Presidente eleito Lula abraça ex-presidente Dilma Rousseff. Foto: Ricardo Stuckert (Foto: )
Brasília – O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que a ex-presidente Dilma
Rousseff foi o nome indicado pelo atual governo para assumir o Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD), conhecido como “banco dos Brics”, grupo de países que
reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sede da instituição fica
em Xangai.
No posto de presidente da instituição, Dilma — que
sofreu impeachment em 2016 por pedalas fiscais — deverá receber um salário de
quase R$ 300 mil por mês — mais de R$ 3,6 milhões por ano.
Segundo o último balanço anual divulgado pelo NBD,
o total pago em salários e benefícios aos seis postos de chefia do banco —
formados pela presidência e cinco vice-presidências — é de US$ 4 milhões por
ano (ou mais de R$ 20 milhões). O relatório contábil não discrimina o valor
pago a cada um e informa somente o gasto global.
Atualmente a instituição financeira tem uma
carteira que soma US$ 32,8 bilhões financiados em 96 projetos pelo mundo. A
meta, segundo relatório divulgado banco, é investir mais cerca de US$ 30
bilhões até 2026.
Para a manobra dar certo, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, está articulando a demissão do atual chefe do banco. Marcos
Troyjo está no cargo desde 2020 e tem um mandato de cinco anos. O economista
foi indicado em 2020 pelo ex-ministro Paulo Guedes.
Repercussão
A repercussão da indicação da ex-presidente vai do
elogio de líderes do PT à críticas mais fundamentadas como a do ex-presidente
do Banco Central no primeiro governo do próprio presidente Lula, o ex-banqueiro
Henrique Meirelles, e a ironia do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) que
perdeu a eleição presidencial que disputou coma petista em 2014.
Líderes do PT avaliam que Dilma é respeitada e que
o nome dela fortalece a posição do Brasil no Brics. Caso assuma a liderança do
banco do bloco, a ex-presidente Dilma Rousseff não teria ingerência na política
interna do país, mas garantiria um cargo de protagonismo no cenário
internaciona
Especialistas se dividem a respeito do tema. Há
quem acredite que Dilma, por ter sido a presidente durante a maior recessão da
história do Brasil, pode prejudicar a imagem do país. Outros enxergam prestígio
mundial na petista. O sinal troca de acordo como o interlocutor.
O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles
durante discurso em evento
Ex-presidente do BC
Procurado para comentar o caso, o ex-ministro da
Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles disse que a
ex-presidente da República Dilma Rousseff não tem perfil de alguém que
administra uma instituição financeira.
“A ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT)
não é a pessoa mais adequada para assumir o Novo Banco de Desenvolvimento
(NBD), conhecido como Banco do Brics”.
Segundo Meirelles, Dilma tem experiência por ter
sido chefe do Poder Executivo, mas não dispõe do currículo adequado para ocupar
um banco com foco em empréstimos, como é o caso do Banco do Brics.
“É uma pessoa que tem uma experiência muito grande,
por ter sido presidente da República, ministra de Minas e Energia, ter sido
chefe da Casa Civil, mas não tem experiência nenhuma em banco. Precisa de uma
experiência específica, que é algo que ela não tem. O NBD é semelhante ao Banco
Nacional do Desenvolvimento”, disse ele.
O governo do presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), tem se articulado para que o presidente do NBD, Marcos
Troyjo, renuncie ao cargo, sem terminar o mandato, que vai até 2025.
Troyjo foi nomeado presidente do NBD em 2020,
durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na época, ele atuava
como secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do
Ministério da Economia, chefiado pelo então ministro Paulo Guedes.
O NBD tem sede em Xangai, na China, e foi criado em
2014, durante a 6ª Cúpula do Brics — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul —, com o objetivo de mobilizar recursos para projetos de
infraestrutura e desenvolvimento sustentável nesses países.
Para Dilma Rousseff assumir a presidência do Banco
do Brics, seu nome precisa ser validado pelo conselho de governadores. Não há,
ainda, data para análise. Dilma Rousseff disse que não vai comentar o caso. O
Ministério da Economia informou, também, que não vai se pronunciar.
Para Meirelles, o melhor nome para o cargo seria o ex-presidente do Banco
Central, Ilan Goldfajn. “Ele foi presidente do Banco Central, do conselho do
Credit Suisse, totalmente adequado para a presidência do Banco do Brics, apesar
de não ter a estatura dela, que foi presidente da República. Mas é isso, vamos
ver como ela se sai, se for o caso”, disse.
Meirelles também afirmou que as críticas que Lula
tem feito ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, atrapalham a
redução da taxa de juros e outros indicadores econômicos.
Deputado federal Aécio Neves: “Chega a ser
cruel”
Aécio Neves: “Chega a ser cruel”
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) ironiza a
provável ida da ex-presidente Dilma Rousseff para a China, para assumir o
comando do banco dos Brics.
“Que o PT e o presidente Lula não queriam a
ex-presidente Dilma por perto, nem na campanha nem no governo, era sabido por
todos. Mas enviá-la para Xangai [sede do banco] com tantas boquinhas mais
próximas chega a ser cruel”, afirma.
O atual presidente, Marcos Troyjo está sendo
pressionado para renunciar ao cargo que só expira em 2025. O diplomata e
economista tem as portas abertas no governo de São Paulo, caso deixe o banco,
declarou na semana passada, o governador do estado, Tarcísio Gomes de Freitas.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.