O Ministério Público Federal (MPF) aguarda há mais
de 15 dias por informações das autoridades sobre as investigações do
assassinato dos ambientalistas José Gomes, Márcia Nunes Lisboa e a filha deles,
Joene Nunes Lisboa, encontrados mortos no dia 10 de janeiro em São Félix do
Xingu, no sudeste do Pará. Um mês depois, o crime permanece sem respostas.
O MPF enviou em 14 de janeiro pedidos de
informações ao Núcleo de Apoio a Investigações da Polícia Civil, à Delegacia de
Homicídios e à Polícia Militar do Pará. Apenas a PM respondeu aos ofícios,
informando que ofereceu proteção policial aos familiares das vítimas da
chacina. Sobre as investigações, o silêncio permanece.
Entidades de defesa de direitos humanos também
pediram informações às autoridades estaduais sem receber resposta. A Comissão
de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns enviou ofício à
Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) e ao chefe da Casa Civil
pedindo a apuração célere e eficiente, com equipe técnica qualificada e recursos
disponibilizados.
A Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos
(SDDH) também pediu, em ofício ao delegado-geral da Polícia Civil, que fossem
disponibilizados os recursos necessários para a investigação e que as
providências adotadas fossem informadas. Não houve nenhuma resposta.
Federalização
Em reunião nesta quarta-feira (9), as entidades
alertaram o MPF sobre o silêncio das autoridades estaduais a respeito do crime
e novas providências podem ser adotadas. Não está descartada a hipótese de um
Incidente de Deslocamento de Competência (IDC), figura jurídica que prevê,
excepcionalmente em caso de omissão das autoridades estaduais, que o caso passe
a ser investigado na esfera federal.
Em outra frente, o MPF também abriu procedimento
específico para apurar por que a Secretaria de Segurança Pública do Pará deixa
de responder os pedidos de informação feitos por entidades defensoras de
direitos humanos. No ano passado, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a SDDH
já tiveram documentos deixados sem resposta pelas autoridades estaduais.
Levantamentos da CPT nas últimas quatro décadas
apontam para o assassinato de 62 trabalhadores rurais e lideranças em conflitos
de terra no município de São Félix do Xingu e até agora nenhum dos casos foi
resolvido pelas autoridades do sistema de Justiça.
Em relatório do ano passado, da organização não
governamental Global Witness, o Brasil aparece como o 4º país do mundo com
maior número de ambientalistas assassinados. No procedimento que abriu para
acompanhar o caso, o MPF deve cobrar das autoridades providências e
investigações céleres sobre os crimes desta semana.
Entenda o caso
A família de José Gomes, conhecido como Zé do Lago,
vivia há mais de 20 anos na localidade conhecida como Cachoeira da Mucura e
desenvolvia um projeto ambiental de proteção de quelônios, repovoando as águas
do Xingu com filhotes de tartarugas todos os anos. Eles foram mortos a tiros.
Para o MPF, os fatos são de extrema gravidade e se
inserem em um contexto de reiterados ataques a ambientalistas e defensores de
direitos humanos no país. De acordo com a imprensa, os fatos são investigados
pela Divisão de Homicídios do município de Marabá e pelo Núcleo de Apoio à
Investigação da Polícia Civil de Redenção e são acompanhados por órgãos de
proteção aos direitos humanos, como a Anistia Internacional.
(Fonte: Ascom
MPF)