À esquerda, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que discutiu e agrediu fisicamente Gabriel Costenaro (direita), militante do Movimento Brasil Livre (MBL), no recinto da Câmara dos Deputados (Foto: )
Por um amplo placar de dez votos
favoráveis, dois contra e nenhuma abstenção, o Conselho de Ética e Decoro
Parlamentar da Câmara dos Deputados aprovou, na sessão desta quarta-feira (11),
a admissibilidade do processo de cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ),
a partir do relatório apresentado pelo deputado Paulo Magalhães (PSD-BA).
O processo transcorre após a
apresentação de ação do Partido Novo contra Braga, por ele ter expulsado a
pontapés um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL) da Casa, em abril deste
ano. A legenda pede a cassação do mandato do deputado por “violação às normas
de decoro que exigem respeito e decoro nas interações”. Veja como foi aqui.
Agora, há um prazo de dez dias
úteis para a apresentação da defesa escrita do representado. Apresentada a
defesa escrita, serão mais 40 dias úteis para instrução probatória, solicitação
de documentos e oitivas de testemunhas – até oito – do relator e do representado.
Encerrada a instrução probatória, contam-se mais dez dias úteis para o relator
apresentar seu parecer final, que deverá ir à votação. Caso chegue até essa
fase, Braga poderá recorrer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e uma
possível cassação terá ainda de ser votada pelo plenário da Casa.
O episódio que motivou a ação
ocorreu em 16 de abril deste ano, quando o deputado fluminense agrediu Gabriel
Costenaro, que é integrante do MBL. Depois, o psolista tentou agredir o
deputado federal Kim Kataguiri (União-SP).
Durante a sessão do Conselho de
Ética, Glauber Braga voltou a argumentar que o presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL), estaria articulando sua cassação. Chegou a
perguntar ao relator da ação, Paulo Magalhães, se ele teria sido instruído pelo
alagoano.
Na sessão do Conselho de Ética, o
deputado Glauber Braga desenvolveu uma estratégia de “franco atiradores”,
disparando agressões verbais para todos os lados
Das 34 representações
protocoladas na atual legislatura, apenas a apresentada contra o deputado
federal Chiquinho Brazão (Sem Partido-RJ), acusado de ser um dos mandantes do
assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes,
foi a que chegou até o mesmo estágio que de Braga.
A sessão teve trocas de ofensas
entre parlamentares e a presença de apoiadores de Glauber Braga, que chegaram a
entoar gritos de “Fora, Lira!”.
“Podem continuar falando, podem
continuar esperneando, podem continuar xingando, como sempre fazem, porque é a
única maneira que têm de fazer política. Esta é a maneira como o deputado
Glauber faz política dentro desta Casa, apenas xingando, tumultuando,” afirmou
o deputado Kim Kataguiri (União-SP), coordenador do MBL.
“O instituto da cassação, da
suspensão de mandato, da punição, da sanção disciplinar faz parte do Código de
Ética e Decoro Parlamentar, mas, na minha visão, na minha ótica, não se aplica
ao deputado Glauber Braga, porque ele é um deputado que disputa ideias de
maneira aguerrida, que está voltado para causas importantes. Há quem discorde
da defesa dele, muito acirrada, do interesse nacional,” disse o correligionário
e conterrâneo, deputado Chico Alencar (Psol-RJ).
A votação do processo foi adiada
na semana passada após um bate-boca. O parlamentar psolista disse que o
presidente da Câmara, Arthur Lira, “é um bandido e foi o responsável por uma
articulação contra ele”, além de chamar o relator do caso de “mentiroso”. As
falas geraram bate-boca com o presidente do Conselho de Ética, Leur Lomanto
Júnior (União-BA).
Paulo Magalhães reagiu, negando
as acusações, e os dois bateram boca. Na sequência, Braga chamou novamente
Arthur Lira de “bandido”, o que gerou briga com o presidente do Conselho de
Ética.
Glauber Braga disse querer
“aniquilar” os “liberais”
Na ocasião que resultou no
processo contra Glauber Braga, o grupo do MBL estava na Casa para conversar com
deputados contra a regulamentação do Uber. Depois do ocorrido, o psolista
divulgou uma nota em que afirma que “não se arrependia do que tinha feito” e
que foi provocado pelo integrante do MBL.
Durante a discussão, ainda disse
querer “aniquilar” os “liberais” e os “fascistas de plantão”, depois de ter
sido flagrado ao agredir o membro do MBL no Congresso Nacional. O discurso foi
feito na Comissão de Administração e Serviço Público.
“Dentro deste auditório tem uma
força robusta de quem se posicionou, de quem não custeou o alambrado no
enfrentamento ao fascismo de plantão,” afirmou, ao se direcionar à mobilização
de servidores técnico-administrativos de universidades federais e de institutos
federais por reajuste salarial que participavam da comissão.
O deputado declarou que não
existe a “ilusão” de que “a derrota do fascismo se dá, exclusivamente, pela via
eleitoral”. Mas que não é possível “desprezar a necessidade de derrotar, também
eleitoralmente, o fascista que estava na Presidência da República,” em
referência a Jair Bolsonaro (PL).
“Mas a quantidade da mobilização
é que faz a diferença para que o fascismo seja, definitivamente, enterrado,”
disse Glauber Braga. “E, também, porque é fundamental que essa luta seja
traduzida no aniquilamento daqueles que querem destruir os institutos federais
e as universidades públicas brasileiras: que são os liberais e os fascistas de
plantão”.
Por Val-André
Mutran – de Brasília