O governador do Pará (esq.), Helder Barbalho, é observado pelo ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (dir.) (Foto: )
Em Paris,
onde participa nesta sexta-feira (13) do 1º Fórum Esfera Internacional, que vai
até sábado (14), ao lado de autoridades brasileiras e francesas, para falar
sobre transição energética, acordos bilaterais e segurança para o capital, o
ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) disse que não há constrangimento
em ampliar a exploração de petróleo e gás no Brasil porque o governo também
busca o aumento a oferta de fontes renováveis. Ele foi contestado pelo
governador do Pará, Helder Barbalho: “Não é nossa vocação”.
Depois do
painel, Silveira participou de uma entrevista coletiva com jornalistas e
perguntado sobre como o governo brasileiro se apresentaria na COP30, em Belém,
em 2025, ao defender a pesquisa para exploração de petróleo no litoral do Amapá
e na Margem Equatorial, que vai até o estado do Rio Grande do Norte, Silveira
respondeu: “De cabeça erguida”. A Petrobras busca licença ambiental para
explorar petróleo no local, que faz parte da área conhecida como Margem
Equatorial.
O ministro
afirmou que não há contradição entre a exploração de combustíveis fósseis e a
defesa de políticas ambientais porque o Brasil já tem 88% de participação de
fontes renováveis no total da produção de energia elétrica.
O
governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), citou no painel com Silveira que a
Noruega financia a preservação ambiental com dinheiro de impostos pagos sobre a
exploração do petróleo no país.
Mas
Barbalho disse que o Pará não deve buscar a exploração de petróleo. “Não é
nossa vocação”, afirmou em entrevista a jornalistas depois do painel. Ele disse
que a melhor alternativa para o Estado é ampliar ganhos com atividades
associadas à floresta Amazônia. Defendeu financiamento para a recuperação das
áreas de desmatadas, para crescimento da floresta.
O chefe do
Executivo do Pará destacou que o governo brasileiro tem firmado, com o governo
norueguês, cerca de R$ 3 bilhões em financiamento por meio do Fundo Amazônia,
com recursos provenientes de atividades petrolíferas e que esse modelo de
financiamento poderia ser aplicado pela estatal brasileira em iniciativas
sustentáveis.
Convidado
para debater a respeito de mudanças climáticas, considerando a COP 30, em 2025
em Belém, no evento, Helder Barbalho também reforçou a bioeconomia como a
vocação econômica escolhida para o Estado e destacou a importância da
realização de investimentos em ciência e tecnologia para a criação de empregos
verdes.
“Cada
estado da Amazônia tem uma vocação, e o petróleo não é a do Pará. A vocação que
o Estado escolhe para a sua transição econômica é a floresta viva, a
bioeconomia, a partir de pesquisa, de ciência, de conhecimento, inovação, para
que floresta viva possa valer mais do que floresta morta, o que
lamentavelmente, hoje, não é uma realidade e isto acaba gerando um conflito
econômico, ambiental e social. Nós precisamos pedir recursos para a Noruega
tendo a Petrobras, com os dividendos que tem distribuídos, com a potência que
representa para a nossa economia? Nós não podemos fazer disso a indução?”,
perguntou o governador.
Painel do
evento
O evento
discute novas oportunidades de negócios e alianças bilaterais entre Brasil,
França e União Europeia até este sábado (14), abordando temas como a relação
França-Brasil, reformas em discussão no país – tributária, administrativa e outras
–, economia, transição energética, inovação, indústria, segurança para o
capital estrangeiro e perspectivas de futuro.
“Eu
compreendo e tenho provocado junto ao Governo Federal que a Petrobras deve ser
proativa e ao invés de responder sobre a captura de petróleo a 540 km da foz do
Amazonas, deve ver essa região como um grande case de utilização de uma empresa
que atua no setor energético com diversas matrizes, mas que lidera o processo
de transformação e transição ecológica e, acima de tudo, social e ambiental,
ajudando o Brasil na construção seja da transição energética, o que já está
fazendo, seja na transição ecológica e na econômica. É fundamental que tenhamos
clareza de que é possível defender a exploração de combustíveis fósseis, desde
que estejam sob o aspecto da sustentabilidade e das garantias legais da
preservação da legislação ambiental”, disse o governador.
Helder
Barbalho participou do painel “A sustentabilidade e a transição energética”, ao
lado do Ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira; da chefe de
Sustentabilidade do grupo Accor e ex-ministra da transição energética da
França, Brune Poirson; do fundador da empresa do setor de serviços ambientais
“Systemiq”, Jeremy Oppenheim; e da vice-presidente executiva do grupo Engie, do
setor energético, Cécile Prévieu. A moderação foi do jornalista brasileiro
Américo Martins.
Na abertura
do Fórum, houve palestra do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís
Roberto Barroso.
Na
oportunidade, Barbalho destacou que o Brasil vive um momento de protagonismo na
questão ambiental e reforçou que o que posiciona o país em um patamar de
diferença é a floresta amazônica.
“Particularmente
na transição ecológica, sabemos que, neste momento, o Brasil vive uma página
muito especial de se colocar definitivamente como protagonista da agenda
ambiental e compreender que essa agenda posiciona o Brasil no protagonismo da
diplomacia. O que difere o nosso país de outras potências globais é a pujança
da sua economia, o consumo extraordinário de mais de 200 milhões de
brasileiros, um território produtivo e uma condição climática que coloca o
Brasil como protagonista na questão da segurança alimentar, mas abstraindo e
não querendo minorar esses atributos, compreendo que a floresta amazônica,
efetivamente, é o que posiciona o Brasil em um patamar de diferença”, disse.
O
governador do Pará fez a defesa do uso de mecanismos para transformação da
floresta amazônica não apenas como um símbolo do equilíbrio climático, mas
também como um indutor para a geração de empregos verdes e a conciliação para a
preservação da floresta a partir da sua valoração. “Nós não conhecemos a nossa
biodiversidade e plenamente aquilo que a floresta viva pode produzir a nós.
Quando incrementamos conhecimento, incluímos uma nova vocação para a Amazônia:
a bioeconomia, que inclusive deve ser lida como sociobioeconomia, porque
precisa envolver gente”, explicou.
“Não
adianta falar em floresta e esquecer que nós temos 29 milhões de brasileiros
que vivem em uma das regiões com uma grande complexidade social, que é a região
amazônica, e quando nós temos estudos como o plano estadual de bioeconomia, ele
aponta números importantes de serem registrados”, disse.
Sobre o evento
O I Fórum
Esfera Internacional promove o encontro, durante dois dias, em uma série de
painéis de discussão, empresários e autoridades como o presidente do Senado
brasileiro, Rodrigo Pacheco; o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Luís Roberto Barroso; e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), Aloizio Mercadante, além do ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy.
Além disso,
também participam autoridades francesas, como a ministra para Transição
Energética da França, Agnès Pannier-Runacher. Entre outros convidados estão o
ministro de Minas e Energia do Brasil, Alexandre Silveira; o ministro Gilmar
Mendes (STF); Ricardo Lewandowski (ex-ministro do STF); o ministro Vinícius de
Carvalho (Controladoria-Geral da União); o presidente Bruno Dantas e o ministro
Walton Alencar (ambos do Tribunal de Contas da União) e Miriam Belchior
(secretária-executiva da Casa Civil).
Instituições
brasileiras, entre elas a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e
francesas, como o Medef (Movimento das Empresas da França), também marcam
presença no encontro.
Do
empresariado, participam do evento nomes como Abílio Diniz, do Conselho da
Península Participações e membro do Conselho de Administração do Grupo
Carrefour, e Alexandre Bompard, CEO global do Carrefour.
Ex-presidente
da França, Nicolas Sarkozy
Constrangimento
Durante o
evento, o ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy sugeriu ao presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que se candidatasse à
presidência da República do Brasil em 2026, arrancando risadas da plateia. Luís
Roberto Barroso, está “pronto” para ser presidente da República, disse o
ex-presidente francês.
“O
presidente da Corte Suprema fez um discurso incrível. Senhor presidente, o
senhor está pronto para uma nova presidência, uma outra presidência”, disse
Sarkozy.
Para o
ex-presidente francês, o ministro do Supremo fez um discurso muito mais de
“orientação política” do que de “orientação jurídica” durante o evento.
Visivelmente
constrangido, e com o sorriso amarelo, Barroso recusou a proposta. “Não passa
pela minha cabeça”, afirmou.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.