Reunião anual do Conselho Diretor da Associação PanAmazônia/Divulgação (Foto: )
Brasília – Aprovada na
Câmara dos Deputados em dois turnos e aguardando o exame e votação do Senado
Federal, o projeto de emenda constitucional nº 23/2021, a PEC dos
Precatórios, é motivo de preocupação das empresas que compõem
a Associação PanAmazônia.
Em nota, a entidade expressa preocupação com os efeitos negativos que
impactarão na economia pós-pandemia.
A PEC 23/2021, limita o valor de despesas anuais da
União com precatórios — dívidas do governo já transitadas e julgadas pela
Justiça. A proposta também corrige os valores dos precatórios exclusivamente
pela Taxa Selic e muda a forma de calcular o teto de gastos. Na prática, a PEC
viabiliza o financiamento do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família que,
oficialmente, não existe mais.
Entretanto, após análise de seu conteúdo, reunião
do Conselho Diretor emitiu uma nota pública a qual o Blog do Zé Dudu teve
acesso. Os membros do conselho são presidentes, diretores e CEOs de empresas da
Amazônia continental (nove estados da Amazônia brasileira, mais Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), todos comprometidos com
o ideal de fortalecer a Amazônia por meio do estreitamento de laços e de
intercâmbios em diversas áreas.
A nota não discute o mérito e até a obrigação do
governo de garantir um programa social que beneficie as famílias mais
vulneráveis do país. “Entendemos o momento complexo e o dificílimo dilema que
se apresenta diante do governo federal, com o qual nos solidarizamos.
Compreendemos, igualmente, a importância de oferecer auxílio às famílias mais
necessitadas e de minimizar as consequências da extrema pobreza no País. O
objetivo é nobre e de absoluta relevância”, diz a nota.
“Porém, cabe ponderar que alterar as regras do jogo
resulta em insegurança e incerteza, sinalizando para o mercado um ambiente de
instabilidade, o que pode acarretar efeitos nocivos à economia. Vale salientar
que empresários aceitam o risco, o que é inerente a qualquer negócio, mas não a
falta de garantias regulatórias e legais”. Na avaliação dos conselheiros, o
país fica exposto e gera desconfiança interna e externa, na medida em que
tomadores de decisão sobre investimentos no país, perceberem que a aprovação da
PEC abrirá um precedente perigoso, que vem acompanhado de quebra de contratos e
insegurança jurídica, não restando outra alternativa do que suspender
investimentos e ingressar judicialmente contra os efeitos da emenda
constitucional.
A nota prossegue destacando: “A PEC dos
Precatórios, que segue para votação no Senado, causa preocupação de que suas
auspiciosas intenções venham a resultar no oposto do esperado ao prejudicar
muitas empresas, algumas das quais, após longuíssimo processo judicial e
obtenção de seu direito, terão adiado o recebimento dos créditos reconhecidos
judicialmente. Ademais, muitas dessas empresas, ao obter a decisão judicial
favorável, foram obrigadas a reconhecer como “lucro” o recurso oriundo dos
precatórios, vendo-se obrigadas a pagar a totalidade do imposto devido, sem,
contudo, receber os valores na sua integralidade.”
Efeitos negativo no caixa das empresas
A nota destaca que “algumas empresas contavam com o
pagamento dos precatórios para aliviar o caixa dos impactos e prejuízos
advindos da pandemia. O ingresso desses recursos contribuiria para preservar
empregos, para promover novos investimentos e daria fôlego ao empresariado”. O
texto é elegante e respeitoso, porém, os empresários não querem ser vítimas do
que realmente acontecerá: um calote, caso o projeto seja confirmado no Senado.
Os conselheiros concluíram que: “A PEC viola o
direito adquirido de quem já tem precatórios a receber, dos quais, parte é,
inclusive, decorrente de erros da administração pública. As empresas, portanto,
são penalizadas seguidas vezes, o que, além de injusto, corrobora para a
deterioração do cenário geral de investimento no País ao gerar insegurança
jurídica.”
“Cabe salientar ainda que as empresas prejudicadas
pelo parcelamento, seguramente, litigarão novamente, prolongando ainda mais a
duração dos já demorados processos judiciais, gerando mais sobrecarrega para o
poder judiciário”, diz a nota. A judicialização de processos já decididos pela
justiça a favor das empresas e cidadãos abre um precedente inaceitável e que
coloca em risco a seriedade de um país que altera regras constitucionais
consagradas pelo direito internacional, como a segurança e garantia de
contratos nas relações entre os entes econômicos de uma nação.
A reportagem consultou um advogado especialista em
direito internacional que alertou: “Em última análise, com a aprovação dessa
PEC, aos olhos do direito internacional, o Brasil jamais ingressará na OCDE”.
Há décadas o país tenta ser aceito como membro da Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas, por uma série de fatores restritivos
de regras do organismo, o país anualmente é barrado como um dos sócios.
A nota da Pan Amazônia conclui: “Diante do exposto,
exorta-se toda a sociedade, o governo federal, e, especialmente, os Senadores
da República que, em breve, votarão a matéria, a que ponderem profundamente
sobre os efeitos negativos da referida PEC para a economia nacional e para o
próprio Estado de Direito, e que se dediquem a encontrar outra alternativa para
a obtenção de recursos financeiros por meio da redução de despesas, reforma
administrativa e remanejamento do orçamento, respeitando o teto dos gastos
públicos”.
O documento é assinado pelos conselheiros diretores
da Associação PanAmazônia e foi encaminhada para os gabinetes das bancadas
federais no Congresso Nacional para conhecimento e pedido de apoio.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé
Dudu em Brasília.
FONTE ZE DUDU