Política Publicada em 20/01/21 às 09:22h - 137 visualizações
Indígenas Kayapós da Aldeia Turedjam se mobilizam contra o Marco Temporal Michel Temer foi o autor do Marco Temporal
Jornal O Niquel
Link da Notícia:
“Iremos defender nossos territórios, nossa
dignidade e nosso futuro com a vida se for preciso, frente a cada ataque de um
Estado anti-indígena”
No dia 19 de janeiro na aldeia Turedjam que fica a 20 Km da
sede do município de Ourilândia do Norte-PA lideranças indígenas se reuniram em
manifesto contra o Marco Temporal. A aldeia é composta por 443 indígenas e vê
seus direitos ameaçados.
São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam. Competendo a União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens. Art 231 CFB 1988.
Em 28 de outubro de 2020, nesse dia o STF deveria votar o
recurso extraordinário nº 1017365 que mudaria o futuro das demarcações de
terras indígenas no Brasil, mas o tema foi retirado de pauta
O Cacique Kupato afirmou: Sr Presidente da República, não
aceito, nós não aceitamos o Marco Temporal, querem nos atingir, nos prejudicar,
acabar com nosso povo, com a nossa terra. Somos indígenas brasileiros de
verdade, os primeiros habitantes do Brasil, por isso não aceitamos o Marco
Temporal.
O líder Manoel Kayapó disse: A história dos povos indígenas
não começou em 1988, nem em 1500, começou muito antes da invasão do território
brasileiro. Não aceitamos o Marco Temporal, quem invadiu e roubaram nossas
terras foi Dom Pedro Álvares Cabral.
O articulador Kokoinokaton, falou que os povos indígenas do
Brasil inteiro são contra o Marco Temporal, estamos nos mobilizando e vamos
lutar pelos nossos direitos.
O marco temporal é um tratado de guerra e extermínio
contra os povos indígenas”
O que é o Marco Temporal
e como ele impacta os povos indígenas.
O chamado Marco temporal é uma ação no
Supremo Tribunal Federal (STF) que defende que povos indígenas só podem
reivindicar terras onde já estavam no dia 5 de outubro de 1988. Naquele dia,
entrou em vigor a Constituição Brasileira. De um lado, a bancada ruralista e
instituições ligadas à agropecuária defendem o marco. Do outro, povos indígenas
temem perder direito a áreas em processo de demarcação. Mas como essa disputa
começou?
O que é uma Terra
Indígena
A Constituição federal garante a criação das
chamadas Terras Indígenas (TIs) no artigo 231. São territórios que pertencem
aos povos indígenas, que podem explorar seus recursos naturais e desenvolver
suas culturas. Também pode ser habitadas por uma ou mais etnias. O direito dos
índios ao território é exclusivo e permanente.
Como é criada uma Terra
Indígena
É possível criar novas terras indígenas no
país. Para isso, a Funai (Fundação Nacional do Índio) inicia um processo de
identificação e delimitação do território. Após abrir para manifestações de
estados e municípios, um estudo é enviado ao Ministério da Justiça. Se os
limites da Terra Indígena e uma possível inspeção da área forem aprovados pelo
ministério, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)
reassenta eventuais não-índios que estavam no local. No final, o presidente da
República pode aprovar por meio de decreto a criação da nova Terra Indígena no
Brasil.
O que é o Marco
Temporal, segundo os povos indígenas
Os indígenas defendem que têm direito
"originário à terra" por estarem aqui antes da criação do estado
brasileiro. A tese do "marco temporal" também ignoraria povos que
foram expulsos de suas terras, sob violência ou devido à expansão rural e
urbana dos brancos, pelo desmatamento ou mortos por proliferação de doenças
quando a Constituição federal foi promulgada. Assim, não poderiam estar
presentes naquele exato dia. Aos povos indígenas, determinados territórios
também são uma maneira direta de conexão com a antepassados, da manutenção de
própria cultura e também de sobrevivência diante da expansão da vida urbana e
rural no Brasil.
O que é o "Marco
Temporal das Terras Indígenas", segundo ruralistas
A Frente Parlamentar da Agropecuária, mais
conhecida como Bancada Ruralista no Congresso Nacional, defende o chamado
"Marco temporal da Terra Indígena". Sem uma data limite para a
criação de uma TI, parlamentares defendem que novas terras só podem ser
demarcadas para índios que estavam sob o território em disputa no dia 5 de
outubro de 1988. A bancada defende o Marco Temporal devido ao uso do verbo
"ocupam", no presente, que está no artigo 231 da Constituição federal
onde se determina os direitos à terra dos índios. Caso contrário, argumentam os
ruralistas, os indígenas poderiam reivindicar até a a "praia de Copacabana",
no Rio de Janeiro. "Os índios reivindicam áreas que ainda têm significado
para essa organização social específica. As demandas de marcação são concretas,
específicas, delimitadas e bem localizadas. Ninguém está reivindicando a praia
de Copabacana", explica Juliana de Paula Batista, advogada do Instituto
Socioambiental (Isa).
Como surge a batalha
pelo Marco Temporal
A tese do Marco Temporal ganha força em 2017,
com um parecer emitido pela Advocacia-geral da União durante o governo do então
presidente Michel Temer. Funciona assim: a AGU entendeu que o julgamento de um
caso específico de uma Terra Indígena valia para todos os outros. No caso, o
exemplo foi o julgamento da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.
Marcada por conflitos entre indígenas e arrozeiros, o caso foi parar no Supremo
Tribunal Federal. Em 2009, a maneira encontrada pelos ministros do STF para
resolver a questão foi ordenar que a terra pertencia aos índios, por lá estarem
quando foi promulgada a Constituição federal. A medida tomada pela AGU
contraria o entendimento do próprio STF. Em 2013, a corte reconheceu que o
julgamento da Raposa Serra do Sol servia somente àquele caso. Apesar disso,
associações e a bancada ruralista utilizam o parecer emitido pela AGU para
entrar com ações contra demarcação de novas Terras Indígenas. O Ministério
Público Federal (MPF) estima que 27 de processos de demarcação estão parados
devido ao parecer da AGU.
O que há de novo sobre o
Marco Temporal
O parecer da AGU foi usado como argumento
para a Fundação de Amparo Tecnológico ao Meio Ambiente (Fatma) reivindicar
posse de uma área ocupada pelos Xokleng, em Santa Catarina. Em 1914, na
primeira vez em que foram localizados, a etnia tinha cerca de 400 indígenas no
estado. Segundo documentos da época, eles foram "aldeados" em uma
pequena porção de terra do Rio Platê para impedir que fossem mortos por
desbravadores. No início dos anos 30, os Xokleng já eram apenas cerca de 100
pessoas. Em 1976, o início da construção da Barragem Norte retira uma área
utilizada para a agricultura e inunda 95% da área cultivável. Em 1992, a
barragem é inaugurada . A Funai montou grupo de estudos para criar uma Terra
Indígena, que uniria os Xokleng e mais povos na região, contabilizando mais de
2 mil indígenas. A instituição identificou que, historicamente, os Xokleng
foram expulsos e vítimas de grilagem. O processo de criação da Terra Indígena
está parado desde 2003, devido a ações na Justiça.
Caso dos Xokleng servirá
para discutir Marco Temporal
Maso que os Xokleng tem a ver com o marco temporal? Em 2019, o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu que a
ação que envolve a etnia em Santa Catarina deve servir a todos os casos do
tipo. Assim, será definido se uma Terra Indígena só pode ser demarcada onde os
índios já estavam quando a Constituição foi promulgada, como defende a
instituição que reivindica a área ocupada pelos dos Xokleng, ou se uma área
pode ser delimitada a índios que ainda vejam significado no local. O julgamento
da ação estava marcado para 27 de maio, mas foi remarcado para que haja novas
discussões e não há data para ser retomada.
ATENÇÃO:Os comentários postados abaixo representam a opinião do leitor e não necessariamente do nosso site. Toda responsabilidade das mensagens é do autor da postagem.