Palácio do Planalto, de olho no Congresso, aposta na eleição do deputado Arthur Lira, na Câmara e do senador Rodrigo Pacheco no Senado (Foto: )
Brasília – O governo
federal aposta que os novos presidentes da Câmara e do Senado podem apressar a
análise das propostas de reformas que tramitam no Congresso e que não avançaram
sob a presidência de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do Democratas,
presidentes da Câmara e do Senado respectivamente. O Palácio do Planalto
acredita que se os candidatos da preferência do presidente Bolsonaro (sem
partido) forem eleitos, a “onda de impeachment”, que ganhou força
na última semana, seja dissipada.
Após a eleição das novas Mesas Diretoras em 1º de
fevereiro, matérias de impacto direto na economia e no destino do governo de
Jair Bolsonaro serão o tom do biênio que encerrará essa legislatura. Entre os
deputados, a disputa envolvendo Arthur Lira (Progressistas-AL), candidato do
Palácio do Planalto, e Baleia Rossi (MDB-SP) definirá a proposta de novo
auxílio emergencial, defendida por governistas e opositores, e o avanço ou
arquivamento de 56 pedidos ativos de impeachment do presidente da República.
As mortes de pacientes da Covid-19 no Amazonas e no
Pará por falta de oxigênio pôs fogo no debate sobre a possibilidade de um
terceiro impeachment no atual período democrático – Fernando Collor e Dilma
Rousseff caíram em 1992 e 2016, respectivamente, após enfrentarem processos. O
Planalto não quis pagar para ver. Na ofensiva para emplacar Lira no comando da
Casa e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado, o governo colocou a articulação
política em campo com a oferta de cargos e recursos e tem demitido indicados
por quem não demonstra apoio.
Numa possível prévia do jogo da cassação, a Câmara
começou a discutir uma CPI da Saúde para investigar as falhas de logística na
distribuição de testes e vacinas por parte do ministro Eduardo Pazuello, que, para
aliviar a imagem, “se mudou” para Manaus. A deputada federal paraense Vivi Reis
protocolou no STF o pedido de impeachment de Pazuello, mas o processo ainda não
tem relator.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que
evitou abertura de processo contra Bolsonaro nos últimos dois anos, considera
“inevitável” instalar a comissão.
Na última semana, o deputado Raul Henry (MDB-PE)
saiu em busca de assinaturas para a CPI. Os movimentos do partido dele são
monitorados pelo Palácio. “Para pedir CPI é preciso um fato específico.
Coloquei os fatos de Manaus, do colapso na Saúde apesar dos avisos prévios, mas
claro que, se o presidente da Câmara se dispuser a instalar, [a comissão] pode
ampliar os campos de investigação,” disse Henry. Ele evita críticas diretas a
Bolsonaro, mas deixa claro que a agenda do impeachment não
pode ser “descartada”, desde que haja “evolução dos fatos”.
Há, ainda, a iniciativa do líder da Rede no Senado,
Randolfe Rodrigues (AP), e do líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), para
uma comissão mista, que reuniria deputados e senadores. Caso eles consigam
assinaturas suficientes, as investigações só começam com o aval dos presidentes
das respectivas Casas. Para Molon, Bolsonaro só entrou “com tudo” na campanha
de Lira para “barrar” qualquer processo de impeachment. “Quanto ao
Baleia, não há qualquer compromisso para que um processo de impeachment avance,
mas a independência dele será fundamental para uma análise imparcial dos
pedidos”.
Impedimento
A lista de pedidos de afastamento de Bolsonaro deve
aumentar. Na terça-feira, partidos como PT, PDT, PSB, Rede, PCdoB e agora o
PSOL, vão apresentar pedidos de impedimento sob argumento de crime na condução
do combate à Covid-19. Dos 61 pedidos protocolados desde o início do mandato do
presidente, um não foi acolhido e quatro foram rejeitados por falhas nas
apresentações. Restam 56 ativos.
É o presidente da Câmara que analisa os requisitos
legais para iniciar a abertura de um impeachment. Se ele considerar
que há fato determinado, o pedido é lido pelo primeiro-secretário em plenário
e, a partir daí, é formada uma comissão especial de 66 deputados.
No MDB, um eventual afastamento de Bolsonaro não é
promessa de campanha de Baleia Rossi, mas o candidato atraiu a oposição com o
compromisso de “analisar” os pedidos até agora engavetados por Rodrigo Maia. O
emedebista mantém a possibilidade em aberto, no momento em que crescem pressões
dentro e fora do Legislativo para que o tema venha à pauta.
Ao longo da semana passada, ele e a colega de
partido Simone Tebet (MS), candidata à presidência do Senado, subiram o tom. Na
terça-feira (19), a senadora disse que “arroubos autoritários e machistas” de
Bolsonaro toda vez que “abre a boca” reforçam suas campanhas. Ela é menos
reticente ao tratar do impeachment. “Eu já participei de processo
de impeachment. Foram oito meses de paralisação. Posso dizer com
tranquilidade que são incompatíveis,” disse a rádios de Campo Grande na última
sexta-feira, referindo-se também a combate à Covid-19 e à agenda econômica.
A aposta dos aliados de Baleia é que a tese da
independência do Congresso pode render resultados. “Não só conquistamos uma
independência em relação ao Executivo, mas também um protagonismo que tem sido
importante para manutenção do equilíbrio institucional e econômico,” afirmou
Rodrigo de Castro, que assume a liderança do PSDB em fevereiro. “Na medida em
que você tem uma Câmara independente e um governo fraco, o governo se torna
mais dependente dos deputados”.
Para aderir à candidatura de Baleia, partidos de
oposição exigiram que ele não abrisse mão de “instrumentos constitucionais para
assegurar o respeito à Constituição”. “Hoje, o clima do impeachment mostra
que existe um clima anti-bolsonaro grande na sociedade e no parlamento,” disse
o líder do PT, Enio Verri (PR).
Do lado de Lira, oficialmente predomina a tese de
que o país precisa de chefes no Legislativo experientes, capazes de oferecer
estabilidade neste contexto de crises. “O deputado Arthur ajuda o Brasil,
jamais com subserviência ao Executivo à condução do Rodrigo Maia. Não é do
perfil dele ser dessa forma,” rebateu Fred Costa (MG), líder do Patriota,
primeiro partido a entregar apoio da bancada ao parlamentar alagoano.
Reforma tributária e ‘nova’ CPMF entram em
discussão
A reforma tributária é outro tema da pauta dos
novos presidentes das mesas do Congresso. No governo, o ministro da Economia
Paulo Guedes pretende criar um tributo sobre transações financeiras, nos moldes
da antiga CPMF, mas com alíquota mais baixa. Ele aposta na vitória de Lira para
reapresentar a proposta do novo imposto. Baleia é autor de uma das principais
propostas em tramitação no Congresso, com ideia de criar um imposto, mas em
substituição a outros três tributos federais.
Aliado de Lira, o líder do Solidariedade, Zé Silva
(MG), defende um novo imposto temporário apenas para custear uma nova fase do
auxílio emergencial. “Sou contra o aumento de carga tributária, mas não podemos
deixar as pessoas passarem fome,” disse.
A líder do PSOL na Câmara, Sâmia Bomfim (SP),
avalia que a deterioração da situação social do país vai obrigar uma discussão
mais robusta sobre o auxílio emergencial. “Com Lira, deve haver um alinhamento
total com Bolsonaro. Com Baleia, pode haver uma queda de braço semelhante à de
2020, quando a proposta da Câmara derrotou os R$ 200 que Bolsonaro queria [de
auxílio],” disse.
O auxílio emergencial é um benefício que, segundo
parlamentares, inevitavelmente será formulado. Nesse aspecto, todos os
principais candidatos mantêm discursos diferentes na fórmula, mas semelhantes
no propósito. Rodrigo Pacheco chegou a defender a revisão do teto de gastos
para encaixar a nova despesa. Arthur Lira tem dito que há chances de haver
prorrogação. O tema do teto de gastos, porém, é um desafio. “Não podemos ser
mais irresponsáveis fiscalmente,” afirma o líder do Novo na Câmara, Vinícius
Poit (SP).
Por Val-André
Mutran – de Brasília