A morte de pessoas inocentes vitimadas por balas perdidas
nas comunidades das grandes cidades, expõe para o mundo uma
triste realidade, de violência e dor.
Enquanto discutimos de onde saíram os tiros que mataram essas vítimas
inocentes, matando com elas os sonhos e esperanças de suas famílias,
esquecemos de discutir outro fato tão importante quanto: Por que armas de
guerra estão sendo utilizadas em áreas urbanas? Seja na mão de criminosos ou
mesmo de policiais.
Alguns certamente dirão que essas armas estão ali pois estamos em estado
de “guerra” ou que os traficantes estão mais bem armados que a polícia, entre
tantos outros argumentos, mas será que tudo se resume a isso? Devemos então
nos conformar com tal situação e esperar que um dos lados desta guerra vença?
Preferencialmente o lado do Estado organizado, é logico.
Agora falando em Estado como ente cuidador e garantidor da segurança
publica, o que ele tem feito de efetivo para prover a paz nos principais
centros do Brasil?
No que cabe ao governo Federal nas últimas décadas, infelizmente o
saldo é negativo, tornando-o o grande vilão da Segurança Pública em todo o
Brasil, pois se mostrou incapaz de impedir que drogas, armas e munições
atravessem as nossas fronteiras, nossas estradas, portos e aeroportos e
cheguem as comunidades dominadas pelo tráfico de drogas, possibilitando a
morte de crianças e vítimas inocentes.
Quanto aos governos estaduais, a falta de investimentos em tecnologia
de inteligência e investigação, juntamente com a falta de combate as
Organizações criminosas compostas em sua maioria por políticos, empresários e
policiais corruptos, faz com que o tráfico de drogas domine cada vez mais
territórios, deixando refém milhares de brasileiros que hoje vivem à margem
do Estado legalmente constituído.
Diante da omissão dos Governos Estaduais e Federal, os nossos
governantes ainda veem como saída a intensificação da política de
enfrentamento armado nas comunidades, contrariando os dados históricos que
comprovam que essa política de enfrentamento praticada a décadas em alguns
estados, nunca reduziu os índices de criminalidade e violência.
E infelizmente, enquanto a Segurança Pública não for tratada como
ciência e sem servir de palanque para alavancar eleições, continuaremos
vivendo esta triste realidade de crianças e trabalhadores inocentes mortos
por balas “perdidas” e pela confusão, omissão e descaso das autoridades;
continuaremos vivenciando essa triste realidade de uma guerra que, de fato,
só existe pois beneficia alguns em detrimento de milhões, e da dor sofrida por
toda a sociedade que agoniza a cada nova ferida que surge sem sequer curar a
anterior.
Prof. José Ricardo Bandeira
É Perito em Criminalística e Psicanálise Forense, Comentarista e
Especialista em Segurança Pública, com mais de 1.000 participações para os
maiores veículos de comunicação do Brasil e do Exterior. Presidente do
Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina,
Presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa
do Brasil, membro ativo da International Police Association e
Presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de
Imprensa.
|