Brasília – Além das
mudanças no calendário eleitoral em razão da pandemia do novo coronavírus, as
eleições de novembro deste ano serão as primeiras em que estará valendo uma
resolução baixada pelo Superior Tribunal Eleitoral (TSE) que permite ao juiz
derrubar uma lista inteira de candidatos a vereador antes mesmo da votação,
caso a irregularidade seja constatada. Para acelerar este processo, partidos
terão que apresentar autorização por escrito de todas candidatas, o que não
vinha acontecendo desde que o registro foi informatizado.
De acordo com a resolução, a assinatura é uma forma
de garantir que aquela candidata tem mesmo interesse em concorrer e não foi
indicada pelo partido apenas para cumprir a cota feminina.
Nas últimas eleições, além de não apresentar autorização
por escrito de todos os candidatos, partidos enviaram ao TSE fotos de redes
sociais, sem consentimento das mulheres fotografadas, segundo a pesquisadora
Roberta Maia Gresta, coordenadora da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e
Político (Abradep).
Em 2018, de acordo com Roberta, um grupo de
mulheres de Minas Gerais chegou a registrar boletim de ocorrência para reclamar
que estava participando das eleições, embora não tivesse autorizado. Em alguns
casos, o partido disse que houve engano. “Não se tinha, na época, a regulação
indicando o procedimento que o juiz eleitoral deve seguir nesse caso”, afirmou.
Agora, uma resolução editada pelo TSE no fim de
dezembro tenta deixar mais claro como o juiz eleitoral deve agir. A norma se
baseia na exigência, prevista na Lei das Eleições, de 1997, de que o registro
das candidaturas venha acompanhado da autorização escrita.
Se o juiz eleitoral notar falta de documentos e
verificar que a candidatura foi registrada sem anuência da candidata, pode
requisitar diligências para conferir se ela está concorrendo mesmo ou se há
alguma fraude.
Os pedidos de providências devem começar a ser
encaminhados a partir de 26 de setembro, quando acaba o prazo para os partidos
enviarem a relação de candidatos. Se antes de 15 de novembro ficar comprovado
que há fraude, toda a chapa cai.
“A inobservância dos limites máximo e mínimo de
candidaturas por gênero é causa suficiente para o indeferimento do pedido de
registro do partido político, se este, devidamente intimado, não atender às diligências”,
diz a resolução do TSE.
“Quando se verifica a fraude e o número de
candidatas mulheres cai para menos de 30%, é a lista inteira que não cumpre o
requisito”, diz a norma. Esse entendimento já foi aplicado em decisões do TSE,
mas nunca antes do dia da votação.
Embora haja um número máximo de candidatos a
vereador por partido, as legendas só poderão preencher a relação completa se
listarem, no mínimo, três mulheres para cada sete homens. As siglas que não
atingirem esse número deverão lançar menos homens para manter a proporção.
Promotores eleitorais nos estados vão enviar aos
diretórios municipais dos partidos orientações para que se respeite a cota de
30%, com respectiva alocação de tempo de TV e recursos do Fundo Eleitoral.
“Além do perigo de cassação de chapa, o desrespeito a essas regras pode
configurar o crime de falsidade ideológica”, alertou a promotora Vera Taberti,
que atua no combate a fraudes envolvendo candidaturas femininas.
Candidaturas
“laranja”
Ativistas vêm questionando o uso da expressão
“candidatas laranja” para se referir a fraudes envolvendo o registro de
mulheres em disputas eleitorais.
“Tem algumas que nem sequer sabem que foram
lançadas e tem outras que foram convencidas pelo partido a desempenharem esse
papel, sendo que há um contexto maior da falta de representação feminina. A
expressão ‘candidatas laranja’ joga uma carga de responsabilidade para a
mulher, como se elas fossem responsáveis por se submeterem a essa situação”,
destaca a advogada eleitoral Paula Bernardelli, da Associação Visibilidade
Feminina.
“A gente prefere usar ‘candidaturas fraudulentas’
ou ‘candidaturas fictícias’, já que saber se elas são parceiras ou se elas são
vítimas fica num segundo momento”, afirma Paula. São esses os termos empregados
na cartilha (baixe aqui)
produzida pela associação, em parceria com a Secretaria da Mulher da Câmara dos
Deputados, para servir de guia às futuras candidatas.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.