Audiência Pública - Representação
dos estados e do DF na Câmara dos Deputados. Advogado do escritório Sergio
Banhos Advogados Associados, Pedro Paes de Andrade Banhos; Dep. Danilo Forte
(UNIÃO-CE) e Diretora-Geral do Superior Tribunal Eleitoral - TSE, Roberta Maia
Gresta
Em mais um caso clássico de
ausência de decisão do Congresso Nacional, finalmente, os deputados federais
sinalizam que estão dispostos a exercer suas obrigações e prerrogativa
constitucional de legislar, no caso da revisão do número de cadeiras que compõem
as bancadas de cada Estado e Distrito Federal na Câmara dos Deputados.
A discussão sobre a
redistribuição das vagas para deputados por estados está movimentando a Câmara
dos Deputados. A Comissão de Constituição e Justiça promoveu uma audiência
pública para debater o projeto de lei complementar (PLP
nº 148/2023), que define quantos candidatos os estados e o Distrito
Federal terão, com base no Censo Demográfico de 2022.
De acordo com a proposta, o
número total de deputados (513), o número mínimo (8) e o máximo (70) não serão
alterados, as vagas serão apenas redistribuídas. Com isso, alguns estados
perdem e outros ganham representantes na Câmara.
Não adianta o falatório de
deputados ao reclamar que o Supremo Tribunal Federal (STF) está interferindo no
direito do congressista em legislar, uma vez que em vários casos, é exatamente
isso que acontece. O PLP nº 148/2023 não anda, e isso não é culpa do STF.
No cado em questão, os deputados
decidiram, com enorme atraso, discutir a mudança na distribuição das vagas para
deputado por estado do País. O projeto de lei complementar (PLP) foi
apresentado pelo deputado Pezenti (MDB-SC).
A atual distribuição não é
alterada desde 1993, mesmo com as mudanças na demografia brasileira. O relator
do projeto, deputado Danilo Forte (União-CE), foi quem pediu a realização do
debat
Ele destacou que o STF deu prazo
até o dia 30 de junho do ano que vem para que o Congresso faça a redistribuição
das vagas. Se esse prazo não for cumprido, caberá ao Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) tomar a medida, e não vai adiantar “chorar o leite derramado”.
Na avaliação do deputado Pezenti,
autor da proposta, existe uma distorção que precisa ser corrigida. “Se os
deputados representam de fato a população, então algo precisa ser feito.
Apresentei essa proposta para fazer justiça com Santa Catarina e demais estados
que hoje são prejudicados pela configuração atual. Precisamos corrigir essa
distorção. O voto das pessoas precisa ter o mesmo valor”, afirma.
A proposta não altera nem o
número total de deputados (513) nem o número mínimo e o máximo, 8 e 70
respectivamente – apenas redistribui as vagas. Assim, alguns estados perdem e
alguns estados ganham. Por exemplo, São Paulo continua com 70 deputados. E estados
que deveriam ter menos de 8, como Acre e Rondônia, continuam com 8.
De acordo com o projeto, os
estados que mais ganham deputados são Pará e Santa Catarina – quatro cada;
Amazonas ganha dois deputados; e Ceará, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso
ganham um cada. Os estados que perdem deputados são Rio de Janeiro (4), Paraíba
(2), Bahia (2), Rio Grande do Sul (2), Piauí (2), Alagoas (1) e Pernambuco (1).
Deputado federal Airton
Faleiro (PT-PA), defendeu as quatro vagas que cabem ao Pará, na representação
dos estados e do DF na Câmara dos Deputados
Faleiro defende as quatro
vagas ao Pará
O deputado federal Airton Faleiro
(PT-PA) defendeu veementemente as quatro vagas a mais que cabem à bancada
paraense na Câmara dos Deputados.
“Eu sou do Estado do Pará. Nessa
conta, faz anos que o Estado do Pará perdeu quatro vagas de Deputados Federais.
Nós só temos 17 cadeiras, Deputado José Medeiros, e temos direito a mais
quatro”, explicou Faleiro.
O deputado Airton Faleiro
apresentou dois motivos para justificar seu pensamento sobre o assunto. “O
enfoque que eu quero dar para o debate… Primeiro, este é um debate até
polêmico, porque nós sempre defendemos que o Legislativo é quem deve tomar as
decisões relacionadas ao Legislativo, mas, como esse negócio foi demorando
tanto, nós, lá no Pará, entramos com uma ação no STF pedindo que este desse um
prazo para o Congresso deliberar. O STF acatou a nossa ação e remeteu para cá.
Então, não é que nós do Pará estejamos querendo passar por cima da decisão do
Legislativo. Não, o que nós queremos é que o Legislativo delibere. E é claro
que, na sua decisão, o Supremo deu um prazo. Se o Legislativo não deliberasse
dentro desse prazo, o Supremo deliberaria. Eu acho que nós, aqui na Casa, não
temos para onde correr; nós temos que achar uma solução, nós temos que
deliberar. Para isso é que somos eleitos. Para isso é que existe o Poder
Legislativo”, disse o deputado paraense.
“A segunda questão é que nós
vivemos num imenso país, com fluxos migratórios constantes, e não há como não
acompanharmos esses fluxos migratórios que se deslocam de alguns Estados para
outros. Quem ler sobre a composição social contemporânea do Brasil vai ver que
começamos a povoar o País pelo litoral, avançamos pelos rios e, depois, pelas
estradas. E hoje a nossa composição por Estado não reflete a representação aqui
na Câmara. Então, nós não temos como não corrigir isso. O que nós não podemos
fazer é criar uma legislação que piore a situação dos Estados que receberam
fluxos migratórios ou que estão em regiões longínquas dos grandes centros do
Brasil. Trata-se de populações menores, que acabamos prejudicando. Eu quero ir
na linha do que o Deputado José Medeiros falou. Hoje, para nós, o que está
valendo é o que está na Constituição. Se for para nós trabalharmos um novo
projeto que vá piorar a situação, é melhor obedecermos o que está na
Constituição”, entende Faleiro.
“Eu acho que o nosso amigo
Deputado Danilo tem uma responsabilidade muito grande. Como diz o outro, só
podemos fazer justiça; não podemos mais fazer injustiça. E não podemos deixar a
situação pior do que está. Nós do Pará reivindicamos, de forma muito veemente,
a correção da injustiça da nossa representação aqui na Câmara, porque nós temos
direito a mais quatro vagas de Deputado Federal”, finalizou Airton Faleiro.
Justiça se manifestou após ser
acionada
Como explicou o deputado Airton
Faleiro, o debate desse tema teve início no Supremo Tribunal Federal (STF),
após alguns partidos políticos entrarem com uma ação contestando trechos da
minirreforma eleitoral de 2021 (lei nº 14.211/2021), que reformulou as regras
para distribuição das sobras eleitorais, como explica o advogado especialista
em direito eleitoral, Vladimir Belmino.
“O julgamento no STF seria sobre
a validade imediata ou não do dispositivo constitucional que regulava a sobra
das sobras – aquele último estágio de quando não se atingem as cláusulas de
barreira de 100%, 80% do coeficiente eleitoral. No julgamento inicial, o STF
entendeu que a lei está certa, mas ela não se aplica agora, vai se aplicar para
as outras eleições. Isso levou à manutenção de sete deputados federais”,
explica.
Ele ainda acrescenta: “Para fazer
esse efeito de não valer agora, só a partir de agora e não valer para trás,
necessitava de um quórum, de votação. Votação que não foi atingida. Menos
ministros votaram nesse sentido do que seria necessário. Essa é a tese dos
deputados que querem entrar e que os deputados que estão a sair dizem que não
se aplica nesse caso”, analisa.
Desafio
O deputado Danilo Forte
reconheceu a dificuldade de um consenso entre os parlamentares.
“O que tem que ser debatido e eu
tenho conversado com os demais parlamentares e com estudiosos do assunto, é que
a primeira medida e a mais simplória é essa substituição nessa conta
dever-haver. Estados que perdem e estados que ganham. Isso cria uma disputa
dentro do parlamento que vai ser muito complicada e difícil de solucionar”,
aponta.
Durante a audiência pública,
ficou claro que esse não será um debate fácil na Câmara. O deputado Kim
Kataguiri (União-SP), por exemplo, reclamou do caso de seu estado, cuja
situação não muda com a proposta: tem 70 e continua com 70 deputados, quando
deveria aumentar para 112. Segundo disse, “o voto do paulista vale menos que o
do cidadão do Acre”.
Flávio Pansieri, professor da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, disse não crer que exista apoio
social para o aumento no número geral de deputados e que, nessa discussão,
haverá um desafio.
“O grande desafio dos debates no
Congresso Nacional será o enfrentamento da modificação ou não dos números
máximo e mínimo de representantes de cada um dos estados brasileiros para
formação da vontade política na Câmara dos Deputados.”
A diretora-geral do Tribunal
Superior Eleitoral, Roberta Maia Gresta, defendeu uma distribuição que siga os
preceitos constitucionais.
“A nossa Constituição parte do
princípio do voto igual. E o voto igual significa aquele voto para que a gente
possa ter o equivalente mais real possível à determinação de uma pessoa, um
voto. Ou seja, que o voto de todas as pessoas tenha igual valor”, reforçou.
Entenda o projeto
O relator do projeto é o deputado
Danilo Forte (União-CE) solicitou a audiência para que o assunto seja discutido
com a sociedade e seus representantes, pois acredita que o tema é complexo e
tem gerado uma disputa dentro do parlamento.“A Câmara dos Deputados, a casa do
povo, ela tem que ter uma preocupação na distribuição demográfica do país e
nessa representação uniforme em função exatamente dos números de deputados em
cada estado, proporcional ao número dos eleitores, e ao número da população, já
que essa é a casa que representa o povo brasileiro. Nós temos observado que
alguns estados ficaram desconformes em relação tanto ao crescimento da sua
população, como também no decrescimento ou na diminuição dessa representação”,
observa.Segundo o parlamentar, a atual distribuição não é alterada desde 1993,
mesmo com as mudanças na demografia brasileira. Para o deputado Alberto Fraga
(PL-DF), o cenário é desigual para determinadas regiões. Ele destaca que é
preciso coragem para resolver a questão.“Não tenho nada contra São Paulo,
contra Bahia, contra Minas Gerais, absolutamente. Mas eu acho que há uma
desproporcionalidade muito grande. A prova disso é que nós temos que encontrar
um meio-termo. Brasília tem 8 deputados, só que tem 8 deputados desde quando
Brasília tinha 800 mil habitantes. Brasília está com 4 milhões de habitantes,
já é a terceira capital do Brasil. Então não pode continuar com 8 deputados.
Uma bancada de São Paulo com 70 deputados, na hora que surge um conflito, como
já aconteceu aqui, você tem 8 deputados e vai brigar contra 70”, reclama.
Prazo final
O STF deu prazo até o dia 30 de
junho do próximo ano para que o Congresso faça a redistribuição das vagas. Caso
a data não seja cumprida, caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tomar as
decisões. Na opinião do advogado especialista em direito eleitoral Vladimir
Belmino, se a decisão couber ao TSE, isso pode gerar mais conflitos na casa.
“Isso aí vai gerar um efeito
cascata. Eles vão ter direito – os que ficaram de fora – por conta dessa
metodologia a pedir isso. Isso vai levar a uma mudança agora, no meio do
mandato de muita gente. Soma-se a isso o fato de que agora estão sendo julgados
quase que em última instância os casos, por exemplo, de fraude à cota de gente.
Que exigem uma retotalização em vários casos, também os casos dos deputados que
foram cassados e que devem ter mudança”, explica.De acordo com o especialista,
o TSE também terá que recontar os votos de todos os deputados estaduais que
foram eleitos segundo esse mesmo tipo de cálculo. “Pode haver mudança também
nas bancadas das Assembleias Legislativas e da Assembleia Distrital do DF”,
ressalta.Conforme o projeto, Pará e Santa Catarina serão os estados com o maior
número de representantes – quatro cada. Com isso, a bancada paraense passaria
dos atuais 17 parlamentares para 21. Amazonas deve ganhar dois deputados e
Ceará, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso ganham um cada. Os estados que perdem
deputados são Rio de Janeiro (4), Paraíba (2), Bahia (2), Rio Grande do Sul
(2), Piauí (2), Alagoas (1) e Pernambuco (1).
* Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do
Zé Dudu em Brasília.
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