardo Balistiero, do IMT, reforçando que
não houve eventos de grande impacto para os combustíveis no ano.
Em 2023, o preço do etanol foi
influenciado principalmente pela boa safra da cana-de-açúcar e pela prática de
preços mais baixos pelas usinas, que buscaram diminuir estoque, aumentar a
oferta e tornar o etanol mais vantajoso, explica Ricardo Balistiero, do IMT.
"A queda do etanol,
especialmente nos últimos meses, ocorre exatamente pelo movimento de desovar
estoque, tornando o etanol mais atrativo do que a gasolina, pensando na regra
dos 70% — que considera o etanol mais vantajoso quando está custando até 70% do preço da
gasolina", diz.
"Ou seja, existe o custo do
estoque [que incentiva a venda do produto a preços menores], além de uma safra
muito boa. Isso possibilita a redução nos postos de combustíveis."
Sabe
qual combustível está valendo mais a pena? Confira na calculadora do g1:
- Como funciona a calculadora?
O
cálculo médio é feito a partir do preço e do rendimento de cada combustível. Com a oscilação dos valores da gasolina e do
etanol nos postos, a opção mais vantajosa pode variar.
Segundo especialistas, o etanol vale mais a pena quando está custando até 70% do preço da
gasolina. Entenda o cálculo.
O que esperar para 2024
A equipe econômica do governo
não prevê impostos federais reduzidos sobre combustíveis em 2024. A informação
consta na proposta de Orçamento do ano que vem e foi confirmada pela Secretaria da Receita Federal
ao g1.
Apesar do fim de benefícios
fiscais para gasolina, etanol e querosene de aviação já em 2023, as alíquotas
seguirão reduzidas até o último dia deste ano para o diesel, biodiesel e para o
gás de cozinha (GLP).
Com o fim da desoneração,
portanto, esses produtos terão impostos elevados no começo de 2024. Caso os
valores sejam repassados, haverá aumento de preços aos consumidores — com
impacto na inflação.
- No
caso do diesel, o reajuste tende a impactar de uma forma geral os preços
da economia, pois o combustível é utilizado no transporte de cargas pelo
país, assim como no transporte público.
- O aumento da tributação do gás de
cozinha, por sua vez, tende a afetar não somente a população de baixa
renda, mas também a classe média e os preços cobrados pelos restaurantes.
Para 2024, também está projetado
o aumento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), um
tributo estadual.
A alta será de 12,5% nas alíquotas do imposto sobre a
gasolina, o diesel e o gás de cozinha. A decisão foi publicada em 20 de outubro, e passará a valer em 1º de
fevereiro de 2024.