Debaixo da faixa na qual moradores da Apyterewa pediam ajuda humanitária à ONU, o Batalhão de Choque da Força Nacional se alinhava para reprimir os protestos da comunidade (Foto: Neia Craveiro / Jucelino Show na Net / Especial para o Fato Regional) (Foto: )
O corpo do trabalhador rural Ozéas Santos Ribeiro,
de 37 anos, morto a tiros na Apyterewa, em São Félix do Xingu, ainda aguarda
por uma perícia criminal na noite desta segunda-feira (16). O cadáver só foi
removido mais de 10 horas após ser supostamente baleado por agentes da Força Nacional de Segurança,
que o mantiveram sob custódia por várias horas antes de ele morrer.
Devido à distância, a perícia de local de crime foi comprometida. À tarde,
moradores da área voltaram a enfrentar agentes federais.
O primeiro confronto entre moradores e a Força
Nacional foi pela manhã, pouco depois da morte de Ozéas. O estopim do segundo
enfrentamento não ficou claro, mas ocorreu horas após o prefeito de São Félix
do Xingu, João Cleber (MDB), anunciar que a desintrusão havia sido suspensa. A
notícia foi dada no início desta tarde, após ele falar com o governador Helder
Barbalho (MDB), que teria recebido a garantia da suspensão da operação do
próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ozéas tinha 37 anos e morava há bastante tempo na
Apyterewa, onde trabalhava como agricultor e prestava serviços diversos para sobreviver
(Foto: Reprodução / Redes Sociais)
Desde o anúncio do prefeito, a Redação do Fato
Regional tem estado em contato com o Gabinete de Comunicação da Operação de
Desintrusão. Até as 21h desta segunda-feira, os assessores de imprensa
desconheciam qualquer ordem nova para suspender ou alterar a operação. O
segundo confronto do dia ocorreu no final da tarde. O Batalhão de Choque da
Força Nacional revidou de forma mais agressiva, com várias granadas de efeito
moral, gás lacrimogêneo e disparos com munição de borracha (elastômero).
Enquanto isso, o corpo de Ozéas foi transferido
para um hospital de São Félix do Xingu. Uma equipe da Polícia Científica do
Pará saiu de Marabá por volta de 16h rumo ao município no sul do estado. No
entanto, como a morte do agricultor ocorreu numa área federal e supostamente
por agentes federais, a investigação deve ser feita pela Polícia Federal e não
pela Polícia Civil. O procedimento ainda não foi elucidado pelo Governo do
Pará, nem pela PF e nem pelo Gabinete de Comunicação da Desintrusão.
Na extensão Apyterewa, de onde cerca de 2 mil
famílias devem sair até o dia 31 de outubro — prazo inicial antes do anúncio da
suspensão da operação —, o clima ainda é de tensão. Moradores reclamam do
impedimento de acesso a alimentos e água e truculência dos agentes federais.
Nesta terça-feira (17), a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia
Legislativa do Estado do Pará (Alepa), a convite do deputado estadual Torrinho
Torres (Podemos) e apoio do senador Beto Faro (PT) irá à área.
O prefeito João Cleber manifestou uma nota de pesar
pela morte de Ozéas, em nome da Prefeitura Municipal de São Félix do Xingu. Em
nome da Câmara Municipal de São Félix do Xingu, a presidente do parlamento,
vereadora Adriana Torres, repudiou a violência e truculência na operação de
desintrusão. No confronto desta tarde, um culto em uma igreja evangélica da
comunidade foi interrompido com a explosão das bombas de efeito moral e gás
lacrimogêneo dentro do imóvel.
A Redação do Fato Regional segue acompanhando a
operação de desintrusão da Apyterewa, em São Félix do Xingu, e repercussões em
Brasília. Acompanhe nossa cobertura!
(Da Redação do Fato Regional, com informações de
Jucelino Show na Net)