Reunião dos governadores com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Foto: )
Brasília – Senadores
líderes de partido não gostaram do texto aprovado na noite de quinta-feira (2),
na Câmara dos Deputados, ao projeto de lei (PL 2.337/2021) que altera as regras
do imposto de renda. Há negociações para ou rejeitar a matéria ou juntar o
texto aprovado na Câmara com proposta mais ampla — a PEC
110/2019 — que tramita na Casa. Cálculo feito pelo
economista Sergio Gobetti para o Comitê Nacional de Secretários Estaduais de
Fazenda considera o rombo aberto com o relatório do deputado Celso Sabino
(PSL-PA) encolhe a arrecadação em R$ 53,6 bilhões, e aumenta o imposto para
pessoas físicas com ganhos acima de R$ 4,8 mil. O partido Novo protestou,
porque o valor, corrigido pela inflação seria R$ 6,5 mil.
O governo comemorou a aprovação, mas a vitória pode
ser apenas temporária. A 6ª versão do substitutivo do deputado Celso Sabino é
considerada pela maioria dos líderes do Senado um “Frankstein”. Entre outras
mudanças, a proposta amplia a faixa de pessoas que são isentas da declaração,
permite que qualquer contribuinte opte pela declaração simplificada, taxa
lucros e dividendos retirados pelos sócios de médias e grandes empresas e
amplia benefícios para micro e pequenas empresas.
Na votação dos destaques apresentados à proposta, o
Plenário aprovou uma emenda que alterou a alíquota de tributação dos dividendos
pagos pelas empresas aos seus sócios. O texto do relator previa uma taxação de
20%, mas o percentual foi reduzido para 15% depois de um acordo firmado entre
vários partidos liderados pelo PT.
Estarão isentos do pagamento deste tributo os
sócios de empresas optantes do Simples ou aquelas que são tributadas pelo lucro
presumido e têm faturamento anual de até R$ 4 milhões e 800 mil reais.
Deputados da oposição criticaram a redução. Para o
deputado Carlos Zarattini (PT-SP), a alíquota de 20% fazia justiça.
“É um absurdo reduzir a tributação dos empresários,
daqueles que ganham, pagarem menos que o trabalhador da própria empresa. Quer
dizer, a alíquota é ínfima. Nós já tínhamos proposto 25%, perdemos. Queremos
manter 20%, que consideramos justo e é sim o acordo com o relator”.
A redução da alíquota foi defendida por diversos
partidos, que argumentaram que 20% penalizavam os empresários. O deputado Hugo
Motta (Republicanos-PB) defendeu a redução.
“É um gesto a quem carrega este país nas costas,
gerando emprego e gerando renda, que é o nosso setor produtivo. Não tem um país
forte, não tem uma economia pujante sem um setor produtivo estimulado a
investir no nosso país. Essa redução é fruto de uma ampla negociação, não só
com os líderes dessa casa, mas também nas conversas que foram tidas com a casa
ao lado, o Senado federal”.
A mudança no texto não agradou o relator, Celso
Sabino. Ele defendeu o texto original e a alíquota maior, aprovada no dia
anterior, mas disse que a proposta contém avanços em relação às regras atuais,
ao reduzir tributos para micro e pequenas empresas e beneficiar pessoas físicas
com ampliação da faixa de isenção.
“Ontem, premiaram com a vitória da aprovação do
nosso texto bandeiras importantes que vem sendo defendidas pelo Parlamento há
muitos anos, bandeiras que eu faço questão de mencionar: o fim dos juros sobre
capital próprio, a volta da tributação dos lucros e dividendos, com a alíquota
de 20% que foi aprovada no nosso relatório. E eu venho aqui para defender o
relatório que foi aprovado ontem. Inclusive já fiz o meu voto, no sentido de
não a este destaque”.
Além de taxar a distribuição de dividendos, a
proposta acaba com os chamados juros sobre capital próprio, uma maneira de
distribuir lucros das empresas pagando menos impostos.
O projeto também aumenta a faixa de isenção do
imposto de renda. Hoje, só não paga imposto de renda quem ganha até R$ 1.900,00
por mês. A proposta aumenta essa faixa para quem ganha até R$ 2.500,00 por mês,
um reajuste de 31% da tabela, o que fará com que 16 milhões de pessoas fiquem
isentas.
A proposta também aumenta a faixa de quem paga a
maior alíquota de imposto de renda. Hoje, quem ganha mais de R$ 4.664,00 paga
27,5%. Se a proposta virar lei, este percentual será aplicado a quem ganhar
mais que R$ 5.300,00.
O projeto ainda reduz a alíquota-base do imposto de
renda das pessoas jurídicas de 15% para 8%. A alíquota adicional permanece em
10%. Então a alíquota do imposto de renda das empresas cai de 25% para 18%.
Além disso, permite que qualquer contribuinte opte
pela declaração simplificada do Imposto de Renda, mas reduz o desconto no
pagamento dos atuais R$ 16,7 mil para R$ 10 mil e 500.
Depois da aprovação do texto principal da proposta,
antes mesmo da votação dos destaques, o presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), disse que o projeto faz justiça social e foi aprovado graças ao
diálogo dos líderes de todos os partidos.
“Esse projeto não é um projeto de governo, é um
projeto de Estado. Esse é um projeto de toda a Câmara, é um projeto de todas as
lideranças, que tiveram um trabalho árduo, longo, de convencimento de todos os
senhores deputados. Se nós não tivemos unanimidade é porque este tema não
carece, não precisa e não era possível. E dizer que este projeto inova no
Brasil, fazendo cobrança de dividendos, fazendo justiça social”.
O projeto que altera as regras do imposto de renda,
amplia a faixa de pessoas isentas, taxa lucros e dividendos retirados pelos
sócios de grandes empresas e amplia benefícios para micro e pequenas empresas
segue agora para análise do Senado.
Pressão
Em reunião ocorrida na quinta com o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), enquanto a matéria era votada na Câmara,
governadores adiantaram que vão trabalhar com suas bancadas no Senado para
derrubar o texto aprovado na Câmara.
Segundo o estudo do economista Sergio Gobetti para
o Comitê Nacional de Secretários Estaduais de Fazenda (Comsefaz), o projeto
preparado pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, continha um
aumento de arrecadação de aproximadamente R$ 12 bilhões, enquanto o texto que
saiu da Câmara tem um rombo líquido de R$ 41,1 bilhões para União, Estados e
municípios. “Isso é inaceitável”, disse Helder Barbalho (MDB), governador do
Pará, que criticou a proposta porque não foi apontado ua fonte de compensação
aos estados.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília
Fonte Ze Dudu.