Valdinar Monteiro de Souza (Foto: )
Passaram as eleições de 2020. Como
sempre, foi mais um período de promessas inexequíveis, acusações infundadas,
calúnias, difamações, injúrias, fake news, mentira. E, é claro, de
compra de votos. Não muda! Embora as fake news sejam o que há
de mais moderno neste cenário corrupto e perigoso ao extremo, não passam de uma
versão sofisticada de antigas ações criminosas ou imorais, de forma que a coisa
não muda, senão para pior.
Duas coisas, porém, dentre as tantas
tão comuns do período eleitoral, sempre chamaram minha atenção: a mácula de
mentiroso com que se tacham todos os candidatos e a denúncia das compras de
votos. Desde que tenho entendimento – o que, convenhamos, já faz um bom tempo
–, essas duas coisas se repetem em todas as eleições, de todos os níveis da
República. Gostaria muito de viver para presenciar uma eleição livre desses
dois males. Sou, no entanto, realista e não tenho tal esperança.
As eleições municipais de 2020 não
foram diferentes, e podemos afirmar que as de 2022 também não serão, assim como
não serão as próximas depois das de 2022, e assim por diante. Não estou
acusando a quem quer que seja de mentiroso e comprador de votos, estou apenas
escrevendo o que quase todas as pessoas dizem. Com certa perplexidade,
confesso, pois não há convergência: os políticos, eleitos ou não, dizem uma
coisa, e o povo diz outra, embora seja esse mesmo povo que vende o voto.
Tenho mais de trinta e cinco anos de
serviço público municipal e conheço, obviamente, muitos políticos. Já vi muitos
candidatos, eleitos ou não, falando de campanhas eleitorais, o que nunca vi foi
algum deles dizer que comprou votos ou fez campanha suja, por mais que essas
acusações sejam constantes. Não, todos eles, em todos os tempos, fizeram
campanha limpa! Se foi limpa, foi com inteira lisura: sem aleivosias,
ilegalidades, imoralidades, mentiras. As coisas, porém, não batem, não convergem.
Sem acusar a ninguém, eu só queria
entender. Nas eleições de 2020, por exemplo, muitas pessoas dizem que a compra
de votos em Marabá foi acachapante, desbragada, muito maior do que nas eleições
anteriores. Os candidatos que já ouvi, entretanto, dentre eleitos e não
eleitos, dizem de peito inflado que fizeram uma campanha limpa. Vá entender.
Quem foram, então, os que fizeram a campanha suja de que tantos falam, ó
cara-pálida?
Voto não é coisa suscetível de
alienação, eu sei, mas, de forma ilegal, há quem compre e quem venda. A culpa
condena. Quem comprou, se comprou, sabe que o fez, assim como quem vendeu, se
vendeu, também o sabe. Só existe quem compre porque existe quem venda e
vice-versa. Corrupto e corruptor são iguais e se merecem.
Confesso mais uma vez que eu só
queria entender, mas, tudo bem. Afinal, em que isso iria modificar as coisas?
Em nada, evidentemente. É o sistema, eu sei. Quem, contudo, o criou e, direta
ou indiretamente, o alimenta? Eu também sei. Todos nós sabemos.
(*) Advogado e escritor. Bacharel em Direito
(UFPA, 2002). Especialista em Direito Administrativo (UGF, 2013). Especialista
em Direito Constitucional (USCS, 2015). Especialista em Direito Médico (Uniara,
2017). E-mail: dr.valdinar@bol.com.br.