Lula e Bolsonaro se encontrarão nesta terça durante a posse de Alexandre de Moraes, que assume a presidência do TSE (Foto: )
Brasília – Na noite desta
terça-feira (16), um inusitado encontro, durante a cerimônia de posse do
ministro Alexandre de Moraes que assume a presidência do Tribunal Superior
Eleitoral, em Brasília, fechará o primeiro dia da corrida eleitoral dos
favoritos ao Palácio do Planalto. Durante o dia, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
— que lidera as pesquisas —, começou a sua campanha no berço do sindicalismo
brasileiro, no ABC Paulista; enquanto Jair Bolsonaro (PL), postulante à
reeleição, num gesto de gratidão a Deus, voltou ao lugar onde foi vítima de uma
facada que quase lhe tira a vida, em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Os dois locais escolhidos foram simbólicos para
Lula e Bolsonaro. O candidato do PT começou na sua origem operária, no berço do
sindicalismo, onde tudo começou e agora recomeçando. Já o candidato à
reeleição, ao começar por Juiz de Fora, lembra que a facada não o fez desistir
e ele acabou chegando ao Planalto.
Jair Bolsonaro volta à Juiz de Fora (MG), onde
sofreu um atentado durante a campanha de 2018, para lançar a corrida
presidencial de 2022.| Foto: reprodução/Facebook
Perto do final da manhã, Bolsonaro fez um breve
discurso para um grupo de apoiadores no aeroclube da cidade, falando sobre
alguns feitos do governo ao longo da gestão, como a queda no preço dos
combustíveis, a retomada da economia, a criação de empregos e o desempenho no
combate à pandemia de Covid-19, lamentando também as mais de 680 mil mortes em
decorrência da doença.
Bolsonaro disse que as decisões tomadas pelo
governo, que podem ter desagradado a muita gente, foram as mais acertadas e que
estão se refletindo na recuperação da economia. Focou, em especial, na geração
de empregos e renda.
“A economia está recuperando, vocês estão vendo nos
combustíveis, na energia elétrica, único país do mundo com deflação, empregos
também aparecendo. No próximo mês, tenho certeza, vamos entrar na casa dos 8%
[de desemprego]”, falou, citando o ministro Paulo Guedes.
O presidente também fez críticas a questões como a
legislação que impõe penas a quem divulgar supostas fake news, lembrando que os
vetos a alguns trechos ainda podem ser derrubados pelo Congresso. “Sempre
defendemos a liberdade absoluta, que quem se ofendeu que vá para a Justiça. Não
se pode criar leis como a das fake news”, protestou.
Bolsonaro também resgatou os impactos causados
pelas medidas tomadas por estados e municípios para o combate à Covid-19, o qe
classificou como uma “ditadura”. A afirmação foi feita logo após citar a
situação da Venezuela, um país rico em petróleo que, na opinião dele, fez
escolhas políticas erradas.
O presidente discursou a apoiadores no centro de
Juiz de Fora acompanhado da esposa, Michelle Bolsonaro.| reprodução/Facebook
“Vocês viram um pouco da ditadura aqui, com igrejas
fechadas, fechando comércio, e a gente sabia onde isso ia dar. Não vou entrar
em detalhes, vocês sabem o que fizemos, sob ataque da grande imprensa
brasileira. Estamos vencendo tudo isso”, disse, usando termos ligados à
religião diversas vezes para se comunicar com o público.
Ressaltou, em diversos momentos, que a liberdade no
Brasil está ameaçada e fez comparações disso com a situação vivida pela Europa,
mas citando outros problemas.
“Todos sabem que essa nossa união leva à vitória, e
leva o Brasil aos poucos países do mundo onde se pode falar em democracia e
liberdade. Se vocês olharem para a Europa, estão vivendo momentos muito
difíceis, e a gente sabe que não é apenas pela questão da guerra”, afirmou,
citando também os incêndios florestais na França e o desabastecimento de
combustíveis, fazendo um paralelo com o Brasil.
Pouco depois, Bolsonaro reuniu uma multidão no
centro de Juiz de Fora, onde discursou em cima de um trio elétrico. Sem citar
diretamente os presidentes anteriores, afirmou que o Brasil recuperou o
patriotismo e que luta pela liberdade do país.
“Não há comparação, damos exemplo de patriotismo e
de honestidade. Como é bonito, pelas minhas andanças pelo Brasil, cada vez mais
vemos as cores verde e amarela predominante. Vamos fazer a nossa parte, com
liberdade e conhecimento, libertar o nosso povo. Juro dar a vida pela nossa
liberdade”, discursou.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro também fez uso
da palavra durante o comício. Adotou um discurso religioso e convidou a todos
os presentes a fazer uma oração. Em um tom mais crítico a adversários políticos
e sem citações nominais, pediu a Deus “sabedoria e discernimento” aos
brasileiros para não “entregar” o país nas “mãos dos nossos inimigos”.
A agenda de Bolsonaro em Juiz de Fora também
incluiu uma “motociata” com apoiadores. Ele deixou o município no início da
tarde.
Ex-presidente Lula discursou para metalúrgicos no
ABC Paulista| Foto: Reprodução/YouTube/Lula
No ABC
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu
o pontapé inicial de sua campanha com discurso de agradecimento a metalúrgicos.
Ele escolheu a fábrica de veículos da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do
Campo, no ABC Paulista, para o primeiro comício de campanha nesta terça (16). O
local escolhido é considerado o berço político de Lula e conta com a
mobilização de diversos movimentos sindicais que apoiam o petista.
“Eu resolvi fazer a abertura da minha campanha aqui
não só para agradecer vocês, mas porque foi aqui que tudo aconteceu na minha
vida. Foi aqui que eu adquiri consciência política. Foi por causa de vocês que
acho que eu fui um bom presidente da República”, disse Lula.
A data marca o início da campanha eleitoral e
autoriza a divulgação de propaganda, comícios e distribuição de material
gráfico, como “santinhos” e adesivos. Além de estratégica, a escolha do ABC
paulista também é simbólica, já que Lula iniciou sua carreira política no
sindicato dos metalúrgicos da região e já trabalhou na fábrica da montadora.
“Foi aqui que eu aprendi a ser gente. Eu poderia
dizer para vocês que praticamente tudo que eu vivi na vida e aprendi na
política eu devo a essa categoria extraordinária que se chama metalúrgicos do
ABC”, discursou.
Promessas
Lula abriu a campanha com promessa de geração de
empregos. Como estratégia de campanha, o ex-presidente também aproveitou o seu
discurso junto aos trabalhadores da fábrica para falar sobre a geração de
empregos. Este será um dos motes da campanha neste primeiro momento da disputa.
“Eu não precisaria estar candidato outra vez, mas
agora o Brasil está pior do que quando eu tomei posse a primeira vez. A
situação econômica está pior. Em 2003, aqui vocês tinham 13.857 trabalhadores,
em 2012 a gente chegou a 14.164. Passados 10 anos, aqui hoje só existem 7.931
trabalhadores. Onde foram os outros trabalhadores? Eles estão trabalhando ou dormindo
na sarjeta? Porque esse governo não se preocupa em gerar empregos. Eu vou
voltar para que a gente recupere esse país, recupere o emprego”, discursou o
petista.
Em outra frente, Lula afirmou que o presidente Jair
Bolsonaro aprovou a PEC dos benefícios sociais, que permitiu o aumento do
Auxílio Brasil para R$ 600, por “desespero”. Uma das estratégias da campanha
petista será tentar emplacar o discurso de que o aumento do programa social por
Bolsonaro foi um ato eleitoreiro.
“Eles estão gastando uma fortuna. Desde a
proclamação da República não teve um presidente que gastasse 10% do que o
Bolsonaro está gastando. Ele resolveu criar um auxilio de R$ 600, uma ajuda
para taxista, uma ajuda caminhoneiro e baixar o preço da gasolina. Ele está
fazendo isso agora, achando que o povo é besta”, criticou o petista.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.