Brasília – Os líderes dos
partidos que compõem o Centrão composto por legendas, pressionados por
prefeitos que buscam a reeleição, se movimenta para barrar no Congresso o
adiamento das eleições municipais.
A proposta de emenda à Constituição (PEC 18/2020)
que muda a data das disputas por causa da pandemia do novo coronavírus foi
aprovada na terça-feira (23) no Senado, mas ainda precisa passar pelo crivo da
Câmara e não há acordo. O Centrão já avisou que não dará os votos necessários e
tem o aval do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nessa articulação. Se votarem
unidos, o bloco tem mais da metade dos votos na Casa.
O chamado Centrão é composto por PP (40 deputados),
PL (39), Republicanos (31), Solidariedade (14) e PTB (12). O PSD (36), o MDB
(34) e o DEM (28) também costumam estar alinhados com o grupo, assim como
partidos menores, incluindo PROS (10), PSC (9), Avante (7) e Patriota (6).
Pressão
A proposta que recebeu sinal verde do Senado prevê
que as eleições para a escolha de prefeitos e vereadores sejam realizadas em 15
de novembro, no primeiro turno, e 29 do mesmo mês onde houver segunda rodada.
Pelo atual calendário, porém, as datas são 4 e 25 de outubro.
O discurso oficial dos parlamentares contrários à
mudança é que nada garante que postergar o julgamento das urnas em 42 dias fará
com que a pandemia seja controlada nesse período. Na prática, porém, a
resistência tem outro motivo: muitos avaliam que jogar as eleições para 15 de
novembro, Dia da Proclamação da República, beneficia a oposição.
Prefeitos argumentam que adiar a corrida eleitoral
favorece os adversários porque dá mais tempo para que candidatos rivais se
organizem e façam campanha, ainda que de forma virtual. A avaliação é a de que,
como a pandemia dificulta o debate político, quem já está no cargo leva
vantagem.
Partidos como Progressistas e Republicanos,
integrantes do Centrão, já se manifestaram contra a nova data das disputas
municipais e o PL também tende a seguir esse caminho. Diante do impasse, o DEM
está dividido e o MDB liberou a bancada para votar como bem entender.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
admitiu dificuldades para o adiamento das eleições. “Não há consenso. A única
certeza é que a gente precisa dialogar mais sobre isso”, disse lacônico.
“Precisamos manter a data das eleições municipais
no dia 4/10 para podermos avançar o mais rápido possível na pauta das reformas
que o Brasil precisa. Ao postergar as eleições, fatalmente o Congresso Nacional
demorará mais para atacar sobretudo os temas econômicos”, escreveu no Twitter o
deputado Marcos Pereira (SP), que comanda o Republicanos e é vice-presidente da
Câmara.
Quórum
Para que o adiamento das disputas seja aprovado é
necessário o apoio de 308 deputados (três quintos dos votos), em duas votações.
Sem o aval do Centrão, no entanto, a proposta corre o risco de ser derrubada.
Maia ainda não marcou a sessão virtual para apreciação do texto.
Para Jonas Donizete, presidente da Frente Nacional
de Prefeitos, o assunto é muito polêmico. “A entidade não tem uma posição
fechada porque os prefeitos estão muito divididos. Quem vai para a reeleição é
a favor de manter a data de 4 de outubro. Só esperamos que a Câmara decida
rapidamente”, afirmou ele, que é prefeito de Campinas e filiado ao PSB.
Centrão
teme desvalorização de recursos do fundo eleitoral
O Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro quer
criar, não pode participar das eleições deste ano porque ainda não conseguiu as
assinaturas necessárias para sair do papel. O presidente afirmou que não se
envolverá na campanha, mas a ideia é que seus aliados apoiem candidatos do
Centrão.
Na segunda-feira (22), o presidente da Confederação
Nacional dos Municípios, Glademir Aroldi (Progressistas) disse que esticar o
prazo da campanha faria com que a saúde da população fosse submetida a maior
risco. “Se ninguém sabe o que vai acontecer, não temos garantia nenhuma”,
observou Aroldi, ao defender o adiamento das eleições para 2022.
“Há grande pressão dos prefeitos atuais, candidatos
à reeleição, e dos que querem fazer seu sucessor. Eles estão fortalecidos nesse
momento e acham que, depois, vão se revelar problemas porque haverá escassez de
recursos”, constatou o deputado Arnaldo Jardim (SP), líder da bancada do
Cidadania.
Pandemia
Vice-Líder do PSD na Câmara, o deputado federal
Joaquim Passarinho explicou que a recomendação do adiamento das eleições atende
palpite de infectologistas que alertaram que no Brasil a média de internações
no país nos meses de junho e julho é muito alta nos hospitais em razão do
inverno no sul/sudeste, onde há a maior concentração da população nacional.
“As mudanças no calendário proposto por técnicos da
saúde sugeriu que as convenções partidárias passariam para setembro, a campanha
em outubro e as eleições em novembro terão um peso na opinião dos
parlamentares”, revelou. Entretanto, Passarinho disse que essa corrente
representa apenas 30% dos votos na Câmara e que os demais 70% não querem que as
datas sejam alteradas.
“Se os deputados alterarem o texto que veio do
Senado, a matéria volta para a palavra final dos senadores. Detalhe: mudanças
nessa data só devem ser feitas até o dia 30 desse mês”, alertou.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
Luís Roberto Barroso, observou, porém, que a votação no Senado acolheu sugestão
encaminhada pela Corte após recomendação de médicos. “Não era uma vontade
política nossa, mas apenas o encaminhamento de um entendimento uníssono de
todos os médicos, cientistas, epidemiologistas infectologistas que pudemos
ouvir”, argumentou Barroso. “Todos recomendaram a conveniência de se adiar as
eleições por algumas semanas, pela convicção de que em setembro a curva já
estará decrescente”, informou o presidente do TSE.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.