A Lua será o trampolim para uma missão ao planeta vermelho: Marte (Foto: )
Brasília – Em plena
crise mundial e fortes impactos que abalaram as economias dos maiores países do
mundo devido a pandemia da Covid-19 que assola o planeta há dois anos e sem
data para ser controlada, países, empresas e organizações darão início nesse
ano à maior corrida espacial da civilização humana. Estados Unidos, China,
Rússia, França, Japão, Índia, Japão, Coreia do Sul, Brasil e Emirados Árabes
Unidos participarão de missões ao satélite natural da terra, investindo para
isso centenas de bilhões de dólares.
Quem sai na frente é a Nasa, a agência espacial
americana. Em 2022 será o pontapé inicial do seu programa Artemis. A agência
está patrocinando várias outras missões à Lua para levar equipamentos e
suprimentos que serão usados por futuros astronautas. O Brasil participará do
projeto Artemis. No ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) assinou o
protocolo com os americanos detalhando qual será o papel do país na missão.
A Índia, Japão, Rússia, Coreia do Sul e Emirados
Árabes Unidos também vão lançar missões lunares neste ano —e, assim como estes
países, várias empresas também vão participar da corrida para chegar na Lua.
Todos estes voos espaciais serão não tripulados e,
em sua maioria, estarão preparando o terreno para uma presença humana
sustentável na superfície da Lua em menos de uma década.
Mas este também não é o objetivo final — a criação
de uma estação espacial lunar é apenas um passo a caminho de missões tripuladas
para o planeta vermelho, Marte.
Zoë Leinhardt, astrofísica da Universidade de
Bristol, no Reino Unido, acredita que este ano vai marcar o início de uma nova
corrida espacial envolvendo novos países.
Enquanto muitas destas missões visam examinar a
própria Lua, outras têm aspirações mais elevadas.
“Algumas missões têm objetivos de longo prazo
estabelecidos mais além, e as missões à Lua são tanto uma prova de conceito,
quanto uma oportunidade para testar novas tecnologias e colaborações”, diz
Leinhardt em entrevista à BBC de Londres.
Os cientistas da Nasa estarão observando de perto a
espaçonave Orion
Como será cada missão e qual sua finalidade?
Missão Artemis-1 e Capstone – Nasa (Estados Unidos,
Brasil e outros países)
O ambicioso programa espacial Artemis, da Nasa,
visa levar humanos de volta à Lua até 2025.Em março deste ano, a missão
Artemis-1 começará a preparar o terreno para esta meta ambiciosa.A missão não
será tripulada, com exceção de um “Moonikin”, que ocupará o assento do comandante
da Artemis 1. Trata-se de um manequim realista que recebeu o nome de Arturo
Campos, engenheiro que foi fundamental para trazer a Apollo 13 com segurança de
volta à Terra nas missões da década de 70 do século passado.O papel de Campos
será testar o mesmo traje espacial que os astronautas da Artemis vão usar
durante o lançamento, entrada e outras etapas dinâmicas de suas missões.O novo
Space Launch System (SLS) da Nasa — o foguete mais poderoso do mundo já
construído — lançará a missão e levará a espaçonave Orion ao redor da Lua para
testar a segurança do veículo de tripulação.A Nasa estará observando
atentamente os dados do escudo térmico da Orion durante sua reentrada em alta
velocidade na Terra, a quase 2.760 graus Celsius.Ainda neste ano, outro elemento-chave
do programa Artemis vai dar um passo importante.A Capstone — sigla em inglês
para Experiência de Navegação e Operações Tecnológicas do Sistema de
Posicionamento Autônomo Cislunar— é a missão pioneira do programa Artemis.A
Nasa lançará um satélite do tamanho de um forno de micro-ondas ou um CubeStat,
a espaçonave da Capstone, também em março de 2022, para testar uma órbita
centrada na Lua, girando junto com a mesma enquanto ela orbita a Terra.O
objetivo é garantir a segurança dos astronautas em viagens futuras.
Objetivo final: Marte
As informações que serão obtidas com este teste
ajudarão a validar modelos operacionais para outro componente chave do programa
Artemis — o Gateway.A Nasa o descreve como “um posto avançado multifuncional
orbitando a Lua, que oferece suporte essencial para o retorno humano de longo
prazo à superfície lunar”.Se tudo correr como planejado, em 2025, a Artemis-3
deve fazer o primeiro pouso na Lua desde a missão Apollo 17 em 1972.A missão
também está programada para incluir a primeira mulher astronauta e a primeira
pessoa negra a pisar na Lua.Hannah Sargeant, cientista planetária da
Universidade da Flórida Central, nos EUA, observa que esse foco na Lua faz
parte de uma visão mais ampla.O Gateway também se destina a ser uma base de
apoio para a exploração do espaço profundo.“Missões robóticas à Lua são um dos
primeiros passos nesse roteiro, levando a uma estação espacial lunar, uma base
lunar e, finalmente, a missões tripuladas a Marte”, diz ela.
Missões da Índia, Japão e Emirados Árabes Unidos
Outros países e empresas também estão de olho na
Lua neste ano.Alguns estarão realizando pesquisas, enquanto outros vão entregar
suprimentos e equipamentos.Dois anos após uma tentativa de pouso fracassada na
Lua, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO, na sigla em inglês) está
planejando uma missão de exploração lunar chamada ‘Chandrayaan-3’.Uma
espaçonave transportando um robô lunar e um módulo de pouso estacionário será
lançada no terceiro trimestre de 2022.O Japão, por sua vez, tem dois projetos
lunares ambiciosos para este ano.A Jaxa, agência espacial japonesa, planeja
lançar um módulo de pouso lunar em abril de 2022.Chamado SLIM (sigla em inglês
para “módulo de pouso inteligente para investigar a Lua”), ele demonstrará
técnicas precisas de alunissagem e reconhecerá crateras lunares aplicando
tecnologia de sistemas de reconhecimento facial.O telescópio espacial X-Ray
Imagining and Spectroscopy Mission (XRISM) também estará a bordo.E a empresa
espacial japonesa, ispace Inc., também enviará um módulo de pouso para a Lua no
segundo semestre de 2022. A missão 1 (M1) faz parte do programa de exploração
comercial lunar da Jaxa, ‘Hakuto-R’, por meio do qual dois robôs exploradores
serão implantados.Um deles é construído pela própria Jaxa — um robô de duas
rodas de pequena escala que vai explorar a superfície da Lua.O outro robô que a
empresa japonesa vai implantar é dos Emirados Árabes Unidos, chamado Rashid. É
um veículo de quatro rodas encarregado de testar o solo da Lua.
A missão russa Luna 25 pousará no polo sul da Lua
Missão russa Luna 25 e orbitador lunar da Coreia do
Sul
A Rússiaprepara a primeira missão do país à
superfície da Lua em 45 anos — e deve ser a primeira missão a pousar no polo
sul do satélite. Esta é a área que a Nasa está considerando para missões
lunares tripuladas.A agência espacial russa, Roscosmos, programou o lançamento
para julho de 2022.
O Instituto de Pesquisa Aeroespacial da Coreia, a
agência espacial da Coreia do Sul, lançará o Orbitador Lunar Coreano Pathfinder
(KPLO) para a Lua um mês depois, em agosto de 2022.
O KPLO vai estudar a superfície da Lua e ajudará a
planejar futuras missões aos polos lunares.
Robôs comerciais da Nasa
As empresas privadas também estão na corrida para a
Lua.Sob um programa da Nasa chamado Commercial Lunar Payload Services (CLPS),
as companhias vão competir para fornecer serviços de transporte para a
superfície da Lua.Participam do programa a Intuitive Machines, com sede em
Houston (Texas), pretende usar um robô lunar de seis patas chamado Nova-C para
transportar cargas úteis para a superfície da Lua no início de 2022.Uma missão
posterior será lançada pela Astrobotic Technology, com sede na Pensilvânia, em
meados de 2022.A Peregrine Mission 1, da empresa, levará cargas úteis de pesquisa
científica com um módulo de pouso de quatro patas em forma de caixa.
Qual é o objetivo destas missões?
A maioria das missões programadas vão examinar o
ambiente lunar, com o objetivo de encontrar maneiras de proteger tripulações e
equipamentos de qualquer ameaça, como poeira lunar e vento solar intenso.As
missões também darão aos cientistas a oportunidade de testar os protótipos de
equipamentos e experimentos que podem ser usados para gerar recursos como a
água.A cientista planetária Hannah Sargeant, explica: “Queremos garantir que
estas máquinas funcionem antes de enviarmos nossas equipes para lá, que vão
depender dos suprimentos preciosos que elas geram”.“Por fim, estes suprimentos
podem ser usados para produzir o combustível necessário para enviar missões
avançadas a Marte”, completa.“A Lua também atua como uma plataforma de testes
para tecnologias que gostaríamos de usar um dia no planeta vermelho. Está muito
mais perto de casa, a apenas três dias de distância, do que os pelo menos seis
meses necessários para chegar a Marte”.
Imagem distribuída pela China National Space
Administration (CNSA) mostra o rover chinês em Marte
China e Rússia
“A China tem um programa ambicioso, tem recursos
para equipá-lo e tem um plano”, disse Alexander Gabuev, bolsista sênior no
Centro Carnegie em Moscou. A Rússia, por outro lado, “precisa de um sócio”.
A nova parceria nascente reflete a geopolítica do
mundo atual.
China e Rússia tornaram-se cada vez mais próximos
sob seus líderes atuais, Xi Jinping e Vladimir Putin, atenuando décadas de
desconfiança entre os países e criando uma aliança poderosa, embora não
oficial, contra o que elas percebem como um comportamento hegemônico dos EUA. O
espaço se tornou uma extensão natural dos laços crescentes entre os dois países,
diante das relações cada vez mais frágeis com os EUA.
Autoridades russas já sinalizaram que poderão sair
da Estação Espacial Internacional quando o atual acordo com seus parceiros
terminar, em 2024. O lançamento no ano passado da cápsula tripulada da SpaceX
já pôs fim ao papel exclusivo da Rússia no transporte de astronautas americanos
à estação.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU