Lula e
Simone Tebet
Brasília –
Calejado, em situações limites que a política impõe aos seus protagonistas,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está diante de mais um desafio para acomodar o
batalhão de aliados em que se transformou o segundo turno das eleições de
outubro passado. A “sinuca de bico” da vez atende pelo nome de Simone Tebet.
Graças a aliados como a senadora do Mato Grosso do
Sul (MDB), que ficou em terceiro lugar na disputa presidencial e conseguiu
transferir parte de seus votos do centro e da direita para Lula, ele venceu o
pleito com pequena margem, impondo a primeira derrota na história a um
presidente da República que concorreu à reeleição. Lula sabe que não basta
“tapinhas nas costas” e palavras de agradecimento. Na política, a gratidão é
devolvida com cargos e poder; no caso de Simone Tebet, esse é o problema.
A novela começou quando a senadora, agora
desempregada, foi boicotada pelo núcleo duro do PT, que comanda o partido e tem
como protagonista principal além de Lula, a presidente da legenda, deputada
federal reeleita Gleisi Hoffmann (PT-PR). Ela teria sido responsável por
“vetar” Tebet para a pasta do Desenvolvimento Social, que acomodou Wellington
Dias, senador eleito pelo estado do Piauí e ex-governador do estado, enquanto
Lula apostou que Tebet aceitaria o Planejamento ou o Meio Ambiente, o que
acabou não ocorrendo.
A vida continua e tem pressa para fechar a equipe,
porque o clima em Brasília está azedo com notícias de conspiração exalando para
todos os lados. Nesta sexta (23), mais uma etapa na composição do ministério
foi superada: Lula ofereceu e a ex-ministra Marina Silva (Rede), aceitou o
Ministério do Meio Ambiente.
Marina recusou chefiar a Autoridade Nacional do
Clima. Em reunião com o petista, a deputada federal eleita em São Paulo disse
que essa função, a ser criada pelo novo governo, precisa ser desempenhada por
um técnico, e não por alguém de perfil político, convencendo Lula a oferecer a
cereja do bolo: o Meio Ambiente e liquidando a fatura. Tebet sobrou.
Encrenca
com o MDB e com o União Brasil
O jornal O Globo publicou matéria neste sábado (24)
relatando que fontes próximas a Simone Tebet (MDB-MS) contam que, no avião que
a senadora e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dividiram na
tarde da sexta-feira, de Brasília para São Paulo, o petista insistiu para que a
emedebista aceite ser sua ministra do Planejamento. Tebet, no entanto, resiste
a compor o time econômico.
As mesmas fontes dizem que a ida de Tebet para o
Planejamento conta com o entusiasmo do futuro ministro da Fazenda, Fernando
Haddad (PT). O ex-prefeito de São Paulo reforçou seu endosso à cúpula do MDB na
noite passada, entendendo que Tebet pode ser um canal junto a economistas e
empresários liberais.
Tebet, no entanto, resiste à ideia de ir para o Planejamento,
justamente por considerar ter um perfil mais liberal, que destoaria da equipe
econômica do futuro governo. Além disso, argumenta que a pasta não é de “ação
política”.
Um dos ministérios para o qual Tebet foi cotada e
demonstra simpatia é o de Cidades, pasta prometida por Lula ao MDB, além de
Transportes. O presidente eleito acertou com o partido que uma indicação
pertencerá à bancada da Câmara e outra ao Senado. O último nome já é de
consenso na sigla: o ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho para
o Ministério dos Transportes.
Embora tenha despontado como favorito inicialmente,
o deputado federal José Priante (PA) sofre resistência do clã Barbalho. Um dos
cotados para o ministério é Jader Filho, presidente do MDB no Pará e irmão do
governador Helder Barbalho. Havia a expectativa de que o governador reeleito do
Pará e o líder do partido na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões Jr. (AL),
batessem ontem o martelo do indicado a Lula, em uma reunião que, no entanto,
não ocorreu.
A decisão será tomada, de acordo com fontes do MDB,
até terça-feira (27). Se o impasse seguir, Tebet poderia surgir como a indicada
para Cidades. A possibilidade, porém, já fez surgir movimentos contrários.
Lideranças do União Brasil, que reivindica ficar com a pasta de Cidades,
defendem junto ao futuro governo que, se a pasta ficar mesmo com o MDB, que o
ministro seja outro nome, e não Simone Tebet. O partido tenta emplacar a
deputada federal Professora Dorinha Rezende (União-TO), mais identificada com a
pauta da Educação.
Por Val-André
Mutran – de Brasília

