por Paulo Jordão
06/07/2021
em Polícia
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Começa no próximo dia 15 deste mês a
fase de instrução do processo e o interrogatório, na Justiça Militar, das
testemunhas e dos quatro policiais militares acusados de sequestro, tortura e
morte do jovem Mateus Gabriel da Silva Costa, de 18 anos, desaparecido há 5
meses após uma abordagem policial, em Xinguara, na Região do Araguaia, sudeste
paraense. Os acusados são os cabos da PM André Pinto da Silva, Dionatan João
Neves Pantoja, Wagner Braga Almeida e Ismael Noia Vieira, que estão presos
preventivamente desde o dia 31 de março deste ano, por determinação do juiz
Lucas do Carmo de Jesus, da Vara Única da Justiça Militar do Pará.
Mais de 30 testemunhas estão
arroladas no processo. Os quatro policiais são acusados pelos crimes de
sequestro, tortura e morte do rapaz, fato ocorrido no dia 3 de fevereiro deste
ano, em uma rua daquele município, onde a vítima foi presa, à noite, levada do
local e nunca mais foi vista. Na manhã de 5 de fevereiro deste ano, depois de
36 horas sem ver o filho, a mãe, Zely Aparecida Ribeiro da Silva registrou na
Delegacia de Polícia de Xinguara o desaparecimento dele. O jovem está
desaparecido desde aquela data.


O juiz na época atendeu a denúncia
apresentada pelo promotor de justiça militar, Armando Brasil. Também a pedido
de Armando Brasil, o juiz autorizou a busca e apreensão dos celulares
pertencentes aos denunciados, com acesso imediato aos dados relacionados aos
seus conteúdos, incluindo acesso a conversas de aplicativos de comunicação, fotografias,
áudios, inclusive o que estiver em “nuvem”, do que for de interesse da
investigação.
O inquérito policial foi instaurado
pelo delegado José Orimaldo Farias, da Polícia Civil de Xinguara. O delegado
iniciou as investigações e descobriu que no dia do seu desaparecimento, por
volta de 23h30, o jovem foi preso por policiais militares no beco da Baiana,
que liga a rua Gorotire com a rua Duque de Caxias, na sede do município. Em
depoimento à polícia, os moradores Maria Helena da Silva Lopes, Lucas da Silva
Lima e os irmãos Franciel e Francilei da Silva Caixeta e Wdson Francisco Abreu
dos Santos, além de um menor de idade, falaram que o jovem foi visto saindo de
um jogo de futebol, com um amigo na garupa da moto, e sendo perseguido,
interrogado e agredido pelos policiais militares.
Imagens
mostram viatura da PM
Câmeras de segurança de prédios
comerciais e de residências localizadas pela Polícia Civil mostram Matheus
Gabriel Costa, por volta de 00:20 da madrugada de 4 de fevereiro, deixando o
carona da moto na casa dele (amigo), tendo em seguida partido pela rua Gorotire.
As imagens também mostram ele sendo seguido por uma viatura da PM até o beco.
Em outra imagem é possível ver, segundo a denúncia, a mesma viatura passando
novamente pela rua Gorotire, por volta de 00h36 daquela madrugada, desta vez
com o jovem dentro, sendo agredido.
Constam ainda do processo imagens de
uma câmera instalada na casa de um morador da rua Gorotire, que revelam que,
por volta de 00:41h, uma viatura da PM passa pelo local, acompanhada de duas
motocicletas. Diante de dificuldades enfrentadas pelo delegado de Xinguara,
houve pedido de auxílio à Delegacia de Homicídios de Marabá, cujo delegado,
Toni Rinaldo Vargas, obteve novos elementos comprobatórios do envolvimento dos
quatro militares nos crimes.
No local de crime foi possível ter a
percepção do ambiente dos acontecimentos narrados pelas testemunhas, assim como
notória a possibilidade da captação de gritos e pedidos de socorro, o que foi
de forma unânime apresentado pelas pessoas inquiridas.



Violência
para extração de informações
“Da análise dos elementos, concluiu a
autoridade policial, conclusão esta compartilhada por este órgão ministerial,
na presente peça exordial acusatória, que, de fato, na data de 03/02/2021, a
vítima cruzou com a viatura policial e, tendo sido vista, a GU começou
acompanhamento para abordagem devido à utilização de cano de escapamento de
motocicleta aberto, popularmente conhecido como “cadron”, que produzia
excessivo ruído”, diz a denúncia de Armando Brasil.
O promotor percebeu que “tais rotas
foram consubstancias em degravação das imagens captadas pelas câmeras de
vigilância colhidas pela equipe policial local, as quais demonstram claramente
o acompanhamento da viatura policial à motocicleta pilotada por Mateus Gabriel
da Silva Costa, o qual, ao entrar no beco, com a finalidade de fuga, acabou por
ser capturado pela GU em questão”.
Há também áudios da dinâmica dos
fatos, gravados por pessoa não identificada, que foram compartilhados em
diversos grupos de WhatsApp de moradores da região, que foram colhidos e
degravados pela equipe da Delegacia de Homicídios de Marabá. “Por sua escuta
percebe-se violência para extração de informações, ao que parece, acerca de
drogas, o que teria perdurado por cerca de vinte minutos, conforme testemunhas,
demonstrando, assim, atos de verdadeira tortura para com a vítima em questão”,
aponta a denúncia.
Testemunhas anônimas, que mantiveram
as identidades preservadas, afirmaram que a abordagem policial realizada em
Mateus Gabriel Costa teria sido por excessivo ruído da moto e suspeita de roubo,
além dos policiais militares perguntarem onde o jovem teria se “desfeito de
drogas”. Estas testemunhas, num depoimento mais esclarecedor, afirmam que
escutaram muitas agressões, gritos, gemidos, pedidos para parar, inclusive com
barulho da utilização de instrumento que foi chamado de estaca (pedaço de
madeira) por cerca de 20 minutos.
Por fim, segundo as testemunhas, o
rapaz foi colocado no camburão, a motocicleta saiu na frente, pilotada por um
policial militar e a viatura seguiu atrás, saindo do beco da Baiana com destino
à rua Raul Bop, em direção à BR 155.
Nunca mais o jovem foi visto. Também
a moto sumiu.
Fonte VER O FATO