Brasília – Por 47 votos a
27, o plenário do Senado rejeitou na noite desta quarta-feira, 1º de setembro,
a Medida Provisória (MP) nº 1.045/2021, que cria o novo Programa Emergencial de
Manutenção do Emprego e promove uma minirreforma na legislação trabalhista —
apelidada de “pacotão trabalhista — impondo derrota ao governo e à aposta da
equipe econômica para impulsionar a geração de empregos.
A matéria,
conforme adiantou o Blog do Zé
Dudu, foi alterada pelos deputados na semana passada
que incluíram “jabutis” (matérias estranhas ao texto original) sendo alvo de
críticas contundentes dos senadores, não só pelo pouco tempo para discussão das
ações, mas também pelo risco de fragilização das relações trabalhistas mediante
a possibilidade de contratação sem carteira assinada. Lideranças do MDB e do
PSD, os dois maiores partidos do Senado, defenderam a derrubada do texto. A
derrota se deu em uma sessão marcada também por ataques à inflação elevada e à
política econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Ao perceber o clima desfavorável e a derrota
iminente, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), que chegou a
colocar seu cargo a prêmio como sinalização de disposição do Palácio do
Planalto em honrar acordos, tentou articular uma mudança de última hora no
relatório e excluir do texto um dos programas, o Requip, que concede bolsas de
qualificação para os profissionais mais jovens ou aqueles que estão há muito
tempo fora do mercado de trabalho.
A votação da proposta, no entanto, já havia sido
iniciada, e a maioria dos senadores se posicionou contra qualquer alteração. O
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), explicou que a iniciativa
violava o regimento interno da Casa e só poderia ser aceita se houvesse apoio
de todos os senadores.
Mas, a rejeição dos senadores à MP não estava
relacionada ao Requip ou a qualquer mudança no texto, mas sim ao fato de que
não havia confiança de que a Câmara manteria o parecer aprovado pelos senadores
— já que, nas últimas votações de MPs, os deputados têm ignorado as mudanças
propostas pelo Senado e retomado os pareceres aprovados previamente na Casa.
“Seria inócua (a alteração)”, afirmou.
Horas antes da rejeição no Senado, Guedes propagava
a empresários que os programas ajudariam a gerar 2 milhões de novas vagas. O
ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, chegou a dizer que seriam 3
milhões de empregos.
O texto original da MP reinstituiu o programa que
permite redução de jornada e salário ou suspensão de contratos na pandemia com
24 artigos. Na Câmara dos Deputados, a proposta foi amplificada para 95 artigos
e ganhou a previsão de três novos programas de geração de empregos, além de
mudanças em dispositivos da CLT, classificados de “jabutis” (matérias estranhas
ao texto) por incluírem mudanças em horas extras de categorias profissionais
como professores, advogados e jornalistas, ampliação da carga horária de
mineiros e mudanças na assistência judiciária gratuita a trabalhadores.
Na tentativa de evitar a rejeição total do texto, o
relator no Senado, Confúcio Moura (MDB-RO), decidiu excluir os dispositivos que
alteravam a CLT, atendendo a pedidos de senadores. No entanto, ele manteve a
criação dos novos programas de emprego e defendeu as medidas como iniciativa
para ampliar a empregabilidade de jovens.
Medidas contra o desemprego
O texto previa três programas: o Priore, que quer
desonerar a contratação de jovens de 18 a 29 anos e pessoas com mais de 55
anos, o Requip, que concede bolsas de qualificação para os profissionais mais
jovens ou aqueles que estão há muito tempo fora do mercado de trabalho, e o
serviço social voluntário, pelo qual prefeituras terão flexibilidade para
absorver mão de obra jovem ou com mais de 50 anos.
O senador Lasier Martins (Podemos-RS) também teceu
críticas e chamou a inclusão dos programas de “contrabando legislativo”.
Integrantes da oposição, os petistas Jean Paul Prates (PT-RN) e Paulo Rocha
(PT-PA) chamaram as iniciativas de “jabutis”, como são apelidadas as matérias
estranhas ao texto original.
“Tem jabuti do tamanho de jacaré. E jacaré morde,
morde direitos trabalhistas”, afirmou Prates. “Colocaram jabuti, sucuri, sei lá
mais o que colocaram nessa medida provisória”, disse Rocha.
Críticas
Na tentativa de reverter a tendência negativa, o
líder do governo Fernando Bezerra ameaçou deixar o cargo caso a Câmara
desrespeitasse o acordo pela aprovação da medida trabalhista. Ele partiu para o
tudo ou nada. “Se o relatório do senador Confúcio Moura aprovado aqui nesta
Casa não for respeitado pela Câmara dos Deputados, eu me retiro da liderança do
governo. Não tenho condições de continuar porque os acordos estão sendo feitos
para serem cumpridos”, afirmou.
Mais cedo, o senador Weverton (PDT-MA) também citou
a inflação elevada e o aumento da pobreza. “Chega! Acabou a paciência. Temos
que dar resposta pelo voto”, disse. “A carne está um absurdo, o gás está um
absurdo. A economia do governo falhou, a população lá embaixo está com fome”,
acrescentou.
O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM),
também declarou voto contrário à proposta. A legenda tem 16 senadores. “Nenhum
senador da República neste plenário quer tirar direitos do trabalhador.
Queremos, sim, um amplo debate para modernizar as leis trabalhistas, mas não
para tirar direito do trabalhador”, afirmou Braga.
Val-André Mutran –
É correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.
Fonte Ze Dudu