Ao contrário do que se esperava após 15 de janeiro, quando China e EUA
assinaram a fase um do acordo comercial após quase dois anos de uma dura
disputa, as relações entre os dois países voltaram a se acirrar e a causar
preocupação e estranheza, com um rápido desgaste sendo registrado.
A nação asiática acusou os Estados Unidos de estarem iniciando uma nova
guerra fria. A declaração partiu do ministro das relações exteriores, Wang Yi,
neste domingo (24), durante o Congresso Nacional do Povo, em Pequim. "A
China não tem a intenção de mudar os EUA, nem subsituir os EUA. Também é uma
ilusão para os EUA quererem mudar a China", disse o representante do governo
chinês. As informações partem da agência internacional de notícias
Bloomberg.
Ainda assim, representantes de ambos os governos, em determinados
momentos, voltaram a afirmar que a fase um do acordo comercial estaria intacta
apesar de todos os problemas e declarações. Análises e números, porém, mostram
outro cenário e perspectivas que já sinalizam preocupações.
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Fase 1 do acordo EUA-China está intacta, diz diretor de Conselho da Casa Branca
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autoridade dos EUA
Um estudo feito pela Agrinvest Commodities mostra que o ritmo das
compras chinesas no mercado norte-americano não caminha da forma esperada e
necessária para que alcance o volume financeiro firmado entre os dois
países.
"O acordo comercial pode naufragar. O ritmo de compras não chega a
50% do necessário. Até final de março, a China havia comprado dos EUA US$20
bilhões em mercadorias contra objetivo de US$43 bilhões", explicam os
analistas da Agrinvest Commodities. Os gráficos abaixo ilsutra, o atual
momento:
Fonte: Agrinvest
Commodities
Os mercados norte-americanos não funcionam nesta segunda-feira (25) em
comemoração do feriado do Memorial Day e, dessa forma, ainda não é possível
entender como os mercados agrícolas irão reagir a este novo agravamento do
cenário entre os dois países. É sabido, todavia, que o agronegócio
norte-americano precisa de novas compras do país asiático para que tenha mais
segurança, ajuste de seus estoques e, principalmente, uma retomada dos preços
de seus produtos.
"Enquanto Trump liderar os EUA não há possibilidade de um acordo
comercial total entre EUA e China. Em outras palavras, não vemos nenhuma
hipótese em que Trump volte a ter relações comerciais com os chineses como
tinha em 2017, antes mesmo de estourar toda a guerra comercial. Poderão haver
pacotes de incentivos pontuais como em 2019, no início de 2020 - que ainda não
foram efetivados", explica o diretor da ARC Mercosul, Matheus
Pereira.
Ainda na análise da ARC, a "China poderá dar 'migalhas comerciais'
aos EUA, oferencendo pacotes de compras com isenção tarifária. No entanto,
esses pacotes são superficiais e podem ser mais benéficos para a própria China
do que para os EUA, uma vez que não há reabertura do livre comércio, e a China
controla o que deve ser importado sob isenção tarifária, falando
especificamente de produtos agrícolas".
MAIS ESPAÇO PARA O BRASIL?
Sim. Pereira acredita que enquanto Donald Trump seguir presidente dos
EUA, o Brasil deverá continuar sendo beneficiado pela continuidade da
concentração da demanda, principalmente por soja, da nação asiática no mercado
nacional, além de outros produtos, como carnes, por exemplo.
"E em um cenário hipotético, mesmo que um candidato democrata venha
a ganhar as eleições deste ano nos EUA e vir a talhar um acordo comercial com a
China em 2021, não deverá ser da noite para o dia. Isso levará tempo, os
chineses irão querer se beneficiar dessa possível reconstrução das relações
comerciais e, claro, os EUA, como potencial que são, independente do líder que
tiverem, irão querer manter sua hegemonia, as forças política e econômica que
já têm, não cedendo demais às vontades da China", conclui Pereira.
CHINA X EUA X CORONAVÍRUS
A pandemia do novo coronavírus tem sido o principal catalisador dessas
novas declarações duras entre as duas nações ao se atacarem, depois que o
presidente americano Donald Trump afirmou que o vírus apareceu na sequência da
assinatura da primeira fase do acordo comercial entre os dois.
O secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeo, inclusive,
culpou a China por 'centenas de milhares de mortes' em função do coronavírus. Da
mesma forma, Trump chegou a ameaçar os chineses com novas tarifas sobre seus
produtos por conta do Covid-19.