Fabricio
Queiroz é escoltado ao chegar no Rio.SILVIA IZQUIERDO / AP
DANIEL HAIDAR
São Paulo - 18 JUN
2020 - 14:21 BRT
Promotores do Rio de Janeiro dizem
ter obtido provas de que o ex-policial militar e ex-assessor da família
Bolsonaro Fabrício Queiroz pagou mensalidades escolares das filhas
do senador Flávio Bolsonaro. Queiroz foi preso nesta quinta-feira, a pedido dos Ministério Público do Estado do Rio
de Janeiro, em uma casa em Atibaia, no interior de São Paulo, pertencente ao
advogado Frederick Wassef, que representa o presidente Jair Bolsonaro e Flávio em processos. O ex-policial e o
senador são investigados pela suspeita de que desviaram verbas salariais
públicas de funcionários do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio
(Alerj), no esquema conhecido como
“rachadinha”.
Ao solicitar a prisão de Queiroz, os
promotores apresentaram à Justiça novos fatos que sustentam a tese do
Ministério Público de que o ex-policial atuava como uma espécie
de operador financeiro de Flávio,
entre eles a quitação das mensalidades escolares. Os investigadores obtiveram
imagens em vídeo de Queiroz fazendo pagamentos no caixa de um banco, que pelo
horário, pela data e pelos valores, foram feitos, ao menos, para o pagamento
das mensalidades escolares de outubro de 2018 das filhas do então deputado
estadual e atual senador. Outros pagamentos de mensalidades também são
investigados. Como os valores dos pagamentos de Queiroz coincidiam com os
custos financeiros das mensalidades, além de existir coincidência do horário
das imagens de Queiroz e do horário da quitação dos boletos, os promotores
avaliaram que Queiroz foi o responsável por eles. “As provas não deixam dúvida
de que Queiroz pagou as mensalidades”, diz um promotor envolvido na
investigação.
Queiroz foi chefe de gabinete de
Flávio na Alerj e era amigo do presidente Jair Bolsonaro
desde os anos 80. O ex-assessor chegou a admitir em
carta à Justiça que ficava com parte dos salários dos servidores do gabinete de
Flavio Bolsonaro, mas nunca esclareceu se o chefe tinha conhecimento. O
pagamento das mensalidades apontado pelo Ministério Público é mais um elemento
que aponta para a tese de que Queiroz não operava o esquema para si, segundo os
investigadores. O filho primogênito do presidente nega ter cometido qualquer
irregularidade. Nesta quinta, disse considerar a prisão de Queiroz mais um
movimento de ataque ao pai.
“Não
imaginava que isso pudesse acontecer comigo”
A prisão preventiva de Queiroz e de sua mulher, Marcia Aguiar, ainda foragida, foram pedidas pelo Ministério
Público à Justiça do Rio sob o argumento de que eram necessárias para que eles
não prejudicassem o andamento das investigações. De posso da ordem de prisão, a
operação que prendeu Queiroz começou às 4h30 na sede do Grupo de Atuação
Especial de Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público de São Paulo. De
lá saíram promotores, policiais civis e três advogados da comissão de
prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil. Ao chegar na casa de Frederick
Wassef, em Atibaia, os policiais tiveram de arrombar a porta de entrada com um
aríete profissional. Só na quarta-feira os promotores constataram que o refúgio
de Queiroz pertencia ao advogado Wassef, segundo afirmam os investigadores. Ao
receber ordem de prisão, de acordo com investigadores, Queiroz comentou:
“Depois de mais de 30 anos como policial, eu não imaginava que isso pudesse
acontecer comigo”.
Além da batida no interior de São
Paulo, os promotores também fizeram, nesta quinta, buscas em seis endereços
ligados ao senador e ao ex-policial no Rio. Além da nova questão das
mensalidades, o MP-RJ também investiga se o senador usou sua loja franqueada da
rede Kopenhagen para camuflar recursos desviados dos salários de funcionários
de seus gabinetes.
A promotoria fluminense também apura
se o dinheiro público desviado do
gabinete de Flávio, quando ele era deputado estadual,
também foi usado para que o senador adquirisse imóveis. O papel de Queiroz é
considerado crucial no esquema da “rachadinha”, porque a investigação obteve
indícios de que era o ex-policial quem coletava dinheiro em espécie, sacado
pelos outros funcionários do gabinete, e depositava de acordo com os interesses
de Flávio.