Brasília – Em encontro
com o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro José Múcio
Monteiro na última sexta-feira (18), parlamentares da comissão mista do
Congresso Nacional que acompanha as ações econômicas de combate à pandemia de
coronavírus manifestaram preocupação com o medo dos gestores em gastar mais
recursos neste momento e serem acusados mais tarde pelos órgãos de controle.
Alguns também apontaram que isso poderia ser relativizado para os gestores
regionais se o governo federal assumisse o planejamento de compras de
equipamentos e outros insumos em grande escala.
Monteiro explicou que o TCU abriu 29 frentes de
acompanhamento das ações dos gestores durante a pandemia. Segundo ele, seria
importante que as autoridades observassem as orientações dos tribunais de
contas.
“Se o gestor nos procura para dizer o que está
sendo feito e nos mostra a necessidade do que está sendo feito, nós somos
parceiros. Se a coisa for feita — não é nem que seja feita com a nossa anuência
— mas sem que a gente tenha conhecimento; nós podemos tê-lo como um suspeito.
Tudo isso será averiguado porque nós não podemos fazer caridade com dinheiro
público e nem os órgãos de controle podem simplesmente dizer que por conta da
pandemia nós estamos de braços cruzados.”
O deputado João H. Campos (PSB-PE) e outros
parlamentares criticaram o fato de o governo federal não ter centralizado
algumas compras necessárias para o combate à pandemia. Ele questionou o TCU se
também não seria tarefa do tribunal exigir mais planejamento dos gestores para
otimizar os gastos. Campos citou a recente falta de remédios nos hospitais em
alguns estados.
“Enquanto isso, faltou medicamento para fazer a
sedação dos pacientes e o relaxamento muscular do pulmão para fazer a
intubação. E o ministério não agiu como um regulador de estoque nacional.”
Marcelo Aragão, da Secretaria de Controle Externo
do TCU, disse que o tribunal está preocupado com o planejamento e vem tentando
agir preventivamente. Mas Aragão explicou que o tribunal vem tendo dificuldades
para obter informações, por exemplo, do Ministério da Saúde. E citou o exemplo
de cinco processos de compras de respiradores pelo Ministério da Saúde ao custo
de R$ 787 milhões.
“E a nossa dificuldade em função até da mudança de
dois ministros é justamente dessa interlocução com o comitê de crise, no
Ministério da Saúde, para entender toda a logística de distribuição, critérios.
Infelizmente, a gente tem contribuído, orientado muito o gestor na melhoria
dessa governança, mas temos essa dificuldade sem dúvida da transparência.
Transparência dos critérios de alocação dos recursos, transferência de recursos
para os entes subnacionais.”
O presidente da comissão mista, senador Confúcio
Moura (MDB-RO), lembrou que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, será ouvido
pelo grupo na próxima terça-feira (23).
O TCU já abriu 62 processos durante a pandemia.
Alguns deles são o que apurou o recebimento do auxílio emergencial por
militares; o que investiga sobrepreço na contratação de serviços de
telemedicina pelo governo federal; e os que verificam a pertinência da compra
da cloroquina para pacientes de Covid-19.
Em relação ao auxílio emergencial, o tribunal vem
apurando um total de 8 milhões de pessoas que podem estar recebendo o benefício
indevidamente. E recentemente o TCU pediu informações ao governo sobre o total
de militares em cargos civis do governo, o que também foi citado na audiência.
De acordo com o tribunal, isso pode configurar um desvirtuamento das Forças
Armadas.
Agenda
da Comissão Mista
O senador Confúcio Moura (MDB-RO), presidente da
comissão mista que acompanha as medidas relacionadas à pandemia da covid-19,
anunciou o cronograma de reuniões para os próximos dias.
No dia 23, a partir das 10h, o ministro da Saúde,
Eduardo Pazuello, será ouvido na comissão. Os parlamentares devem questioná-lo
sobre a sistemática de divulgação de dados da pandemia, como o número de
contaminados e a totalização das vítimas da covid-19 no Brasil, que tem sofrido
atrasos e constantes modificações na sistemática, tanto que uma subcomissão foi
criada para fazer uma contabilidade paralela desses dados.
Dia 25 será feita uma audiência com os governadores
representantes dos consórcios regionais, uma parceria jurídica firmada para
ações de interesses comuns em áreas como saúde, educação e segurança, e que tem
auxiliado na aquisição de materiais e insumos e nos processos licitatórios para
enfrentamento à pandemia da covid-19.
Vão participar da reunião os governadores Mauro
Mendes (MT), representando o Consórcio Brasil Central; Rui Costa (BA), do
Consórcio Interestadual do Nordeste; Romeu Zema (MG), do Consórcio Integração
Sul-Sudeste; e Antonio Waldez Goes (AP), do Consórcio Interestadual de
Desenvolvimento da Amazônia Legal. A reunião ocorrerá às 11h.
Na segunda-feira (29), será a vez do ministro da
Fazenda, Paulo Guedes, comparecer à comissão para fazer o balanço de dois meses
de atuação do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.
Segundo o plano de trabalho da comissão, Guedes deve comparecer a cada dois
meses para prestar contas aos parlamentares.
No dia 2 de julho, participarão de audiência
pública remota representantes dos municípios, o presidente da Confederação
Nacional de Municípios (CNM), Glademir Aroldi, e o presidente da Associação
Brasileira de Municípios, Ary José Vanazzi, prefeito de São Leopoldo (RS).
Segundo Confúcio, os novos requerimentos de audiências públicas aprovados
serão agendados a partir desta data.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.