Paris - 23/06/2023 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris, na 11ª viagem presidencial em seis meses de mandato (Foto: )
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido criticado até mesmo pelos
partidos que o apoiam devido o que chamaram de excesso de prioridade à agenda
externa em detrimento da interna. Porém, nada disso parece demover os planos do
mandatário, que deverá intensificar ainda mais a agenda diplomática com viagens
nos próximos meses para Bélgica (cúpula Celac-União Europeia), África do Sul
(cúpula dos Brics) e Estados Unidos (Assembleia da ONU).
O Brasil
deve assumir o comando de três organismos multilaterais neste segundo semestre,
numa coincidência inédita: Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai),
G20 (20 principais economias do mundo) e Conselho de Segurança das Nações
Unidas. Além disso, o presidente Lula participará da cúpula amazônica em
agosto, em Belém do Pará, e de uma reunião trilateral, em Kinshasa, com o Congo
e a Indonésia.
Inicialmente,
o Brasil iria comandar, a partir do ano que vem, o Brics (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul). Entretanto, como vai assumir o G20 no mês de
dezembro, o comando do grupo passou para a Rússia. O Brasil comandará o bloco
apenas em 2025.
Fonte
próxima ao ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, avalia que, ao
presidir esses grupos, o País poderá propor a discussão sobre temas como o
acordo Mercosul-União Europeia, mudanças climáticas, desenvolvimento
sustentável, paz e segurança internacional, reforma do Conselho de Segurança da
ONU e combate à desigualdade.
Mercosul
O Brasil
assumirá o comando do Mercosul na terça-feira (4). Desde a posse, o presidente
tem reiterado que o grupo precisa se fortalecer. A expectativa entre diplomatas
é que o presidente Lula adote as medidas para fazer com que o acordo comercial
com a União Europeia possa avançar. O texto é negociado desde 1999 e, desde
2020, está na fase de revisão.
Um
documento adicional inserido pela União Europeia, porém, tem causado
resistência por parte do governo brasileiro, que o vê como uma “ameaça”. O
texto prevê sanções em caso de descumprimento de metas na questão ambiental,
por exemplo.
A
expectativa no governo brasileiro é fechar o acordo até o fim deste ano,
aproveitando que o Brasil comandará o Mercosul e a Espanha, a União Europeia,
dois países engajados na conclusão das negociações.
Paralelamente
às discussões sobre o acordo, o Brasil tem defendido que a Venezuela, suspensa
do Mercosul desde 2017, volte a integrar o bloco de maneira efetiva. Lula tem
tentado reaproximar os dois países.
G20
Em
dezembro, o Brasil assumirá a presidência do bloco do G20, grupo que reúne
representantes das maiores economias do mundo. A presidência do grupo é
rotativa e atualmente é ocupada pela Índia. O Brasil ficará à frente do G20 até
novembro do ano que vem.
Nessa
instância, a expectativa é que Lula paute no grupo discussões sobre
desigualdade e sustentabilidade. Em recentes declarações, o presidente tem
cobrado mudanças na atuação do G20, afirmando que o grupo precisa, por exemplo,
incluir a União Africana e passar a discutir temas como inflação e taxa de
juros.
Lula também
tem cobrado ação do G20 em relação à violência nas redes sociais, defendendo
que o grupo adote medidas para que as plataformas não sejam utilizadas para
disseminação de fake news, discurso de ódio ou práticas terroristas. O Rio de
Janeiro foi escolhido como sede da cúpula do grupo em 2024.
Conselho de Segurança da ONU
O Brasil
comandará o Conselho de Segurança da ONU em outubro deste ano. A presidência é
rotativa e muda de mês em mês. Lula tem feito frequentes discursos em fóruns
internacionais defendendo a reforma do conselho. O presidente tem dito, por
exemplo, que o organismo precisa ter mais representatividade e incluir países
da América do Sul, da África e mais países da Europa e da Ásia.
O conselho
tem 15 membros, cinco deles têm os chamados assentos permanentes: China,
Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Os outros dez são rotativos (o
mandato atual do Brasil acaba em dezembro deste ano).
Desde que
tomou posse, em 1º de janeiro deste ano, Lula tem dedicado boa parte da agenda
à política externa. No primeiro semestre, o petista viajou para países como
França, Estados Unidos, China, Japão, Reino Unido, França, Espanha, duas à
Portugal e quatro vezes à Argentina.
Também
recebeu, em Brasília, representantes de diversos países, entre os quais
Argentina, Alemanha, Finlândia e Romênia, além de ter organizado a cúpula
sul-americana, que contou com a presença de 11 presidentes da América do Sul.
Duas
agendas importantes ficaram para este semestre: a reunião de países que
integram a Amazônia e a ida do presidente Lula à África. Ambas estão previstas
para agosto deste ano. A viagem para a África estava prevista para maio, mas
foi adiada após Lula ter sido convidado para participar das reuniões do G7,
grupo que reúne representantes das sete maiores economias do mundo.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.