O
substitutivo acrescenta ao Código Penal o agravante do furto qualificado por
meio eletrônico
Brasília – Por
unanimidade de votos, 76 votos a favor e nenhum contrário, o Senado aprovou o
substitutivo elaborado pela Câmara dos Deputados ao projeto de lei (PL
4.554/2020), que amplia as penas por fraudes praticadas com o
uso de dispositivos eletrônicos (celulares, computadores, tablets), conectados
ou não à internet.
O autor do projeto original é o senador Izalci
Lucas (PSDB-DF). Na Câmara dos Deputados, a proposição foi aprovada sob a forma
de substitutivo elaborado deputado federal Vinicius Carvalho (Republicanos-SP).
No Senado, esse substitutivo recebeu parecer favorável do senador Rodrigo Cunha
(PSDB-AL). Agora o texto vai à sanção da Presidência da República.
O texto altera o Código Penal (Decreto-Lei
2.848, de 1940) para agravar penas como invasão de dispositivo,
furto qualificado e estelionato ocorridos em meio digital, conectado ou não à
internet.
Para o crime de invadir dispositivo informático com
o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização do
dono, ou ainda instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita,
atualmente a pena é de detenção de três meses a um ano, além de multa. Com o
projeto, essa pena foi aumentada para reclusão entre um a quatro anos acrescida
de multa.
Já se a invasão provocar obtenção de conteúdo de
comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais,
informações sigilosas ou o controle remoto não autorizado do dispositivo
invadido, a pena será, de acordo com o substitutivo, de reclusão de dois a
cinco anos e multa. No Código Penal atual, essa pena é de seis meses a dois
anos e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
Prejuízo
econômico
Uma das alterações feitas na Câmara e confirmadas
no Senado é o agravamento da pena de um terço a dois terços quando houver
prejuízo econômico decorrente da invasão.
De acordo com Rodrigo Cunha, “tratando-se de um
crime de pequena gravidade — uma vez que a pena base, com a nova redação dada
ao artigo pelo projeto, será de um a quatro anos de reclusão — entendemos que a
elevação dos patamares mínimo e máximo da pena se dará de forma razoável.
Veja-se que se trata de um crime contra o patrimônio, logo o objeto jurídico do
tipo tem que se atentar aos danos concretos causados à vítima do crime e
repreendê-los adequadamente”.
Furto
qualificado em meio digital
Atualmente, no Código Penal, para furto qualificado
a pena é de reclusão de dois a oito anos e multa se o crime é cometido com
destruição, com abuso de confiança, mediante fraude, com emprego de chave falsa
ou mediante concurso de duas ou mais pessoas. Há agravantes se são usados
explosivos, se há roubo de carro transportado para outro estado ou exterior,
entre outros. O substitutivo acrescenta ao Código Penal o agravante do furto
qualificado por meio eletrônico, com ou sem a violação de mecanismo de segurança
ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento
similar. Nesse caso, a pena será de reclusão de quatro a oito anos e multa.
Essa pena seria aumentada de um terço a dois terços
se o crime for praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
território nacional; e de um terço ao dobro se praticado contra idoso ou
vulnerável.
Estelionato
Atualmente, pelo Código Penal, obter, para si ou
para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém
em erro, mediante fraude, leva à pena de reclusão de um a cinco anos e multa. O
texto aprovado pelos parlamentares eleva essa pena para reclusão de quatro a
oito anos e multa quando a fraude for cometida valendo-se de informações
fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido em erro, “inclusive por meio de
redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento,
ou por qualquer outro meio fraudulento análogo”.
Assim como no furto qualificado, a pena para
estelionato via meio eletrônico é aumentada se for utilizado servidor fora do
território nacional ou se o crime for praticado contra idoso ou vulnerável.
Competência
de julgamento
Outra mudança promovida pela Câmara e confirmada no
Senado foi a supressão de dois trechos, que seriam inseridos no Código Penal,
sobre que domicílio jurídico deve julgar os crimes cometidos pela internet. No
texto original do projeto, para esse tipo de crime a competência seria
determinada pelo local de residência da vítima.
“Após detida reflexão, estamos com a Câmara quando
esta compreende que a definição do domicílio da vítima, como fator definidor da
competência, poderia gerar questionamentos de ordem processual que atrasariam
trabalhos de repressão aos crimes cibernéticos, especialmente considerando que
muitas vezes a vítima não está em território nacional”, afirmou Rodrigo Cunha.
Por outro lado, a Câmara acrescentou um dispositivo
fixando a competência pelo domicílio da vítima somente quando se tratar de
crimes de estelionato praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques
sem fundos ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores.
Essa alteração também foi aprovada no Senado.
“A atual orientação jurisprudencial acaba por
estabelecer o império da impunidade em relação a essas fraudes, com grave
prejuízo à administração da justiça e à sociedade em geral. Assim, acatamos a
redação recebida da Câmara também quanto ao ponto”, disse o senador.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé
Dudu em Brasília.