O projeto limita aquisição por estrangeiros de terras rurais em até 25% do território dos municípios do Brasil (Foto: )
Brasília – Diante da
enorme repercussão negativa no setor rural, o presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) anunciou em sua live, na quinta-feira (24), que vai
vetar o projeto de lei que facilita a compra e o arrendamento de terras por
estrangeiros, aprovado há duas semanas pelo Senado, caso ele passe pela Câmara
dos Deputados.
O Senado Federal aprovou, no último dia 15 de
dezembro, o PL 2.963/2019,
de autoria do senador Irajá Silvestre Filho (PSD-TO) – ironicamente, filho da
também senadora Kátia Abreu (Progressistas-TO), ex-ministra da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento durante o segundo governo da ex-presidente deposta
Dilma Rousseff (PT), e ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e
Pecuária (CNA) –, cuja proposta permite a compra de terras rurais por
estrangeiros, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, limitando essa
aquisição em até 25% do território do município. A aprovação da matéria deixou
o setor rural furioso. O projeto segue para análise e votação na Câmara dos
Deputados após o recesso parlamentar, em fevereiro.
A posição do presidente coincide com a do PT e de
ONGs ambientalistas, como o Greenpeace, diversas vezes atacadas pelo
presidente. Em transmissão semanal ao vivo pelas redes sociais, Bolsonaro
classificou a proposta como antipatriótica e disse que não deixará o Brasil ser
vendido a estrangeiros.
“Você acha justo vender terras aqui para
estrangeiros? Se você vender terra para estrangeiro, ele nunca mais vai
revender para ninguém, vai ser território dele,” afirmou. “Não pode acontecer
isso no Brasil. Passou no Senado… vai para a Câmara – se a Câmara aprovar tem o
veto meu. Aí o Congresso vai derrubar ou não o veto. Falta patriotismo para
nós. Não podemos permitir que o Brasil seja comprado,” disse o presidente.
Os senadores de oposição fizeram críticas ao texto.
O líder do PT na Casa, Rogério Carvalho (PT-SE), afirmou que o PL não estava
maduro o suficiente para ser votado e que a questão era polêmica. Na opinião
dele, o projeto entrega a soberania nacional para estrangeiros e põe em risco a
performance da produção nacional de commodities, com prejuízo das
exportações por empresas nacionais, uma vez que as estrangeiras já produziriam
no país.
Autor da proposta, o senador Irajá Silvestre Filho
(PSD-TO) diz que proposta é importante para o país
Autor
diz que proposta é importante para o país
Para o autor do projeto, senador Irajá, o projeto é
importante para estimular a economia, a geração de empregos e a produção de
alimentos no país. Segundo ele, a compra de terras por investidores
internacionais pode atrair investimentos ao país de cerca de R$50 bilhões por
ano. Parlamentares da base do governo e de partidos de centro apoiaram o
projeto, que consideraram importante para o país.
O projeto do senador Irajá Abreu (PSD-TO) foi
aprovado após articulação entre a bancada ruralista e o presidente do Senado,
Davi Alcolumbre (DEM-AP). O texto prevê a dispensa de autorização para a compra
ou posse de imóveis com áreas de até 15 módulos fiscais por estrangeiros.
Cidadãos ou empresas de outra nacionalidade poderão comprar essas áreas rurais
até o limite de 25% do território do município. Também terá de ser observada a função
social da propriedade. “Ele [estrangeiro] vai comprar terras e municípios que
ele sabe, de uma forma ou de outra, o que tem no subsolo,” criticou o
presidente em sua live. Bolsonaro ainda lançou uma enquete em
suas redes sociais sobre o projeto.
Print da conta de Bolsonaro no Twitter
Debate
antigo
A venda de terras a estrangeiros é motivo de
debates há décadas, conforme estudo da Consultoria do Senado. O PL 2.963/2019
revoga a lei que regula a aquisição de imóvel rural por estrangeiros (Lei 5.709/1971),
a qual prevê uma série de restrições para que eles possam adquirir terras no
Brasil, como a limitação de dimensões das áreas que podem ser compradas e a
exigência de autorização prévia do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) para implantação de projetos agrícolas.
Na década de 1990, a Advocacia-Geral da União (AGU)
emitiu pareceres que permitiram a companhias nacionais com controle estrangeiro
e empresas de fora com participação brasileira adquirir propriedades sem essas
restrições, mas, em 2010, a AGU reviu esse entendimento e retomou os parâmetros
da lei de 1971, o que limitou o acesso de estrangeiros à propriedade fundiária
nacional.
A proposta estabelece restrições para terrenos na
região da Amazônia e também em áreas de fronteiras – casos em que será
necessário aval do Conselho de Defesa Nacional.
Por Val-André
Mutran – de Brasília