Prisão de Joãozinho “Pé de Cobra” na operação Spectrun (Foto: )
Uma organização criminosa que
transportou 8 toneladas de cocaína entre 2017 e 2018 para o exterior e recebeu
como pagamento pelo menos US$ 3,4 milhões em dinheiro vivo. Quem liderava esse
grupo? Segundo as investigações que serviram de base à Operação Flak,
da Polícia Federal do Tocantins (PF-TO), era João Soares Rocha, de 64 anos.
“Rochinha” ou “Joãozinho Pé de Cobra”, como também
é conhecido o chefe da organização, teria se tornado uma mistura de
narcotraficante e pecuarista – um “narcopecuarista” – com atuação sobretudo no
sudeste do Pará, onde sua família possui mais de uma dezena de imóveis rurais,
alguns sobrepostos a Projetos de Assentamento (PAs) da Reforma Agrária e a uma
área de proteção ambiental (APA).
Rocha, apontam as investigações,
teria ganhado muito dinheiro com o transporte de entorpecentes e investido
parte dos valores na compra de gado para venda a frigoríficos, um expediente comum na lavagem de
dinheiro, especialmente em estados produtores
de gado, de acordo com o presidente da Associação
Nacional de Peritos Criminais Federais (APCF),
Marcos Camargo.
Como a investigação da PF-TO não
tinha como objetivo descobrir para quais frigoríficos o gado foi vendido,
a Agência Pública traçou
o caminho dos animais em oito fazendas relacionadas a Rocha, alvos de busca e
apreensão e sequestro judicial no âmbito da Flak. A partir de Guias de Trânsito
Animal (GTAs) obtidas pela reportagem, é possível afirmar que entre janeiro de
2018 e julho de 2020 tanto a JBS quanto a Frigol receberam para abate 2.505
animais de duas dessas propriedades.
A GTA é exigida por lei para cada transporte de
gado, mas não é um documento público. Nela devem constar origem e destino do
animal, nome, CNPJ ou CPF do vendedor e do comprador do lote bovino, controle
de doenças, quantidade e faixa etária e se a movimentação tem como finalidade a
criação, a engorda ou o abate.
Os documentos analisados mostram também que outras
cinco fazendas da família de Rocha transportaram bois entre si ou para
propriedades de terceiros, com a finalidade de engorda, para que posteriormente
fossem fornecidos aos dois frigoríficos.
De acordo com dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do Pará, vários dos imóveis da família são próximos entre
si. Todos ficam nos municípios paraenses de Tucumã, Ourilândia do Norte e São
Félix do Xingu – cidade com o maior rebanho bovino do país. Nas três cidades, a Comissão Pastoral da Terra
(CPT) registrou ao menos 34 conflitos por terra em 2020.
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