Polícia começa a montar o quebra-cabeças para elucidar a chacina que chocou o país, envolvendo dez pessoas de uma mesma família (Foto: )
Brasília – A
Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a de Goiás (PCGO) trabalham em
conjunto para desvendar o caso do sumiço de dez pessoas de uma mesma família
desaparecidas desde a quinta-feira (12), quando foram vistos pela última vez.
As autoridades estão montando um quebra-cabeças para desvendar a chacina que
resultou nas mortes de pelo menos sete dos dez desaparecidos. O trabalho
policial teve início no final de semana passado após o registro de
desaparecimento feito pelo filho mais velho de uma cabeleireira na 6ª Delegacia
de Polícia (Paranoá), no Distrito Federal.
Começava aí uma história sem paralelo da crônica
policial do Brasil. A família que sumiu no DF havia ido a uma vaquejada e
desapareceu.
Entenda
o caso desde o desaparecimento até o cadáver decapitado
O caso de desaparecimento de 10 pessoas, todas da
mesma família, teve várias reviravoltas e, enquanto a polícia investiga o que
ocorreu, três suspeitos já foram presos, um confessou seis assassinatos.
O caso começou na sexta-feira (13), com o
desaparecimento da cabeleireira Elizamar da Silva, e dos três filhos dela, os
gêmeos Rafael e Rafaela da Silva, de 6 anos, e Gabriel da Silva, 7, que se
transformou, ao longo da investigação da Polícia Civil, em uma das maiores
chacinas registradas no Distrito Federal e chocou o país pelos requintes de
crueldade que foram sendo revelados no andamento das investigações.
Vítimas e suspeitos da chacina
Até o início da noite da quarta-feira (18), sete
corpos relacionados ao crime foram encontrados: seis carbonizados dentro de
dois veículos — um que pertencia a Elizamar; e outro a Marcos Antônio Lopes,
sogro dela — e um, do sexo masculino, que estava decapitado e com marcas de
violência.
Três homens foram presos por envolvimento com o
caso e um deles confessou o assassinato de seis pessoas da família. Ainda há
quatro desaparecidos e nenhuma linha de investigação foi confirmada.
O Blog do Zé Dudu acompanha
o desenrolar das investigações, o passo a passo da polícia. Leia o que se sabe
até o momento, organizado em ordem cronológica:
Quinta-feira
(12) — Elizamar e os filhos foram vistos pela última vez
Moradores da cidade de Santa Maria, no Distrito
Federal, a cabeleireira Elizamar e três dos quatro filhos dela foram vistos
pela última vez na quinta-feira (12), no salão de beleza dela, situado na 307
Norte, em Brasília. A mulher deixou o local por volta das 21h20 com os três
filhos.
Elizamar deu carona para uma funcionária até uma
parada de ônibus. A trabalhadora foi quem afirmou à polícia que, às 22h, a
cabeleireira a informou que estava chegando no condomínio dos sogros, Marcos
Antônio e Renata Belchior, em Itapoã, uma cidade satélite do DF.Segundo o filho
mais velho da cabeleireira, de 23 anos — que não teve o nome revelado, mas foi
quem deu a queixa de desaparecimento na polícia —, ela foi até a casa dos
sogros buscar o marido, Thiago Belchior, 30, que ajudou o pai em uma mudança.
Thiago é pai dos gêmeos e de Gabriel, e padrasto do filho mais velho de
Elizamar.A cabeleireira chegou ao local por volta das 23h e a localização do
celular indica que ficou na casa de Marcos e Renata por 20 minutos. No entanto,
ela e os filhos não voltaram para casa.
O celular de Elizamar ficou sem sinal até às 0h30
da sexta-feira (13), quando houve o registro da mulher passar por um posto de
gasolina na BR-260, na altura do Paranoá. Depois, não há mais rastros da
família.
Carro de cabeleireira desaparecida é encontrado
carbonizado com quatro corpos carbonizados em seu interior
Sexta-feira
(13) — Carro carbonizado é encontrado em Cristalina (GO), mas polícia ainda não
sabia do desaparecimento de Elizamar
Na sexta-feira (13), Elizamar não apareceu para
trabalhar, mesmo com a agenda cheia de clientes. O comportamento, segundo os funcionários
da cabeleireira, é incomum.
Questionado pelo filho mais velho de Elizamar,
Thiago — o marido da cabeleireira — disse ter tido um desentendimento com a
esposa quando a mulher chegou no condomínio dos sogros. Após a briga, o homem
afirma que a mulher deixou o local com os três filhos.
Paralelamante, a Polícia Civil, que ainda não havia
recebido o registro de desaparecimento de Elizamar, foi acionada, na manhã da
sexta-feira (13), para atender a um chamado dando conta de um veículo
encontrado carbonizado no meio da rodovia GO-436, na altura da cidade de
Cristina (GO).
No carro, um Renault Clio preto, havia quatro
ossadas: uma de uma pessoa adulta e três de crianças. Os corpos foram levados
ao Instituto Médico Legal (IML) de Luziânia, também no Goiás, para análise.Mais
tarde, o carro foi identificado como propriedade de Elizamar. m casa, o filho
mais velho tentava localizar a mãe, mas não teve sucesso.
Veículo do sogro da cabeleireira desaparecida é
encontrado pela polícia ainda em chamas com dois corpos carbonizados
Sábado
(14) — Outro carro carbonizado é encontrado, dessa vez em Unaí (MG)
Na manhã de sábado (14), a família de Elizamar
registrou um boletim de ocorrência na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá),
sobre o desaparecimento da cabeleireira e dos três filhos dela em Santa
Maria. A ocorrência foi registrada no DP do Paranoá, uma vez que Elizamar
desapareceu ao sair da região.
Em Minas Gerais, 12 horas depois do Renault Clio
preto ter sido encontrado em Cristalina, no Goiás; a Polícia Civil mineira foi
comunicada de que outro carro estava em chamas, abandonado no meio de uma
rodovia. O veículo estava próximo de Unaí (MG).
No local, os agentes mineiros viram uma cena
semelhante a que os policiais do DF observaram na sexta: dentro do veículo, um
Siena, destruído pelas chamas, havia dois corpos.
O automóvel, mais tarde, foi identificado como
propriedade de Marcos Antônio, sogro de Elizamar.
Domingo
(15) — Boletim registrado e procura pelo paradeiro de Elizamar
Em depoimento à polícia, o filho de Elizamar
afirmou que recebeu um telefonema do padrasto Thiago, em que ele contou que não
sabia o paradeiro de Elizamar e que o dois teriam se desentendido e por isso
ela teria pegado as crianças e ido embora.A família de Thiago registrou um
Boletim de Ocorrência pelo desaparecimento dele e dos pais, Marcos e Renata, e
da irmã, Gabriela Belchior.
Segunda-feira
(16) — Carros carbonizados são conectados ao mesmo crime
Após depoimento do filho mais velho de Elizamar e o
registro do boletim de ocorrência sobre o desaparecimento de Thiago e
familiares, a polícia relacionou os dois carros carbonizados ao mesmo caso.
Até o momento, a polícia tinha conhecimento de oito
desaparecidos — Elizamar e os três filhos, Thiago, Marcos, Renata e Gabriela.
Parentes e familiares de Elizamar foram ao
Instituto de Medicina Legal (IML) de Luziânia para fazer exame de DNA e
confirmar ou não se os corpos encontrados no veículo em Cristalina eram da
cabeleireira e das crianças. O laudo ainda não foi concluído.
Polícia já prendeu os três suspeitos de executar e
participar dos crimes. Polícia suspeita que hajam mandantes
Terça-feira
(17) — Suspeitos são presos e depoimento sugere hipótese de crime encomendado
Gideon Batista de Menezes, de 55 anos, é preso por
suspeita de envolvimento no desaparecimento das oito pessoas. Detido no Recanto
das Emas, o homem foi encontrado com queimaduras nos pulsos e confessou o
assassinato da cabeleireira e das três crianças encontradas no primeiro carro
incendiado.
Gideon Batista de Menezes, 55, suspeito de
envolvimento no sumiço de família desaparecida, trabalhava com sogro de
cabeleireira e tinha braços, mãos e pulsos queimados
Para a polícia, o homem disse que teria tentado
atear fogo em cachorros em uma chácara e, por isso, teria se queimado. No
entanto, a versão não convenceu os policiais.Horas depois, Horácio Carlos
Ferreira Barbosa, 49 anos, também é preso por suspeita de envolvimento no caso.
Ele trabalhava em uma fazenda e era empregado por Marcos, assim como Gideon, e
prestou depoimento na delegacia.
Cativeiro utilizado para dominar as vítimas e obter
as senhas bancárias. No local foi encontrado o corpo de um homem sem cabeça e
braços
Ricardo Viana, delegado titular da 6ª DP (Paranoá),
concede coletiva de imprensa e dá detalhes sobre o depoimento de Horácio. O
suspeito contou a versão dele sobre o caso: ele teria sido contratado pelo
sogro de Elizamar, Marcos, e pelo marido dela, Thiago — pai e filho — para
assassinar seis pessoas da família. No entanto, novos desdobramentos colocariam
em xeque a versão do suspeito.
Confira
parte do depoimento de Horácio
O suspeito disse que Marcos precisava de dinheiro e
tramou o plano contra a própria esposa, Renata, que havia vendido uma casa em
Santa Maria pelo valor de R$ 400 mil.
Pelo crime, Horácio e Gideon receberiam a quantia
de R$ 100 mil. O crime começou pelo sequestro de Renata Juliene Belchior, 52,
mãe de Thiago e de Gabriela Belchior de Oliveira, 25.Segundo o suspeito, Marcos
e Thiago arquitetaram o plano. Primeiro, Renata e Gabriela foram sequestradas
na quinta-feira (12). Horácio não soube dizer o motivo pelo qual a filha de
Marcos e irmã de Thiago também foi incluída no plano criminoso.
As duas foram levadas para uma casa transformada em
cativeiro no Vale do Sol, localizada entre o Vale do Amanhecer e o Arapoanga.
Lá, segundo Horácio, as vítimas permaneceram por 24h.
Horácio confirmou que alugou o imóvel que foi
utilizado como cativeiro dias antes. Após o sequestro de mãe e filha, elas
tiveram os celulares retidos, foram vendadas e amordaçadas para não gritarem.
Thiago e Marcos, segundo o suspeito, se passaram
pelas vítimas ao mandar mensagens para terceiros para não levantar a suspeita
de desaparecimento. Elizamar infartou, o que levou Thiago a estrangular os
filhos, disse o suspeito.
Em depoimento, Horácio diz que na quinta-feira
(12), Elizamar foi atraída por Thiago para a casa dos pais dele, com a desculpa
de precisar de carona para voltar para casa após ajudar o pai em uma mudança.
Quando a cabeleireira chegou ao local, Renata e Gabriela já estavam em
cativeiro. Segundo ele, Thiago dominou a esposa, amarrou-a e colocou uma venda
nos olhos. Com as crianças assustadas, o homem afirmou que era uma brincadeira.
Pouco depois, Horácio chegou ao local para
encontrar Thiago. Segundo o suspeito, o marido de Elizamar estava no banco da
frente do carro dela e, atrás, estava a mulher, com pés amarrados e vendada, e
os três filhos.
Horário tomou a direção do carro e, junto a Thiago,
dirigiram até uma rodovia de Cristalina, no Goiás, acompanhado pelo parceiro,
Gideon, que estava em outro veículo.
O suspeito diz que o plano de Thiago e Marcos era
simular um acidente de carro, mas que Elizamar passou mal, infartou no carro e
morreu, o que deixou Horácio e Thiago sem saber o que fazer.
Segundo Horácio, Thiago decidiu executar os
próprios filhos, os gêmeos de 6 anos, e um de 7. Horácio estrangulou um dos
gêmeos, Gideon o outro e o marido de Elizamar e pai dos pequenos estrangulou o
filho de 7 anos. Depois, Gideon usou gasolina comprada em posto — versão
confirmada por câmeras de segurança do estabelecimento — para atear fogo no
veículo com a cabeleira os três filhos dentro.
No entanto, Horácio também havia comprado gasolina
na madrugada de sexta-feira (18). Imagens de câmera de segurança obtidas pela
polícia mostram o momento em que ele compra um galão com gasolina em um posto
de combustível do Paranoá.
Em depoimento, ele confessou que planejava usar o
combustível para queimar os corpos de Elizamar e das crianças. Antes do
incêndio, os três colocaram Elizamar, ao volante, uma das crianças no banco do
passageiro e as outras duas no banco de trás todos já mortos.
Segundo o depoimento do assassino confesso, Thiago
teria assistido a cena dos corpos sendo queimados na rodovia.
A Polícia Civil ainda não consegue explicar o
motivo pelo qual Elizamar teria sido atraída para uma possível emboscada que
terminou com o assassinato da empresária e das crianças, já que a mulher não
era dona da parte do dinheiro referido por Horácio.
Renata e Gabriela foram assassinadas depois de
Elizamar e os filhos.Depois da morte de Elizamar e os filhos, o grupo teria se
direcionado à Renata e Gabriela. Horácio não deixou claro se Thiago e Marcos
estavam envolvidos presencialmente no assassinato das duas.
O suspeito contou, apenas, que as mulheres foram
levadas até a rodovia perto de Unaí, estranguladas e carbonizadas dentro do
carro, um Siena — que foi encontrado no sábado (14).
Na noite da terça-feira (17), Thiago e Marcos ainda
eram considerados desaparecidos. Apesar da perícia sobre os corpos encontrados
nos veículos ainda não estar pronta, a polícia acredita que as vítimas sejam as
mulheres apontadas no depoimento de Horácio.
A ex-mulher de Marcos Antônio, Cláudia e a filha
dele, Ana Beatriz, também desapareceram.
Mais cedo, na terça-feira (17), um boletim de
ocorrência era registrado na Asa Norte e informava como desaparecidas, Cláudia
Regina e a filha, Ana Beatriz Marques — ex-mulher e filha, respectivamente, de
Marcos Antônio, sogro de Elizamar.
De acordo com o documento, as duas desapareceram
entre quinta e sexta-feira, mesmo período no qual Elizamar e os filhos sumiram.
Bombeiros, com ajuda de cães farejadores, encontram
7º corpo da chacina no DF. Estava em cova rasa no cativeiro utilizado pelos
executores, tinha sinais de extrema violência, teve a cabeça degolada e foi
esquartejado. É do sexo masculino e os restos estavam em fase inicial de
putrefação
Quarta-feira
(18) — Novo corpo encontrado
Um terceiro homem é preso suspeito de também ter
envolvimento nos crimes. Fabrício Silva Canhedo, 34 anos, é acusado de fazer a
vigilância da casa onde Renata e Gabriela foram mantidas em cárcere.
A hipótese do envolvimento de Marcos e de Thiago no
assassinato da família perde força após um corpo de homem ser encontrado no
quintal da casa onde Renata e Gabriela foram mantidas em cárcere privado.
O corpo encontrado na casa estava decapitado e sem
os dois braços. De acordo com o delegado Paulo Henrique, da 6ª DP (Paranoá),
devido ao estado de decomposição do cadáver, o assassinato teria ocorrido entre
4 e 10 dias atrás.
Com as novas informações, a polícia não descarta a
hipótese de que pai e filho estejam mortos.
O delegado do caso afirmou ainda que a tese de que
Gideon, Horácio e Fabrício — presos entre os dias 17 e 18 de janeiro — teriam
se unido para assassinar a família inteira ganhou força.Gideon foi transferido
para carceragem da PCDF.
Perícia confirma que corpos carbonizados
encontrados em carro na rodovia de Unaí são de duas mulheres; Polícia suspeita
que são os corpos de Renata e Gabriela (mãe e filha).
PCDF descarta envolvimento de pai e filho em
chacina de família no DF
O corpo encontrado em cova rasa no cativeiro tinha
sinais de extrema violência, teve a cabeça degolada e foi esquartejado. É do
sexo masculino e os restos estavam em fase inicial de putrefação.
Os policiais suspeitavam que Thiago Gabriel e
Marcos Antônio queriam matar Elizamar e os filhos dela, além de Renata Juliene
Belchior, 52, e Gabriela Belchior de Oliveira, 25 — sogra e cunhada da
cabeleireira, respectivamente. As três mulheres e as crianças chegaram a ser
mantidas em cativeiro.
O Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (CBMDF)
confirmou que o cadáver foi encontrado no fim da tarde por cães farejadores.
Antes, agentes chegaram a cavar cerca de 50cm, mas não haviam encontrado nada.
O endereço fica numa residência do Vale do Sol, entre o Vale do Amanhecer e o
Araponga, em Planaltina. Ainda não se sabe de quem seria o corpo.
Segundo o delegado Ricardo Viana, a tese de que pai
e filho sejam mandantes de arquitetar a morte dos integrantes da família perdeu
força, após localizarem um corpo do sexo masculino no cativeiro onde mulheres
foram mantidas reféns. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) descartou o
envolvimento de outros membros da família, que seguem desaparecidos, na morte
de outros seis corpos encontrados.
De acordo com o delegado responsável pelo caso,
Ricardo Viana, a linha de investigação agora sugere que os quatro membros da
família que seguem desaparecidos não teriam envolvimento na morte da
cabeleireira Elizamar da Silva, de 39 anos, os três filhos, a sogra e cunhada
dela.
“Agora, trabalhamos com a tese de que Gideon,
Horácio e Fabrício se associaram, subtraindo valores da família e ceifando as
vítimas uma a uma. Com a localização desse sétimo corpo a coautoria fica
prejudicada. Os membros desaparecidos não praticaram o crime juntos e não
estavam em conluio com as três pessoas presas”, disse Ricardo Viana.
O crime teria sido motivado pela cobiça, segundo
Viana, tendo em vista que os acusados tomaram conhecimento da circulação de uma
grande quantia pela venda de imóveis na família. “É uma questão patrimonial.
Eles moravam a mesma chácara que a família, sabiam da rotina deles e bolaram o
crime”, declarou.
As investigações prosseguem e a polícia já sabe que
além de Renata, Cláudia também estaria em posse de uma alta quantia, no valor
de R$ 200 mil referente à venda de uma casa no Paranoá. Renata, por sua vez,
teria recebido R$ 400 mil pela venda de um imóvel em Santa Maria. O montante
teria sido o motivo para a chacina, segundo a versão de Horácio.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU