Usando calça jeans e uma camisa de manga comprida de cor branca, o prefeito eleito de Marabá no último domingo, 6, Toni Cunha, foi à sessão da Câmara na manhã desta terça-feira, dia 8, para cumprimentar os vereadores e iniciar um diálogo democrático com o Poder Legislativo, ainda que informalmente. Disse que os trajes não eram por desrespeito ao parlamento, mas porque foi convidado a falar em cima da hora e estava no meio da rua e não quis perder a oportunidade.
Parabenizou todos os vereadores eleitos, lamentou a ausência de alguns no próximo mandato e deu sinais de como será a constituição de sua gestão.
Toni Cunha agradeceu a votação que recebeu e que o povo mostrou que é dono de seu destino, dando-lhe quase 70 mil votos no último domingo. “Esta é uma felicidade difícil. A gente vem com o desejo de acertar. Não pode ser só felicidade, senão vira festa. Tenho consciência da luta que é melhorar uma cidade importante, grande, com todos os avanços, mas também com muitos problemas que tem”.
Mencionou os quatro vereadores eleitos por seu partido, ressaltando ser esta a maior votação de uma legenda na história recente de Marabá e ressaltou que pretende governar com apoio do Legislativo e em consonância com o Judiciário.
Falou especialmente da função de João Tatagiba, seu futuro vice: “será criar políticas para atrair desenvolvimento econômico, emprego e renda. O maior programa social do mundo é o emprego. Essa será a sua missão, Tatagiba”.
Voltando à campanha, disse que foi difícil, sofreu ataques, os quais considera falsos, mas garantiu que o “couro é grosso”. Por outro lado, ponderou que na democracia não é lugar onde ataques e crimes não aconteçam e podem ser reprimidos. “Quem se sentir caluniado, deve bater à porta da justiça”.
Ao citar Miguel Gomes Filho, o Miguelito, vereador com mais mandatos no Parlamento, mas que não foi reeleito, Toni observou que, apesar das diferenças políticas, é o momento de todos desarmarem os palanques, baixar as bandeiras e trabalhar pelo povo de Marabá.
Toni analisou que o sucesso de seu futuro governo será o sucesso dos parlamentares e da Câmara Municipal, e que o contrário também seria proporcional.
Elogiou os medebistas. Disse que não comunga de muitas posições dos parlamentares deste partido, mas reconheceu que eles têm lado. Todavia, não consegue entender as pessoas que não têm posicionamento definido. E não significa que precisa ofender os que estão do outro lado. “Quero dizer a todos vocês: para mim, não tem mais partido, não tem mais tamanho de bancada, embora nos sintamos orgulhosos do tamanho do PL. O que é certo, é certo no PT, no PL, ou em qualquer outro lugar”.
SAÚDE COMO PRIORIDADE
Sobre os problemas que terá de enfrentar a partir de 1º de janeiro, Toni reconheceu que a saúde pública é o mais atroz de todos eles. “É uma luta dificílima, vou precisar da ajuda de vocês para despolitizar o ambiente da saúde. Não estou falando que não podemos governar com indicações e sugestões, mas precisamos fazer a saúde funcionar. Não sei o que vou precisar, mas se for preciso gastar o que for para que o povo de Marabá pare de morrer nas filas da saúde, nós o faremos. Se isso custar o capital político que construí, então vai custar, mas não abrirei mão de dar o mínimo de chance de sobrevivência para quem espera por uma saúde pública melhor”.
NOVO HOSPITAL
Toni Cunha ponderou que a nova ponte sobre o Rio Itacaiunas é importante para ajudar a desafogar o trânsito na cidade, mas avalia que não será a única válvula de escape a ser tomada. “Se temos uma ponte de R$ 120 milhões, por que não podemos ter um hospital novo, bem aparelhado, por R$ 60 milhões e ainda UPAs?”, questionou.
Também revelou que já procurou deputados federais e que espera que enviem emendas para que os recursos sejam investidos adequadamente em Marabá. “Não vou aceitar ser amordaçado por emenda, e todos estarão livres para apoiarem quem quiser. Os servidores da cidade serão livres para expressar suas opiniões políticas para apoiarem quem desejarem. Essa será uma bandeira de nosso governo, porque os servidores ganham para trabalhar, para prestar um bom serviço”.
MOBILIDADE URBANA
Sobre o drama de transporte coletivo, disse que pensa num modelo para o município assumir o serviço, sem deixar na mão da iniciativa privada, que não tem dado conta, podendo até deixar o governo refém.
De acordo com dados apresentados por Toni, cerca de 40% das pessoas que vivem em Marabá vivem na extrema pobreza. “Isso numa cidade poderosa, de PIB alto. O primeiro passo, segundo ele, será ter um serviço coletivo com valores acessíveis, não de graça, porque Marabá não suportaria, diferente de outras cidades. “Se o serviço der prejuízo, mas compensar para que o povo seja transportado com dignidade, nós vamos pagar. Dinheiro em caixa não é lucro se as pessoas estiverem vivendo mal”, garantiu.
Toni Cunha avalia que os atuais 17 ônibus em circulação pelas ruas de Marabá não são suficientes para transportar os passageiros adequadamente. Para aquisição de mais ônibus, disse que se Marabá não tiver dinheiro, vai em busca de parceria com a Vale, correr atrás de financiamento junto ao BNDES, que tem dinheiro a perder de vista e com juros baixos para mobilidade urbana a perder de vista.
O futuro prefeito disse que avalia que, inicialmente, serão necessários 50 ônibus novos, com ar-condicionado, embora a carência seja maior. “Vamos chamar especialistas para avaliar se podemos colocar ônibus maiores nas artérias principais e micro-ônibus para os bairros mais distantes”.
Ele também defendeu o fortalecimento do Programa Saúde da Família para poder minimizar os impactos nos hospitais da cidade. Mas, já avalia a possibilidade de abrir espaço para a iniciativa privada gerenciar leitos de hospitais, melhorando a qualidade do serviço. “Não vai ser fácil, não é simples, mas não estamos aqui para fugir, vamos enfrentar todos eles”.
Ao finalizar, disse que sempre estará na Câmara quando for chamado e desafiou os vereadores a lhe pedirem, principalmente realizações: “me peçam, me peçam. Não vamos atrapalhar a destinação de emenda de ninguém. Pedido de obra, de mudar o que está errado, é um pedido em favor do povo de Marabá”, reconhece.
VICE-PREFEITO
O vice-prefeito eleito, João Tatagiba, disse que depois que assumiu a presidência da ACIM (Associação Comercial e Industrial de Marabá), há quase quatro anos, buscou fortalecer a relação entre os poderes, inclusive com o Poder Legislativo. “Estávamos aqui com frequência. Conseguimos construir bastante. Isso nos ensinou muito, o Miguelito fomentou o debate para o desenvolvimento de Marabá. O tempo nos ensinou que Marabá precisa se desenvolver, não apenas crescer”, destacou.
Em relação à recente eleição, disse que foi procurado há um bom tempo pelo deputado estadual Toni Cunha, que o convidou para a campanha, observando a necessidade de trabalhar para geração de emprego na cidade. “Ele me disse: ‘precisamos fazer uma gestão desenvolvimentista. Marabá é uma cidade que precisa de nós, não apenas o centro.’”, revela Tatagiba.
O vice eleito garantiu que ele e Toni vão fazer um governo de união e de convergência.
Política, saúde