Charge da dança das cadeiras. Autor: Ricardo Manhães (Foto: )
Brasília – Se
alguém tinha alguma dúvida de que o governo não iria interferir nas eleições do
Senado Federal e da Câmara dos Deputados, tal indagação foi dissipada nesta
sexta-feira (27), de tempo chuvoso em Brasília. Nada menos que sete senadores
mudarão de partido e o PSD, do candidato à reeleição no Senado, Rodrigo Pacheco
(MG) e o PSB do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, receberão três
senadores cada, enquanto que Cidadania e Rede Sustentabilidade ficarão sem
representação na Câmara Alta.
Desde a proclamação feita pelo Tribunal Superior
Eleitoral, legitimando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencedor do pleito de
2022 para o terceiro mandato, uma música inaudível começou a tilintar na cabeça
de pelo menos uma dúzia de senadores; justamente aqueles que não disputaram a
eleição em 2022, porque foram eleitos em 2018 e ainda têm quatro anos de
mandato pela frente.
A música inaudível anima a festa da dança das
cadeiras, uma das práticas que caracteriza e desvaloriza como é feito a
política na maior democracia da América Latina.
Os vira-casacas, sem nenhum pudor, trocam de
convicções políticas por vantagens pessoais. Caso contrário, não mudariam de
partido. No troca-troca desta sexta, há casos ainda mais eloquentes, como a
mudança de viés ideológico ao trocar o Cidadania pelo PSD, como fez, sem
maiores explicações, a então barulhenta e combativa senadora do Maranhão,
Eliziane Gama, ao sair do Cidadania e embarcar no partido comandado pelo
ex-prefeito de São Paulo e ministro de vários governos, Gilberto Kassab. Mesmo
partido do “favorito” à presidência da Casa, o senador mineiro Rodrigo Pacheco.
Aliás, foi Kassab e o colega, também paulista,
Geraldo Alckmin, os maiores articuladores do troca-troca visto ao longo do dia,
mas que anuncia um desfechos de semanas de intensas negociações.
Ontem, outro capítulo importante. O presidente
Lula, que jurava que não se meteria na escolha dos “novos velhos” presidentes
da Câmara e do Senado, jantou na quinta-feira (26), na residência oficial do
Senado, com o atual presidente e candidato à reeleição Rodrigo Pacheco (MG), a
quem anunciou apoio incondicional, seja lá o que isso significa.
Por seu turno, Geraldo Alckmin “conseguiu”
convencer três senadores para trocar para novos assentos e turbinar o seu
esquálido PSB, que só tinha um senador eleito. Ingressam no partido do vice-presidente
e ministro da Indústria e Comércio, os senadores Jorge Kajuru, do Podemos de
Goiás; Chico Rodrigues, do União Brasil de Roraima e Flávio Arns, do Podemos do
Paraná.
Com essa movimentação, o União Brasil e o Podemos
perde dois senadores, passando para. O primeiro tinha 10 senadores e passará a
ter 8 e o segundo; que tinha 6 cadeiras, passará a ter 4.
Enquanto Alckmin comemora, Rodrigo Pacheco também
não tem do que se queixar. Entram no PSD a já citada Eliziane Gama, o senador
Jaime Campos, que deixa o União Brasil do Mato Grosso e Mara Gabrilli, quadro
histórico do PSDB de São Paulo, candidata a vice-presidente na chapa derrotada
liderada pela também senadora Simone Tebet (MDB), que apoiou Lula de
bate-pronto, logo após o resultado do primeiro turno e já devidamente acomodada
como ministra do Planejamento do governo petista.
Intrigado há tempos e sem falar com a deputada
licenciada Marina Silva, que bateu asas do Acre e se elegeu por São Paulo, o
senador Randolfe Rodrigues, escolhido para ser o líder do governo no Senado,
trocou sem qualquer escrúpulo ou cerimônia, o nanico Rede pelo partido da hora,
o PT.
Com o movimento de Eliziane e Randolfe, o Cidadania
e a Rede ficam sem nenhuma cadeira no Senado.
Quadro 1
Veja abaixo o troca-troca de partidos, que ainda
pode mudar até o dia 1º de fevereiro, último dia para essa festa da dança das
cadeiras.
Quadro 2
Se as mudanças se concretizarem, o PSD deixa de
ficar empatado com o PL como as duas maiores bancadas da Casa Alta e passa a
liderar o ranking com 16 integrantes. O União Brasil perderia 2 quadros e iria
de 10 para 8 senadores. O MDB e o PT, então, ultrapassariam a sigla.
Bloco de oposição
A se confirmar o troca-troca de hoje, resta ao
candidato do PL à presidência do Senado, senador Rogério Marinho (RN),
concretizar o bloco de oposição ao governo na Casa.
O candidato à presidência do Senado e ex-ministro
de Bolsonaro, Rogério Marinho (PL-RN), espera partir de ao menos 23 votos na
disputa contra Pacheco e Eduardo Girão (Podemos-CE). Os presidentes do PL,
Valdemar Costa Neto, do PP, Ciro Nogueira, e do Republicanos, Marcos Pereira,
decidiram apoiá-lo formalmente.
O grupo pretende anunciar a criação do bloco
PL-PP-Republicanos no sábado (28) com apoio oficial do grupo político a presidência
de Marinho na Casa. Há, porém, indefinição sobre o voto do senador Mecias de
Jesus (Republicanos-RR).
“O bloco PL/PP/Republicanos dá musculatura política
a Rogério Marinho que deseja resgatar a independência e o protagonismo do
Senado Federal, se eleito”, escreveu o PL em nota divulgada a jornalistas.
Atualmente, o PL conta com 13 senadores para a nova
legislatura. O Republicanos, com 4. O PP tem 6 congressistas, mas espera filiar
mais 1 e ficar com 7.
As campanhas de Pacheco e Marinho traçam cenários
diferentes para o pleito. A do atual presidente calcula cerca de 55 votos
favoráveis à reeleição de Pacheco. Já a de Marinho diz a aliados que o cenário
é de empate: com cerca de 35 votos para cada lado e um grupo de aproximadamente
11 indecisos.
Os dois candidatos mais competitivos adotam
estratégias diferentes na disputa pelo comando da Casa. Enquanto o atual chefe
do Legislativo confia no trabalho pregresso e entrega a articulação ao aliado
Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o ex-ministro visita seus pares há semanas.
Não sai da ponte aérea.
O excesso de protagonismo de Alcolumbre desagrada a
alas do Senado. Há queixas sobre atropelos na negociação de espaços na mesa e
nas comissões. Sobra espaço para ressentimentos.
Alcolumbre pretende ser reconduzido ao comando da
CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e voltar à presidência da Casa em
2025. Esse movimento não é consenso nos partidos ligados a Pacheco.
Além da disputa pelo cargo mais alto do
Legislativo, senadores discutem nos últimos dias antes da eleição a
distribuição de cargos na Mesa Diretora e em comissões importantes.
Ao menos três senadores pleiteiam a
primeria-vice-presidência: o atual ocupante do cargo, Veneziano Vital do Rêgo
(MDB-PB), Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama (Cidadania-MA). O favorito é o
emedebista.
Pacheco foi eleito presidente do Senado em
fevereiro de 2021 quando ainda estava no DEM — partido extinto depois da fusão
com o PSL que criou o União Brasil.
Eis a distribuição atual dos cargos da mesa diretora:
Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) – 1º
vice-presidente;
Romário (PL-RJ) – 2º vice-presidente, eleito pelo
Podemos;
Irajá (PSD-TO) – 1º secretário;
Elmano Férrer (PP-PI) – 2º secretário;
Rogério Carvalho (PT-SE) – 3º secretário;
Weverton Rocha (PDT-MA) – 4º secretário;
Jorginho Mello (PL-SC) – 1º suplente;
Luiz Carlos do Carmo (PSC-GO) – 2º suplente, eleito
pelo MDB;
Eliziane Gama (Cidadania-MA) – 3ª suplente; e
Zequinha Marinho (PL-PA) – 4º suplente, eleito pelo
PSC.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU