A Polícia Civil do Pará deflagrou na manhã, desta quarta-feira, (01),
no município de Santana do Araguaia, região sul do estado, a operação
"Indignus Notarius". A ação prendeu uma pessoa por porte ilegal de
arma e cumpriu 13 mandados de busca e apreensão no "Cartório Varão'' e
nas residências dos donos do estabelecimento, investigado pela cobrança de
valores abusivos e gratificações ilegais recebidas pelos serviços prestados.Foram
apreendidos documentos, objetos pessoais dos investigados e três espingardas
sem registro, o que motivou a prisão em flagranteOs mandados
judiciais foram executados em desfavor do grupo familiar "Varão",
titular da delegação vitalícia do Cartório Único de Santana do Araguaia.
Foram sete mandados de busca e apreensão; seis, de medidas cautelares
pessoais diversas da prisão, entre elas, há desde o afastamento provisório
das funções a proibições de acesso às dependências do Cartório e de contato
com usuários e funcionários. Na representação policial foi requerida ainda a
designação de um interventor para responder interinamente pelo cartório
enquanto durarem as investigações.
A investigação teve início após um cliente ter relatado à esposa dele,
por telefone e em voz alta, numa área comum de um hotel do município, que
estava revoltado com a conduta de funcionários do cartório local pela
cobrança de R$ 2.400,00, para registrar uma Cédula de Crédito Bancário (CDB)
no valor aproximado de R$ 117 mil, referente a produtos agrícolas.
O referido cliente, no entanto, não sabia que uma das pessoas ao lado,
na ocasião, era o delegado de polícia da cidade. Logo que o homem encerrou a
ligação, ele foi abordado pelo delegado que se identificou, questionou o
ocorrido e em seguida, intimou o cliente do cartório a prestar declarações
formais.
Na delegacia, o cliente informou que após ter negociado com um dos
filhos da Oficiala Vitalícia, o valor inicial de R$ 2.400,00, foi
"arredondado" para R$ 2.000,00, e que ao solicitar o recibo ao
escrevente, esse teria, inclusive, retrucado: "para que você quer
recibo?".
A Polícia Civil apurou que, neste caso em específico, o valor das
custas e emolumentos constante na tabela do Tribunal de Justiça do Estado do
Pará é de R$ 423,00, bem inferior a R$ 2.000,00.
Coordenador da operação e titular da Delegacia de Polícia Civil de
Santana do Araguaia, o delegado Diego Máximo informou que "apenas uma
das vítimas teria pago a quantia aproximada de R$ 500 mil, no ano de 2012,
para o registro de um loteamento''.
A polícia solicitou à Justiça a designação de um
interventor que responda interinamente pelo cartório durante as investigações"Outras
vítimas também foram identificadas e relataram que os filhos da delegatária
quando discordavam do valor declarado ou fiscal dos imóveis que lhes eram
apresentados para serem escriturados e registrados, recusava-nos, alegando
que o cartório teria o poder de atribuir o valor 'real' aos imóveis objetos
de negociações, independente do valor declarado no contrato ou constante nas
guias tributárias municipais", acrescentou o delegado Diego Máximo.
A operação ocorreu com apoio da 13ª Superintendência Regional da
Polícia Civil, Polícia Militar e Ministério Público. Foram apreendidos
documentos, objetos pessoais dos investigados, relevantes para a elucidação
dos fatos, além de três espingardas sem registro, motivo pelo qual um dos
envolvidos foi preso em flagrante.
"As condutas praticadas pela mãe, de 83 anos, e os seus três
filhos, podem caracterizar os crimes de excesso de exação qualificada,
estelionato, falsidade ideológica, falsificação de selo ou sinal público,
crimes contra a ordem tributária, associação criminosa e lavagem de dinheiro,
cujas penas ultrapassam os 50 anos de reclusão'', informou o delegado.
A operação ocorreu com apoio da 13ª Superintendência
Regional da Polícia Civil, Polícia Militar e Ministério PúblicoA Polícia Civil
também representou junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará pela
instauração de procedimento administrativo-disciplinar, além de instaurar um
segundo procedimento para apurar a prática de atos de improbidade
administrativa. O Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado também
foram notificados para acompanhar as apurações.
A Polícia Civil orienta a todas as pessoas que tenham sido vítimas de
cobranças abusivas pelo Cartório Varão nos últimos 10 anos, que procurarem a
Delegacia de Santana do Araguaia o mais breve possível e apresentem
documentos relacionados ao fato, em especial, os comprovantes de pagamentos
ou extratos bancários, os recibos e os documentos referentes a serviços
realizados no cartório, como registros, certidões etc.
De acordo com a polícia, os investigados podem ser condenados a
ressarcir os prejuízos causados, mas possivelmente apenas as vítimas que
procurarem a Delegacia ou que ingressarem com ações judiciais individuais
serão contempladas na condenação indenizatória.
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