Por Reuters
O ex-juiz disse que é preciso impedir que as estruturas do poder sejam
capturadas (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)
O ex-juiz Sergio Moro disse nesta quarta-feira que
o Brasil tem que escapar dos
extremos, em um discurso de presidenciável durante sua filiação ao Podemos, com
recados indiretos ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atuais líderes das pesquisas
eleitorais.
Em sua fala, Moro disse que não tem um projeto pessoal de poder, mas sim
de país e que deseja construir. Destacou que poderá ser o nome para liderar o
processo ao apresentar uma plataforma de candidatura com ênfase no combate à
corrupção, a criação de uma força-tarefa de erradicação da pobreza, reformas e
privatizações.
“Essas são apenas algumas ideias para o nosso projeto de país. Queremos
construí-lo com vocês aqui presentes, com a sociedade e com o povo brasileiro.
Podemos construir juntos um Brasil justo para todos. Esse não é um projeto
pessoal de poder, mas sim um projeto de país. Nunca tive ambições políticas,
quero apenas ajudar”, disse.
“Se, para tanto, for necessário assumir a liderança nesse projeto, meu
nome sempre estará à disposição do povo brasileiro. Não fugirei dessa luta,
embora saiba que será difícil. Há outros bons nomes que têm se apresentado para
que o país possa escapar dos extremos da mentira, da corrupção e do
retrocesso”, reforçou.
Mesmo admitindo ter sido aconselhado a não falar de corrupção, o
principal nome da Lava Jato defendeu em vários momentos o legado da operação e o combate à
prática criminosa citando a palavra corrupção 19 vezes no pronunciamento como
meio para o país sair da atual dificuldade por que passa.
Moro sugeriu três mudanças: o fim do foro privilegiado e da reeleição
para cargos no Executivo, chamando-os de privilégios da classe dirigente, e a
volta da execução de condenações criminais em segunda instância entendimento
revertido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro
de 2019 e que tirou da cadeia uma série de punidos pela operação como o ex-presidente
Lula.




A prisão de Lula determinada inicialmente por Moro tirou o petista,
então favorito, do páreo na sucessão de 2018 e teve reflexos diretos na vitória
de Bolsonaro, de quem se tornou o primeiro ministro da Justiça e Segurança
Pública.
Neste ano, as condenações contra Lula foram anuladas pelo Supremo
Tribuinal Federal, que ainda considerou Moro parcial nos protestos contra o
petista.
O ex-juiz disse que é preciso impedir que as estruturas do poder sejam
capturadas.
“É um projeto para termos um governo de leis que age em benefício de
todos e não apenas de alguns. Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de
petrolão, chega de rachadinha, de orçamento secreto. Chega de querer levar
vantagem em tudo e enganar a população”, destacou ele, no momento em que foi
fortemente aplaudido pela plateia em Brasília.
Sem um mea-culpa, Moro ignorou na fala percalços por que passou em razão
das revelações da Vaza Jato reportagens que apontaram conluio dele como juiz e
procuradores na Lava Jato.
Também foi simplista quando disse que se sentia no dever de ajudar como
juiz da Lava Jato e não poderia se omitir ao aceitar convite para virar
ministro da Justiça de Bolsonaro.
Após listar realizações no Executivo, o ex-ministro disse que teve seu
trabalho boicotado e houve quebra de promessa no combate à corrupção, sem
proteger quem quer que seja.
Para ele, continuar no governo seria uma farsa. Ele justificou sua volta
ao Brasil após morar por mais de um ano nos Estados Unidos, período em que
trabalhou para uma consultoria para ajudar a construir um projeto que é de
muitos.
Moro é um dos principais nomes da chamada terceira via, candidatos que
tentam superar polarização entre Bolsonaro e Lula. Entretanto, na última
pesquisa Genial/Quaest, o petista venceria o ex-magistrado por 57% a 22% num
eventual segundo turno.
Economia
Se foi detalhista em questões de corrupção, o ex-juiz não deu grandes
informações sobre suas propostas para a economia. Defendeu a privatização de
estatais ineficientes, responsabilidade fiscal e respeito ao teto dos gastos
públicos, uma agenda de reformas, citando a tributária, a queda da inflação e o
desenvolvimento sustentável.
“Precisamos nos unir em torno de um projeto que tenha pelo menos as
seguintes linhas essenciais: combater a corrupção como meio de viabilizar as
reformas, erradicar a pobreza, diminuir as desigualdades, controlar a inflação, preservar a responsabilidade fiscal, fomentar o emprego e o
desenvolvimento sustentável, prover serviços de saúde, educação e segurança de
qualidade, proteger a família, cultivar as liberdades e o respeito com o
próximo e com o diferente. Tudo está conectado. Todos estamos juntos”, advogou.
Para Moro, reformas estão sendo aprovadas, mas ninguém está pensando nas
pessoas. Segundo ele, até iniciativas boas como o aumento do Auxílio Brasil, programa social que substitui o
Bolsa Família, tem coisa “ruim junto” como calotes de dívidas, o furo no teto e
o aumento de recursos para outras coisas que não são prioridades.