Deputados e senadores durante sessão do Congresso nesta quinta-feira (14) — Foto: Geraldo Magela/Agência Senado (Foto: )
Por Kevin Lima, Beatriz
Borges, g1 — Brasília
O Congresso derrubou, em sessão conjunta nesta quinta-feira (14), o veto integral do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) ao texto que renova, até 2027, a desoneração da folha de pagamento de 17
setores da economia que empregam quase 9 milhões de pessoas.
O resultado no Senado foi de 60 votos a 13 pela rejeição do veto
presidencial. Na Câmara, o placar foi de 378 a 78 pela derrubada.
O texto segue agora para promulgação. Com isso, passará a valer a regra
que permite às empresas desses setores substituir a contribuição
previdenciária, de 20% sobre os salários dos empregados, por uma alíquota sobre
a receita bruta do empreendimento, que varia de 1% a 4,5%, de acordo com o
setor e serviço prestado.
Em vigor desde 2011, a medida perderia validade no fim deste ano. Pela
proposta aprovada no Legislativo, será prorrogada por mais quatro anos — até 31
de dezembro de 2027.
Após o Congresso derrubar o veto, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, disse que o governo vai contestar a prorrogação da desoneração na
Justiça e que vai apresentar uma proposta alternativa no aos parlamentares.
No Congresso, no entanto, não foi bem recebida a ideia de uma proposta
alternativa.
Parlamentares e representantes de 17 setores
participaram de ato na Câmara para pedir a derrubada do veto à desoneração
Veto e reação
O projeto foi aprovado pela Câmara, em agosto, e pelo Senado, em outubro. No último dia para tomar uma decisão sobre a
sanção do projeto, em novembro, Lula decidiu vetar, de forma completa a proposta, sob orientação do
Ministério da Fazenda.
Parlamentares e representantes dos 17 setores
atingidos protestaram e se mobilizaram pela retomada total da proposta.
Durante esta semana, receberam sinalizações do presidente do Congresso,
senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de que o veto seria pautado, mesmo com movimentos contrários de
lideranças da base governista.
Admitida a ampla maioria favorável à derrubada do veto e com negociações
frustradas por uma proposta alternativa, o governo concordou em incluir o item
na pauta de votação do Congresso nesta quinta.
A medida impacta, segundo o Movimento Desonera Brasil, empresas que contratam diretamente 8,9 milhões de pessoas, além de outros milhões de postos de trabalho
indiretos.
Segundo o texto, estão entre os setores que poderão alterar o regime de
tributação:
- 🏭 industrial:
couro, calçados, confecções, têxtil, proteína animal, máquinas e
equipamentos
- ☎️ serviços: tecnologia da informação, tecnologia da
informação e comunicação, call center e comunicação
- 🚌 transportes:
rodoviário de cargas, rodoviário de passageiros urbano e metroferroviário
- 🏗️ construção: construção civil e pesada
De acordo com representantes dos setores atingidos pela desoneração, a
medida contribui para que as empresas paguem menos impostos e, com a redução
dos custos tributários, consigam contratar mais funcionários.
Pequenos municípios
O texto também reduz — de 20% para 8% — a contribuição previdenciária
patronal paga por pequenos municípios sobre o salário de funcionários.
A regra valerá para as cidades com menos de 142.633 habitantes, que não
recebem a cota reserva do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A medida
deve, segundo estimativa do Congresso, atingir mais de 3 mil municípios.
Negociação com a Fazenda
Em entrevista na manhã desta quinta, Pacheco e o autor do projeto,
senador Efraim Filho (União Brasil-PB), sinalizaram que há disposição do
Congresso em negociar com o governo federal uma alternativa à desoneração para
os próximos anos. Eles condicionaram, porém, a abertura do diálogo à derrubada
do veto.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a dizer que buscaria
representantes dos setores para negociar uma proposta alternativa à
desoneração da folha de pagamento.
Haddad, no entanto, sinalizou que o projeto só seria conhecido após a
votação de propostas da pauta econômica do Planalto no Congresso.
Com o calendário do Congresso espremido, parlamentares dizem não ser possível esperar
para discutir uma alternativa às vésperas do recesso parlamentar, em 23 de dezembro.
Em ato público nesta quarta (13), representantes dos setores da economia
impactados pela medida afirmaram não terem sido consultados.
"É uma política já existente no Brasil, alcança 17 setores da
economia que têm alta empregabilidade. Tudo que não podemos, no Brasil, nesse
momento, no viés de combate ao desemprego e redução do desemprego no Brasil, é
ter movimentos bruscos que abalem essa empregabilidade, essa geração de
emprego. Algo que já existe e que estamos propondo prorrogar, na minha opinião
pessoal, considero apropriado a prorrogação da desoneração da folha",
disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em entrevista coletiva
nesta manhã.
"Acho que as sugestões do Ministério da Fazenda e do governo
federal para essa questão da folha de pagamento e sua desoneração devem se dar
com a desoneração prorrogada. A sugestão é a derrubada do veto em relação à
desoneração, permitir que ela se mantenha no Brasil e que venham as propostas
de aprimoramento”, acrescentou.
Autor da proposta, Efraim Filho disse que a derrubada do veto dará
"segurança jurídica" às empresas.
"Trará, primeiro, segurança jurídica para quem empreende, poder
fazer o seu planejamento, segundo, trará paz de espírito para quem trabalha,
para quem tem o seu emprego e não estará ameaçado a demissão, terceiro trará
esperança para quem não tem, para quem está na fila do desemprego, jovens que
querem uma primeira oportunidade pais e mães de família", disse.
Outros vetos
Entre outros, o Congresso derrubou o veto de Lula a trecho do Marco
Legal das Garantias e retomou trecho que autoriza credores a tomar veículos, em
caso de inadimplência, sem autorização da Justiça.