O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deu aval para aprovação da semana com jornada reduzida para os senadores (Foto: )
Com uma capacidade extraordinária de surpreender, a
ponto de chocar a sociedade, apenas dois meses após assumirem o mandato, os
senadores federais decidiram trabalhar apenas três dias por semana e três
semanas por mês.
O leitor pode pensar que a notícia se trata de uma
notícia falsa, mas não é. Na primeira reunião após terem emendando o feriado de
Carnaval, os senadores, majoritariamente, decidiram conceder a si mesmos
semanas reduzidas de trabalho, com aval do presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG). Foi definido que só serão votados projetos às terças, quartas
e quintas-feiras. Segundas e sextas terão sessões não deliberativas, o que
significa que os parlamentares não precisarão trabalhar nesses dois dias, pois
não será considerado falta.
Não se sabe qual será a reação da sociedade sobre a
decisão dos senadores, mas não é difícil imaginar que um efeito dominó possa se
espalhar pelo Brasil como fogo em palha seca. A decisão dos senadores pode
chegar à Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais,
estabelecendo o ócio remunerado e pago pelo contribuinte como a principal
atividade de senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores,
que assim, poderão desfrutar do emprego dos sonhos.
Mês de três semanas
Na mesma reunião, realizada nesta terça-feira (28),
os senadores estabeleceram também o calendário com o mês de três semanas.
Funcionará assim: na última semana do mês, o trabalho será remoto e “com pauta
tranquila”. Na prática, só precisarão trabalhar nove dias num mês em Brasília.
O salário atual dos senadores é de R$ 39,2 mil, mas o valor irá saltar para R$
41,6 mil a partir de abril. O reajuste foi definido no final do ano passado em
votação quase secreta para não haver tempo de protestos dos eleitores. Veja aqui e aqui.
Diante de tudo isso, Rodrigo Pacheco deu aval para
a aprovação da semana com jornada reduzida para os senadores e mês de três
semanas e decisão relâmpago.
O líder do Podemos no Senado, Oriovisto Guimarães
(PR), defendeu a medida. “Acho que foi um avanço. Isto vai permitir um maior
contato com a base de cada senador, uma semana por mês,” afirmou. Segundo o
parlamentar, a decisão foi unânime entre os líderes partidários.
A semana curta costumava ser um hábito no Congresso
para que os senadores e deputados pudessem voltar aos seus estados. A pandemia,
contudo, permitiu votações remotas. Mesmo com esse recurso, o privilégio de
trabalhar apenas três dias na capital federal na semana foi mantido.
Foi decidido ainda que às terças e quartas-feiras,
o expediente começa só à tarde. O início programado é às 14h, mas as votações
mesmo só acontecem a partir das 16h. Estão liberadas no período da manhã, no
entanto, sessões nas comissões temáticas. Os senadores só têm desconto no
salário caso faltem nas votações em plenário, sessões que começam às 16h.
Congresso mais caro do mundo
Com a decisão, o Brasil assume o posto de Congresso
mais caro do mundo, em números absolutos. Só o parlamento dos Estados Unidos –
a maior economia do mundo – possui orçamento superior, mas trabalham quase em
tempo integral. É como se cada um dos 513 deputados e 81 senadores brasileiros
custasse pouco mais de US$ 5 milhões de dólares por ano, o equivalente a R$
26,02 milhões na cotação desta terça. Os dados são de um estudo de
pesquisadores das universidades de Iowa e do Sul da Califórnia, em parceria com
a Universidade de Brasília.
O gasto com cada congressista corresponde a 528
vezes a renda média dos brasileiros. O segundo lugar é da Argentina. Lá, cada
congressista custa o equivalente a 228 vezes a renda média local. Para chegar a
esta conclusão, os pesquisadores compararam o orçamento dos parlamentos e
congressos de 33 países, compilados pela União Parlamentar Internacional (IPU,
na sigla em inglês), o Banco Mundial e o escritório do Banco Central dos EUA.
Aumento
Na terceira semana de fevereiro, o Senado aumentou
o valor da cota parlamentar repassada aos senadores. Em 2023, eles terão mais
6% no recurso; em 2024, 6% e em 2025, 6,13%. Os representantes do Distrito
Federal e Goiás recebem o menor repasse (R$ 22.307,91), enquanto os do Amazonas
recebem o maior valor (R$ 46.933,20).
Além disso, os parlamentares ganharam um aumento no
auxílio-moradia, antes de R$ 5,5 mil para até R$ 9 mil. As ações aconteceram
após a reeleição de Pacheco na Casa. Mas, calma, não se trata de compra de
votos, o problema é explicar isso para o eleitor e para o trabalhador
brasileiro.
ZE DUDU