O estado do
Pará não teve concorrentes no ano prestes a se encerrar. O talentoso governador
Helder Barbalho (PMDB-PA), antes mesmo da posse do então presidente eleito pela
terceira vez para governar esse mundão chamado Brasil, não poderia imaginar o
que aconteceria logo depois.
No
paradisíaco balneário de Sharm el-Sheikh, no Egito, local da COP-27, Lula da
Silva foi o convidado vip do jovem político paraense, que há anos opera, com
muita disciplina, herdada do pai, um cronograma milimetricamente traçado: a de
transformar a riqueza da Amazônia no que ela pode oferecer para o povo que
habita aquele lugar. Algo real, factível, científico. Nada parecido com que os
gringos falavam sobre como é que tem que ser a relação com a Amazônia.
No último
dia do mês de outubro de 2022, os jornais brasileiros revelaram a novidade:
afinal quem levou Lula para a COP-27?
Distante 15 mil quilômetros do Brasil, na “lata”, Helder fez o desafio ao único
presidente eleito democraticamente três vezes no maior país da América Latina:
—
Presidente Lula, minha equipe fechou os números, esse povo não tem ideia do que
é o potencial da bioeconomia que nós temos, já está em curso as operações de
comando e controle que vão reduzir os crimes ambientais no meu estado
drasticamente, e gostaria de lhe ouvir sobre a possibilidade do senhor apoiar o
povo amazônida para sediar a COP-30 no Pará. Mais uma vez o senhor vai ouvir
que a Amazônia é isso, o Brasil aquilo, e nada! Então, o senhor topa!?
Lula nem
esperou Helder terminar de falar.
— Topo. E
vamos fazer.
Não deu
outra. Será feito.
Assoviando
e roendo pupunha
Enquanto o
desenrolar dos acontecimentos seguiam, se deu a posse de Lula. Uma semana
depois acontece os Atos de 8 de janeiro, quando uma turba de alucinados,
promoveram o maior quebra-quebra da história da capital federal em qualquer
tempo.
O tempo
passou, e antes de julho, no recesso legislativo do meio do ano, a classe
política foi devidamente informada que eram reais as chances da chancela
internacional de Belém do Pará sediar a COP-30, em 2025. A notícia, entretanto,
foi abafada, não era o momento para abrir o fato para o conhecimento público.
Lula tinha
sérios problemas políticos em razão da fraca base parlamentar para aprovar sua
agenda no Congresso.
Foi
justamente no meio do ano, e um pouco depois, que o presidente percebeu que, ou
finalizava o acordo e atendia os pedidos do Centrão, ou as dificuldades
ficariam cada vez maiores e mais caras. Isso se deu no final de julho.
Paralelamente
a isso, o presidente insistia no seu mais grave erro até agora, logo no
primeiro ano: a fixação em se tornar um player da diplomacia internacional. O
erro tático logo esparramou. Em todas as iniciativas, Lula só contabilizou
desgastes. Nem precisa falar da péssima impressão que ficou após a imprensa
noticiar o tamanho dos gastos dessas viagens e a antipatia gratuita da figura
da primeira-dama Janja da Silva, que fecha o ano sem conseguir se comunicar
fora de sua bolha de puxa-sacos.
Em agosto,
Celso Sabino, o líder do União Brasil no Pará, e um dos mais influentes
componentes da roda restrita do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
(PL-AL) avalizou o nome do colega deputado, um auditor fiscal licenciado,
convocando-o para a missão de presidir a Comissão Mista do Orçamento em 2022, e
o que se passou depois, agradou Lira que reconheceu o “show” do aliado na
construção do orçamento do último ano de exercício fiscal do então presidente
Jair Bolsonaro (PL), que sabidamente delegou aos aliados no Congresso, esses
assuntos: “Quem resolve isso daí é o meu ‘Posto Ipiranga’ e o Lira, tá o ok!?”
Mas, o que
mais chamou a atenção, foi a completa falta de visão de todos os prefeitos do
Pará quanto ao zero planejamento para ações com vistas à COP-30, notadamente o
de Belém, um carreirista político profissional.
Os gestores
preferiram sentar na beira do caminho, assoviar e roer pupunha. Esperam cair do
Céu algum, para o roçado.
COP-30
Feito o
anúncio da confirmando da realização da COP-30 no Pará, o estado sediou, logo
depois, o milagre da ressuscitação da OTCA — Organização do Tratado de
Cooperação da Amazônia, esquecida nos escaninhos da diplomacia multilateral
sul-americana.
O Pará
voltou a se destacar na programação de COP-28, em Dubai, nos Emirados Árabes
Unidos, no mês passado.
Chuchu ou
açaí?
O
vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), um tucano arrependido,
exerce, de forma baldia, apagada e incompetente, a acumulação do cargo ao de
ministro da Indústria e Comércio, numa acomodação sem precedentes.
Na semana
passada, sua correligionária, a deputada Tábata Amaral (PSB-SP), anunciou aos
quatro cantos da maior cidade da América Latina que é candidata à prefeitura de
São Paulo. Dizem que seu vice será o apresentador Luiz Datena.
Lula chamou
Alckmin, ou o chuchu, apelido dado não pela beleza em significado de gíria que
os mais antigos conhecem, mas pela completa nulidade que até agora, nenhuma
contribuição acrescentou ao governo. “Temos que marchar juntos em São Paulo”,
advertiu ao vice que apenas esboçou um sorriso amarelo.
Na ponta
oposta, Helder Barbalho marcha com resultados impressionantes de redução de
desmatamento e crimes ambientais no estado. Segue num ritmo alucinante para
finalizar os projetos executivos para preparar a capital do estado que governa,
e receber dignamente aos mais de 100 mil pré-inscritos para a COP-30, em
novembro de 2025.
Pelo visto,
enquanto o chuchu murcha, e corre desde já o risco de ser substituído pelo
jovem do Norte na chapa à reeleição em 2026, a força do açaí sobre o chuchu,
começa a se confirmar fora do âmbito da botânica.
É também,
pela primeira vez na história, que São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais,
perdem o protagonismo político em importância internacional, para Belém, a
porta de entrada da Amazônia brasileira.
Nenhum
outro fato esse ano, foi mais relevante para Luiz Inácio Lula da Silva do que a
COP-30.
* Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente
do Blog do Zé Dudu em Brasília.