Por Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil - Brasília (Foto: )
O presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, disse hoje (9) que a
implementação do voto impresso reduzirá a segurança das eleições, trazendo de
volta fraudes e falhas humanas, problemas que teriam ficado no passado com a
adoção da urna eletrônica.
“A vida vai ficar bem pior, vai ficar
parecido com o que era antes”, disse o ministro da tribuna da Câmara dos
Deputados, onde compareceu para participar de uma comissão geral sobre assuntos
eleitorais. Ele acrescentou, contudo, que se o Congresso aprovar, e o Supremo
Tribunal Federal (STF) validar, o TSE implementará o voto impresso. “Eu torço
para que ela [aprovação] não venha, mas se vier nós cumpriremos”, afirmou.
O ministro iniciou sua fala
ressaltando não haver sido documentada nenhuma fraude na urna eletrônica desde
sua adoção, em 1996. Ele voltou a defender a segurança do equipamento e lembrou
de problemas que existiam antes do sistema informatizado de votação – como a
compra de votos, o coronelismo e o clientelismo. O ministro avaliou que tais
situações podem retornar com a adoção do voto impresso.
“A verificação manual não é verificação, é um
perigo, é um risco que nós vamos criar”, disse Barroso. “Eu acho que o voto
impresso vai nos trazer um problema do qual já nos livramos, que é o
transporte, a guarda e a contagem manual dos votos”, o que seria “um
retrocesso”, ressaltou o ministro.
Para Barroso, além de abrir margem
para fraudes, um dos principais problemas do voto impresso é a possibilidade de
violação do sigilo do voto, uma vez que por meio do recibo da votação seria possível
saber a composição dos votos individuais – em quem a pessoa votou para
diferentes cargos – o que abriria caminho para identificar o eleitor.
O ministro apontou ainda o que seriam
dificuldades administrativas e orçamentárias para a adoção do voto impresso,
que segundo a estimativa do TSE custaria R$ 2 bilhões. “Talvez essa não seja a
melhor alocação de recursos no momento”, opinou Barroso. Ele lembrou que a
realização do Censo, por exemplo, foi recentemente adiada por falta de
recursos.
Confiança da população
Em seguida ao ministro, parlamentares
envolvidos na discussão do tema disseram que não basta o sistema de votação ser
seguro, sendo necessário também que a população confie nele e o entenda. Entre
os que levantaram o ponto está o relator da proposta de emenda
à Constituição (PEC) sobre o voto impresso, deputado Filipe Barros
(PSL-PR), e o presidente da comissão especial que discute o projeto, Paulo
Eduardo Martins (PSC-PR).
“É a fé da população brasileira que
nós temos que discutir”, disse Martins. “Hoje o eleitor brasileiro tem que ter
fé no software. Tem que acreditar que o que ele digitou vai ser
contabilizado e depois constar no boletim de urna. Ele não pode olhar e
conferir se foi registrado conforme a escolha dele. E por mais que se confie no
sistema, pode haver quem desconfie. Tem que haver esta confiança”, acrescentou
o parlamentar.
Em resposta, o ministro Luis Roberto
Barroso trouxe dados de uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada em
janeiro deste ano, segundo a qual 73% dos entrevistados confiam na urna
eletrônica. Ele argumentou que a adoção do voto impresso não ajudaria a dar
mais confiança ao voto e inseriria mais elementos de desconfiança.
“Achar que 2 milhões de pessoas
contando votos à mão é mais seguro que um software, que pode ser
controlado pelos partidos, é voltar à vida analógica num mundo da revolução
digital”, disse o ministro.
A sessão da comissão geral que
discute temas eleitorais segue em andamento no plenário da Câmara, com
deputados se revezando nos questionamentos ao ministro Luís Roberto Barroso.
Edição: Valéria Aguiar