Acordo sobre "critérios de
transparência, rastreabilidade e correção" dos recursos foi anunciado após
um almoço na presidência do Supremo, nesta terça-feira (20)
Termos semânticos à parte,
consenso ou acordo, a escolha da primeira palavra pelos atores que representam
os Três Poderes da República, após mais de três horas de reunião nesta
terça-feira (20), na sala da Presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), dá
a impressão de “pontas que ainda ficaram soltas” no acordo para pacificar de
vez o clima beligerante sobre o desacerto da aplicação de emendas do Orçamento
Geral da União, tema do encontro.
O “consenso possível”, segundo o
presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, encaminha uma nova rodada de
negociações entre Congresso, Planalto e Procuradoria-Geral da República (PGR)
sobre a execução de emendas parlamentares.
Todos os 11 ministros do Supremo,
os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), e os chefes da Casa Civil do governo Lula, Rui Costa, da
Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, e da PGR, Paulo Gonet – autoridades
dos Três Poderes – divulgaram nota conjunta para informar que se chegou a um
“consenso” sobre as emendas parlamentares, em meio à crise causada por decisões
do Supremo, que suspenderam repasses impositivos. O encontro ocorreu a convite
do presidente da Corte, Luís Roberto Barroso.
Um dos itens do acordo prevê a
manutenção das chamadas “emendas Pix”, desde que o seu objeto seja identificado
antecipadamente. Ficou decidido ainda que a destinação de emendas individuais
impositivas deverá ser regulada em “diálogo institucional” entre Executivo e
Legislativo em até dez dias.
Veja a seguir os termos do
“consenso”, segundo a nota divulgada nesta tarde:
Ficam mantidas as decisões do
ministro Flávio Dino, já referendadas pelo Plenário da Corte. Nenhum dos
participantes chegou ao encontro com propostas já formuladas. Com isso, o
acordo foi construído em conjunto.
Firmou-se o consenso de que as
emendas parlamentares deverão respeitar critérios de transparência,
rastreabilidade e correção, com observância do seguinte:
Emendas individuais
- Transferência especial (emendas Pix): ficam
mantidas, com impositividade, observada a necessidade de identificação
antecipada do objeto, a concessão de prioridade para obras inacabadas e a
prestação de contas perante o TCU;
- demais emendas individuais: ficam mantidas, com
impositividade, nos termos de regulação acerca dos critérios objetivos
para determinar o que sejam impedimentos de ordem técnica (CF, art. 166, §
13), a serem estabelecidos em diálogo institucional entre Executivo e
Legislativo. Tal regulação deverá ser editada em até dez dias.
Emendas de bancada
Serão destinadas a projetos
estruturantes em cada Estado e no Distrito Federal, de acordo com a definição
da bancada, vedada a individualização.
Emendas de comissão
Serão destinadas a projetos de
interesse nacional ou regional, definidos de comum acordo entre Legislativo e
Executivo, conforme procedimentos a serem estabelecidos em até dez dias.
“Fica acordado que Executivo e
Legislativo ajustarão o tema da vinculação das emendas parlamentares à receita
corrente líquida, de modo a que elas não cresçam em proporção superior ao
aumento do total das despesas discricionárias. O relator irá, oportunamente,
reexaminar o processo”, conclui o comunicado conjunto.
Segundo o comunicado, emendas Pix
ficam mantidas, “com impositividade”, observada a necessidade de identificação
antecipada do objeto, a concessão de prioridade para obras inacabadas e a
prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União (TCU).
Já emendas de bancada devem ser
destinadas a projetos estruturantes em cada estado e no DF, de acordo com a
definição dos congressistas integrantes da bancada, vedando a individualização
de emendas.
Emendas de comissão serão
destinadas a projetos de interesse nacional ou regional, definidos de comum
acordo entre Legislativo e Executivo, conforme procedimentos a serem
estabelecidos em até dez dias.
Segundo Barroso, estavam na mesa
de discussão três problemas a serem equacionados: o valor das emendas, a
questão da rastreabilidade e da transparência, e a questão da fragmentação
orçamentária. Para ele, só dois deles foram resolvidos.
“A rastreabilidade e a
transparência ficaram estabelecidas de maneira inequívoca, inclusive com
controle, pelo TCU. E a fragmentação é reduzida, mitigada, bem minimizada, pelo
fato de que as emendas de bancada têm que ir para os chamados projetos estruturantes.
Portanto, não mais uma divisão em frações de dinheiro por parlamentar,” afirmou
o presidente do STF.
Sobrou, para ser resolvida, a
questão do volume de recursos, que, segundo ele, seria “essencialmente
política” e, portanto, estava propriamente em discussão no Supremo.
“Nós estávamos discutindo
basicamente a controlabilidade da destinação desses recursos e algumas regras
para a distribuição das emendas individuais,” disse Barroso, ao declarar que a
discussão que cabe aos ministros do STF é de cunho constitucional, não político.
No almoço, os participantes
também acordaram que Executivo e Legislativo ajustarão a vinculação das emendas
parlamentares à receita corrente líquida, de modo que não cresçam em proporção
superior ao aumento do total das despesas discricionárias. O relator irá,
oportunamente, reexaminar o processo.
Por Val-André
Mutran – de Brasília