Sessão de abertura do ano legislativo, na quarta-feria (2) (Foto: Jornal O Niquel)
Brasília – Após a
abertura do ano legislativo na quarta-feira (2), o único consenso até firmado
entre os congressistas e líderes partidários é de que o Congresso Nacional não
pode parar as votações em ano eleitoral como tradicionalmente é visto e tem até
apelido: “recesso branco”. O desafio defendido pelos líderes é que essa triste
tradição seja definitivamente expurgada da prática política, especialmente pela
elite que a pratica, que são os deputados federais e senadores da República.
No entendimento dos líderes dos partidos, a quem
cabe, em comum acordo com os presidentes das duas casas, Câmara e Senado, a
definição das prioridades dos partidos para o novo ano legislativo. A palavra
final do que entra na pauta de votações cabe aos presidentes da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL) e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O sistema funciona para
manter a harmonia dos trabalhos, uma vez que o colégio de líderes é consultado
e tem grande influência no processo que define quais propostas vão ser
analisadas a cada sessão em Plenário.
Para o líder do PC do B, deputado Renildo Calheiros
(PC do B-PE), a prioridade das prioridades é a votação de propostas relativas à
pandemia e à saúde. “O PC do B irá lutar pela volta do auxílio emergencial no
valor de R$ 660,00. Esse auxílio é muito importante para milhões de brasileiros
que ficaram completamente desassistidos durante todo o período da pandemia, que
ainda persiste. Um outro projeto importante é que nós queremos concluir o
projeto de lei que cria o piso salarial dos enfermeiros e enfermeiras, dos
auxiliares e técnicos de enfermagem e das parteiras”, defendeu.
Falando pelo seu partido, o deputado Tiago Mitraud
(Novo-MG) argumenta que o parlamento não deve ficar paralisado por causa das
eleições gerais de outubro. Para o líder do Novo, o Congresso deve retomar a
análise de grandes temas como as reformas de Estado. O Novo é o único partido
no Parlamento que se recusa em utilizar o Fundo Partidário e Eleitoral, e em
nota, distribuída à imprensa na quinta-feira (3), disse que a legenda não
participará de nenhuma federação partidária.
De acordo com o líder, “a gente precisa aprovar,
ainda em 2022, as reformas relacionadas: a nossa reforma tributária, a reforma
administrativa e o ajuste fiscal. A gente também precisa fazer avançar aqui no
Congresso as pautas de combate a privilégio e combate à corrupção. É
inaceitável que a PEC em segunda instância não tenha sido votada, assim como a PEC
do foro privilegiado”, criticou.
Assuntos que o vice-líder do MDB, deputado Hildo
Rocha (MDB-MA), afirma que o partido pretende ver aprovado, tal como o projeto
de combate à divulgação de notícias falsas, conhecidas como fake news (notícias
falsas), e a reforma do Código de Processo Penal.
Há projetos engavetados há mais de uma década e que
precisam avançar para dar uma satisfação aos eleitores, argumenta Hildo Rocha.
“A Câmara dos Deputados ficou devendo a aprovação de alguns projetos no ano de
2021. Um deles, que eu posso citar, que vem beneficiar toda a população
brasileira, é o novo Código de Processo Penal, projeto que já foi aprovado no
Senado Federal em 2010. E este projeto de lei moderniza o Código de Processo
Penal, além de facilitar o acesso a provas criminais. O projeto agiliza os
processos penais”, garante.
Projetos que facilitam e desburocratizam a formação
de parcerias-público privadas estão entre as prioridades do Republicanos, como
ressalta o líder do partido, deputado Vinícius Carvalho (Republicanos-SP).
“O PL 7063/2017, que altera a lei do marco legal
das concessões e parcerias público-privada, tem o objetivo de incentivar as
empresas a aderirem aos projetos de concessão e de parceria público-privada,
com o estabelecimento de um marco regulatório novo. O projeto desburocratiza os
grandes processos de concessões e parcerias públicas e privadas no país e deve
ser votado urgentemente”, disse Carvalho.
O PSOL quer para este ano legislativo a votação de
pautas ligadas aos direitos das mulheres e ao sistema de cotas nas
universidades, conforme defende a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ), ex-líder
do partido que será substituída no cargo pela colega de São Paulo Sâmia Bomfim.
“Há projetos importantes que devem avançar como,
por exemplo, garantir aposentadoria para nós, mulheres, por cuidado materno.
Que o tempo de trabalho materno conte para fins previdenciários, para as
mulheres que precisaram sair do trabalho para cuidar de seus filhos. É ano
também de revisar a política de cotas, que foi fundamental para democratizar a
universidade, para popularizar a universidade”, destacou a deputada que também
é professora universitária.
Pauta econômica
Em entrevista coletiva aos jornalistas que cobrem o Congresso Nacional, o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, na abertura dos trabalhos
legislativos, que a Casa foi a grande fiadora da estabilidade política no País.
Em seu discurso, Lira afirmou que a instituição segurou trancos, sobressaltos,
arrefeceu crises e diminui a pressão. Ele defendeu o Poder Legislativo como o
poder mais transparente e democrático da República.
“Quero ressaltar que, independentemente da
conjuntura futura, o que o Brasil conseguiu aqui é definitivo. E como Poder
mais transparente e democrático da República não permitiremos retrocessos
discricionários e quiçá imperiais”, sem apontar culpados.
O presidente destacou as votações importantes do
ano passado como a reforma tributária, a autonomia do Banco Central, a
regulamentação fundiária, o licenciamento ambiental, e a alteração da lei de
improbidade administrativa.
“A Câmara dos Deputados continuará empenhada em
prover os meios e construir soluções para enfrentar a pandemia da covid-19,
como tem atuado durante todo este difícil período; e aqui incluo deputados de
todas as correntes e partidos, de governo ou de oposição: sou testemunha do
esforço de todos”.
O presidente da Câmara afirmou que os maiores
desafios a serem enfrentados nos próximos anos são o desemprego e a inflação,
“sem truques ilusionistas ou aventuras temerárias”. Lira ressaltou ainda a
necessidade de respeito à responsabilidade fiscal. “Isso gera previsibilidade e
confiança para os agentes econômicos”. Lira também cobrou mudanças nos preços
dos combustíveis. E lembrou que a Câmara aprovou o Projeto de Lei Complementar
(PLP 11/2020) que altera a cobrança do ICMS dos combustíveis.
“O desemprego e a inflação são dois adversários que
precisamos confrontar em 2022. Eles precisam ser vencidos com os instrumentos
testados e reconhecidos pela ciência econômica”
Senado adiou votação em Plenário para a próxima
semana
Enquanto a Câmara dos Deputados aprovou mais de 10
matérias entre quarta e quinta-feira, o Senado Federal ficou devendo.
A sessão deliberativa do Plenário prevista para
quinta-feira (3) foi cancelada pela Presidência do Senado, após acordo de
líderes feito durante a manhã. No primeiro encontro das lideranças partidárias
de 2022, os parlamentares optaram por tratar somente da pauta de votações da
semana que vem.
Segundo o senador Jean Paul Prates (PT-RN), ficou
definida a realização de uma sessão do Congresso Nacional para terça-feira (8)
para votação dos vetos presidenciais pendentes. “Há vetos importantes que
precisam ser deliberados, como o da pobreza menstrual, do marco regulatório das
ferrovias, da Lei Assis Carvalho, que traz socorro financeiro a agricultores
familiares, e ainda várias questões relativas ao Orçamento. A pauta ainda vai
ser divulgada”, disse Jean Paul, líder da Minoria.
Na quarta-feira (2), durante sessão que reabriu os
trabalhos legislativos de 2022, o presidente Rodrigo Pacheco já havia garantido
aos demais parlamentares que marcaria sessão do Congresso logo nos primeiros
dias de fevereiro para apreciação dos vetos pendentes.
Nenhum deputado ou senador do Pará foi encontrado
para prestar declarações à reportagem.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.