
Ministro do Turismo, Gilson Machado defende decreto do governo para acabar com a cesura das empresas que controlam as redes sociais (Foto: )
Brasília – Convidado para
participar de audiência promovida pela Comissão de Fiscalização Financeira e
Controle da Câmara dos Deputados, o ministro do Turismo, Gilson Machado,
confirmou que a pasta elaborou minuta de decreto para proibir redes sociais de
excluir contas e conteúdos postados por usuário sem decisão judicial. Hoje a
exclusão é permitida quando as publicações e perfis ferem as regras da empresa.
Segundo o ministro, a minuta de decreto está agora
nos ministérios da Justiça e de Ciência e Tecnologia, e visa garantir a
liberdade de expressão e evitar arbitrariedades por parte das chamadas “big
techs”, como são conhecidas as maiores empresas que gerenciam redes sociais.
Ele defende que a norma não inova em relação ao que dispõe o Marco Civil da
Internet – principal legislação sobre a rede no país –, apenas regulamenta o
que já é lei.


“A proposta de regulamentação do Marco Civil da
Internet ainda está sendo tratada dentro do governo, e o texto ainda não está
concluído, estando aberto ainda a alterações ou até a alguma ideia que os
senhores tenham. Eu aceito propostas para que a gente nunca perca o nosso
direito à liberdade de expressão,” disse o ministro.
Machado foi criticado por deputados de diferentes partidos por defender o texto
proposto para o decreto na audiência. Os parlamentares afirmaram que o assunto
só pode ser regulado por lei.
O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), que pediu o
debate, questionou se o decreto não fere a Lei de Liberdade Econômica, que dá
às empresas liberdade de atuação, cumprida as cláusulas contratuais. Segundo
ele, ao prever a necessidade de decisão judicial para a retirada de conteúdos,
o decreto também vai criar mais demanda para a Justiça. Kataguiri avalia que o
assunto precisa ser debatido em projeto de lei, e não em decreto.


“Vocês não estariam extrapolando a competência
regulamentar legislativa de vocês próprios? E nesse sentido eu trago inclusive
um parecer da Advocacia Geral da União. Eu pergunto se Vossas Excelências têm
conhecimento de parecer da AGU [Advocacia-Geral da União] contrário, que sugere
expressamente que essas alterações propostas na portaria sejam feitas via
lei?”, questionou.
Secretário Nacional de Direitos Autorais e
Propriedade Intelectual, Felipe Carmona disse que o parecer da AGU não
inviabiliza o decreto, mas sugere que a norma poderia ser feita por medida
provisória ou por lei. Para ele, o poder de retirar conteúdo ou de decidir o
que é fake news não pode ser dado às big techs,
empresas privadas que têm monopólio de mercado. Ele acredita que o poder de
analisar os conteúdos das redes sociais deve ser do Estado – em âmbito
administrativo ou judicial. Segundo o secretário, hoje as redes sociais retiram
conteúdos sem dar ao usuário o direito de se defender.
“Hoje, quando a big techs cerceiam
sua fala, eles não falam claramente por quê. Eles podem falar discurso de ódio,
mas você não consegue se defender. Eles cautelarmente retiram o seu conteúdo,
cerceando seu direito de fala,” afirmou.
Já o deputado Leo de Brito (PT-AC) afirmou que a liberdade
de expressão não é absoluta, e obedece a marcos civilizatórios, como a
Declaração Universal de Direitos Humanos: “A internet não é terra sem lei, ela
não pode ser espaço para a reprodução de racismo, de machismo, de xenofobia,
de fake news de desinformações. Tem gente morrendo no país por
conta de fake news, porque não tomaram vacina”.
Leo de Brito pediu que, na elaboração do decreto, o
governo ouça entidades que tratam do tema, como a Coalizão de Direitos na Rede,
que reúne 40 organizações da sociedade civil. A Coalizão emitiu nota sobre o
decreto, que aponta possível crescimento de discursos de ódio e de
desinformação na internet com a norma. O parlamentar pediu que o assunto seja
debatido no âmbito da discussão do Projeto de Lei das Fake News, que
vai ser discutido por uma comissão especial da Câmara.
Por Val-André
Mutran – de Brasília
Fonte Ze Dudu