Da esq. para a dir., os governadores do Rio de Janeiro, Claudio Castro; de São Paulo, Tarcísio de Freitas; do Espírito Santo, Renato Casagrande; e do Pará, Helder Barbalho (Foto: )
Convidados
para debater no painel “Gestões Estaduais: O Que Esperar em 2024”, no evento
“Macro Day 2023”, promovido pelo banco de investimentos BTG Pactual, em São
Paulo, na segunda-feira (6), os governadores do Rio de Janeiro, Claudio Castro;
de São Paulo, Tarcísio de Freitas; do Espírito Santo, Renato Casagrande e do
Pará, Helder Barbalho, afirmaram que a reforma tributária no Congresso Nacional será aprovada ainda em
2023.
A votação
do substitutivo apresentado pelo relator da matéria no Senado, Eduardo Braga
(MDB-AM), ao Projeto de Emenda Constitucional (PEC n° 45/2019) vai à votação
nesta terça-feira (7), inicialmente na Comissão de Constituição e Justica — e,
se aprovada, vai para votação no Plenário da Casa. A expectativa geral é que o
texto aprovado na Câmara dos Deputados seja alterado o que regimentalmente
obrigará que a matéria volte ao exame dos deputados para que as alterações
sejam ou não incorporadas ao texto.
Para o
coordenador do Grupo de Trabalho da Reforma Tributária na Câmara, deputado
Reginaldo Lopes (PT-MG), as modificações no Senado devem ser endossadas pelos
deputados e com isso será evitado o efeito pingue-pongue, quando a matéria fica
indo e vindo, de Casa para a outra, conforme modificações ao texto vão sendo
incorporadas.
Responsabilidade
fiscal
No evento
em São Paulo, os governadores defenderam o compromisso com a responsabilidade
fiscal por parte do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
sobretudo com a possibilidade de mudança da meta fiscal para o ano que vem.
Mais cedo, os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), já haviam falado sobre a importância do equilíbrio nas contas
públicas e do compromisso fiscal por parte do Executivo.
Apesar de
concordarem com aprovação do texto, os governadores demonstraram preocupação
com o período extenso para a transição completa do sistema, que deve ser
concluído nos próximos 50 anos, além de temas relevantes da reforma que deverão
ser regulamentados por leis ordinárias via projetos de lei complementar.
Governador
do estado mais rico do país, São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas disse que
a reforma tributária é “uma matéria madura” que passa por “pontos de
ajuste” pelo relator do texto no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM). Tarcísio
afirmou, porém, que há “pontos de preocupação, como saber quanto vai ser a
alíquota”.
“Se estamos
falando de uma reforma tributária, ela não pode nascer com um jabuti. Não é por
aí. Tem algumas imperfeições que precisamos sanear no processo legislativo.
Mas, no geral, será muito bom para o Brasil”, declarou.
Cláudio
Castro, que governa o Rio de Janeiro, também se mostrou otimista com a
aprovação do texto. Destacou, porém, que “muita coisa importante e questões
polêmicas serão regulamentadas por lei infraconstitucionais”. Também criticou o
tempo até a implementação completa da medida.
“Uma
transição de 50 anos é algo de preocupa muito. Cada hora que alguém perder,
algo vai retroceder. A mais longeva antes tinha sido de 6 anos. A nossa bate
todos os recordes”, afirmou.
Renato
Casagrande, do Espírito Santo, entende que a reforma precisa estabelecer
compensações aos Estados que serão impactados com menor arrecadação. Isso
porque o texto estabelece que a tributação ficará no destino — deixando de ser
na origem.
“Tivemos a
compensação de ICMS. Com isso, diversos Estados aumentaram a alíquota do
tributo até 2032. […] E quem não fez, ficará prejudicado”, declarou.
Governador
do Pará, Helder Barbalho afirmou que a reforma irá “trazer uma simplificação e
previsibilidade” importantes para o sistema tributário brasileiro.
“O Brasil
precisa ser um país previsível, em que todos precisem saber as regras e,
concordando ou não, trabalhem a partir delas”, disse.
Mudança na
meta fiscal
Os
governadores foram questionados sobre a possibilidade de alteração da meta de
déficit fiscal em 2024, uma especulação feita pelo próprio presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, contradizendo seu ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, que defende que o governo persiga o déficit zero.
Os
governadores disseram compartilhar da opinião do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) de que o objetivo atual seria difícil ser alcançado. Também fizeram
um apelo por responsabilidade fiscal por parte do governo federal.
Em 27 de
outubro, a declaração de Lula sobre a dificuldade em cumprir a meta de déficit
zero abriu margem para uma possível mudança no patamar para um intervalo de
0,25% a 0,50%, mas ainda não há consenso sobre a questão dentro do governo.
Renato
Casagrande afirmou que mais importante do que a meta em si é o “compromisso com
gestão fiscal responsável”. Segundo o governador do Espírito Santo, dentre os
impasses para atingir o déficit zero e atuar com responsabilidade fiscal, está
a relação entre o Executivo e o Congresso Nacional. O governador defendeu que
esse “descontrole da máquina pública” pode atrapalhar o processo.
“A
dificuldade que Lula tem nesse mandato é um Congresso conservador. As medidas
de aumento de receita não caminham na velocidade que o governo precisa. Há
dificuldade de cumprir a meta e de votar matérias de aumento de receita”,
ilustrou Casagrande.
Já o
governador do Rio, Cláudio Castro, defendeu que tanto os governos federal e
estaduais devem buscar o equilíbrio fiscal e se atentar para não deixar dívidas
para as próximas gestões. “Não dá para fazer gastança e achar que vai ganhar na
loteria depois, não vai”, declarou.
Tarcíso de
Freitas, de São Paulo, disse que mudar o patamar da meta fiscal agora resulta
em “deixar a bomba armada para 2025”. Ele afirmou ainda que o Brasil está
vivendo um cenário positivo e que, para não perder essa tração, o governo
precisa fazer o “dever de casa”.
Já o governador
do Pará, Helder Barbalho, disse que a meta atual já era algo que o mercado “via
com desconfiança” e que, portanto, o não cumprimento era uma realidade
considerada no ambiente econômico do Brasil. Defendeu ainda o compromisso
fiscal e a previsibilidade no governo.
Contexto
O governo
federal enviou para o Congresso um PLOA (Projeto de Lei Orçamentário Anual) com
receitas iguais às despesas, mas analistas avaliam que não será possível
atingir o objetivo porque a União aumentou gastos e as medidas para aumentar
receitas são vistas com ceticismo pelo potencial arrecadatório. O Ministério da
Fazenda terá que elevar as receitas em R$ 168,5 bilhões.
O
presidente Lula declarou que para alcançar a meta de zerar o déficit seria
preciso cortar bilhões de obras prioritárias para o Brasil. Ao contrário do que
disse o petista, a equipe econômica do governo seguia, até agora, defendendo
ser possível cumprir o objetivo fiscal.
No final de
outubro, Lula afirmou que o governo “dificilmente” cumprirá a meta de déficit
fiscal zero em 2024.
Com isso, o
Planalto passou a discutir uma alteração na meta fiscal para 0,25% ou 0,5% do
PIB. Mas ainda não há consenso indefinições sobre quando, como e quanto a meta
vai mudar.
A mudança é
possível?
Sim. Pelas
regras regimentais do Congresso Nacional, se o governo resolver abandonar a
meta de déficit zero para o ano de 2024, deverá apresentar uma emenda
modificativa ao PLO de 2024, estabelecendo o novo índice.
Isso está previsto no Arcabouço fiscal já aprovado no Congresso Nacional.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.