A Justiça Federal condenou, nesta terça-feira (27), dois fazendeiros
acusados de escravizar mais de 80 trabalhadores em Sapucaia, no Pará.
Na decisão, o magistrado Hallisson Costa Glória, juiz federal substituto
de Redenção, no sul do Pará, acolheu parcialmente a denúncia do Ministério
Público Federal (MPF), e condenou João Luiz Quagliato Neto a 7 anos e 6 meses
de detenção, mesma pena atribuída a Antônio Jorge Vieira.
De acordo com a decisão, os condenados deverão aguardar em liberdade o
trânsito em julgado da sentença, haja vista não ter surgido qualquer fato a
justificar a segregação cautelar ou para a imposição de medidas cautelares
diversas da prisão.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), 85 trabalhadores rurais
foram resgatados na fazenda Brasil Verde, em Sapucaia, sudeste do Pará, em
março de 2000.
A denúncia criminal foi ajuizada em setembro de 2019, após a Corte
Interamericana de Direitos Humanos condenar o Brasil, em 2016, por permitir a
impunidade dos acusados pelos crimes na fazenda Brasil Verde.
No andamento, o processo havia desaparecido ao ser enviado para a
Justiça de Xinguara. Em seguida, o MPF localizou 72 vítimas distribuídas em 11
estados e ouviu acusados e testemunhas dos crimes.
Entenda o caso
A fazenda Brasil Verde pertence ao Grupo Irmãos Quagliato, um dos
maiores criadores de gado do país, segundo o MPF.
Em 15 de março de 2000, a Superintendência Regional do Trabalho do
Ministério do Trabalho e do Emprego constatou que os dois réus submetiam os
trabalhadores, incluindo adolescentes, a não receber pagamentos.
As vítimas viviam com restrição de liberdade de locomoção, eram
submetidas a constante vigilância armada, além de retenção da carteira de
trabalho. Os trabalhadores, segundo o MPF, foram obrigados a assinar documentos
em branco.
Ainda de acordo com o MPF, os trabalhadores chegaram à fazenda após
serem aliciados com promessa de trabalho em troca de diária de R$ 10 a R$12,
mas ficaram meses sem receber. A alimentação e alojamento eram precários e os
trabalhadores acumulavam dívidas.
Dois trabalhadores conseguiram fugir e a equipe de fiscalização chegou
ao local para libertar as 85 vítimas. Os dois que haviam conseguido sair foram
espancados por ficar doente e não poder trabalhar. Segundo os relatos, a fuga
foi por área de mata e durou dias de caminhada até que chegaram a um posto da
Polícia Rodoviária em Marabá. Matéria G1/PA