Com contornos cada vez mais sombrios, o caso do desaparecimento de oito pessoas de uma mesma família do Itapoã ganhou novos detalhes nessa terça-feira (17/1). A divulgação, por parte da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), do depoimento de um dos presos jogou luz a diversas questões até então sem explicação.
A cabeleireira Elizamar da Silva, 39 anos, foi a primeira a desaparecer, na semana passada, com os três filhos pequenos. Dois dias depois de o sumiço ter sido comunicado, a polícia encontrou dois carros em nome de duas pessoas da família. Os veículos estavam carbonizados e, ao todo, tinham seis corpos dentro.
Após investigações, a polícia apura se a morte teria sido encomendada pelo marido de Elizamar, Thiago Gabriel Belchior, 30, e pelo sogro dela, Marcos Antônio Lopes de Oliveira, 54. Os dois estão desaparecidos desde a descoberta do caso, que teria ocorrido para subtração de R$ 500 mil de duas das pessoas desaparecidas.
Os policiais suspeitam de que Thiago Gabriel e Marcos Antônio queriam matar Elizamar e os filhos dela, além de Renata Juliene Belchior, 52, e Gabriela Belchior de Oliveira, 25 — sogra e cunhada da cabeleireira, respectivamente. As três mulheres e as crianças chegaram a ser mantidas em cativeiro. Até o momento, a PCDF prendeu três suspeitos de envolvimento com o crime.
Para ajudar no entendimento do caso, o Metrópoles criou uma linha do tempo, que se inicia na quinta-feira (12/1), quando a cabeleireira Elizamar da Silva, 39 anos, sumiu acompanhada dos três filhos, até as prisões dos executores, nessa terça-feira (17/1).
Quinta-feira
(12/1)
Na noite de quinta-feira (12/1), Elizamar deixou o salão do qual era
dona, na 307 Norte, com os filhos e uma funcionária.
A colaborador pegou carona até uma parada de ônibus e, por volta das
22h, informou à patroa que havia desembarcado do transporte público. Nesse
momento, a cabeleireira respondeu que chegava ao condomínio da sogra, no
Itapoã.
Quarenta minutos depois, a funcionária voltou a se comunicar com a
empresária, mas não obteve mais resposta.
O filho mais velho de Elizamar confirmou à polícia que a mãe passou pelo
condomínio da sogra para buscar o marido e acrescentou que Thiago Gabriel se
desentendeu com a companheira. Depois disso, não se teve mais notícias da
mulher e dos três filhos.
Um dos executores do bárbaro crime, identificado como Horácio Carlos
Ferreira Barbosa, 49, disse à PCDF, no entanto, que o plano inicial era
sequestrar a mulher. Porém, quando Elizamar chegou à casa da sogra, eles
mudaram de ideia ao perceberem que ela estava com os filhos pequenos. Neste
momento, os quatro foram amordaçados e levados do local. Thiago, então, teria
tentado acalmar as crianças, mas, em determinado momento, a situação saiu de controle e
ele acabou asfixiando os meninos e a menina.
Sexta-feira
(13/1)
Na sexta, a polícia encontrou um carro carbonizado, semelhante ao da
cabeleireira, com quatro corpos dentro.
Foi nesse mesmo dia que Thiago, a irmã e os pais teriam sumido. Pelo
menos foi isso o que o próprio Thiago fez parecer, ao dizer no grupo da família
no WhatsApp que eles foram a uma vaquejada na noite do desaparecimento.
A última comunicação foi um áudio enviado por volta das 21h30, no qual
Renata disse estar na vaquejada com a família e que voltaria no dia seguinte,
sábado (14/1). Pouco depois, no entanto, os familiares teriam parado de atender
o telefone.
Horácio disse em depoimento, entretanto, que Renata e a filha teriam
sido mantidas pelos autores do crime em cativeiro, na região do Vale do
Amanhecer, em Planaltina. Marcos teria, inclusive, roubado o celular delas e
respondido mensagens de texto a fim de se passar pelas mulheres. Vendadas,
ambas eram ameaçadas constantemente, inclusive com violência psicológica.
Segunda-feira (16/1)
Na madrugada de segunda-feira (16/1), na BR-251, a polícia encontrou
outro veículo carbonizado, com duas pessoas dentro. O automóvel está no nome do
pai de Thiago Gabriel, Marcos Antônio.
De acordo com Horácio, os dois cadáveres seriam de Renata – mãe de
Thiago – e Gabriela Belchior, irmã dele.
Terça-feira (17/1)
Três autores do crime são presos. Além de Horácio, Gideon Batista de
Menezes, 55, foi apontado como um dos executores. No fim da noite, um terceiro
envolvido, identificado como Fabricio Silva Canhedo, 34, acabou preso pela
PCDF. Os envolvidos receberiam R$ 100 mil pelas mortes encomendadas – um
montante de cerca de R$ 15 mil já estava em posse deles. O dinheiro foi apreendido
pelos investigadores.
Segundo relatado por Horácio, o crime teria motivação patrimonial, e o
dinheiro em questão seria da venda de um terreno da esposa de Marcos, Renata
Juliene Belchior, 52, no valor de R$ 400 mil. Outros R$ 100 mil eram de Elizamar.
Thiago teria fugido com o pai, Marcos, que ainda estava na companhia da
amante, identificada como Cláudia, e a filha dela, de nome Ana Beatriz. Thiago
já tinha um mandado de prisão em aberto, por receptação, e é considerado
foragido da Justiça pelo crime. Marcos é procurado para prestar esclarecimentos
sobre os seis corpos encontrados, que seriam de Elizamar, dos três filhos dela,
e de Renata e Gabriela.