A jornalista Júlia Freitas, de Rondon do Pará,
protocolou, nesta segunda-feira (26), no Ministério Público Estadual, naquele
município, queixa contra a Prefeitura Municipal e a Secretaria Municipal de
Saúde. No documento, ela responsabiliza o Executivo e a pasta citada pela morte
de sua mãe, Alice Freitas, de 78 anos, na última sexta-feira (24), acometida de
covid-19.
Na denúncia Júlia afirma que houve omissão por
parte do poder público rondonense desde o momento em que seu irmão, Roberto
Freitas, 52 anos, paciente renal crônico, cardiopata e hipertenso, que
faz tratamento de hemodiálise três vezes por semana no Instituto São Francisco,
em Ulianópolis, desde agosto de 2018 e, junto com outros pacientes, utiliza o
transporte fornecido pela Prefeitura de Rondon do Pará, não foi testado para o
novo coronavírus, assim como os demais.
Com a situação de pandemia de covid-19 e o fato de
que havia alguns dos 18 pacientes renais crônicos com sintomas característicos
da infecção pelo novo coronavírus, Júlia Freitas conta que solicitou à
Secretaria de Saúde do município e à Vigilância Sanitária, que todos os 18
pacientes fossem submetidos a teste de detecção do vírus. Entretanto, afirma
ela, nenhuma providência foi tomada.
Narra ainda que a mesma tentativa foi feita pelo
Hemocentro de Ulianópolis, que enviou ofício à Secretaria de Saúde de Rondon,
solicitando que todos os 18 pacientes renais oriundos do município passassem
pelo teste que detectaria ou não a presença do novo coronavírus. O pedido também
não foi atendido.
Revoltada com a situação do irmão e de outros
pacientes, que continuavam viajando para Ulianópolis no mesmo veículo que
outros pacientes com sintomas da covid-19, Júlia Freitas ameaçou ir ao
Ministério Público denunciar o descaso. Imediatamente, o prefeito Arnaldo
Ferreira Rocha e a secretária de Saúde, Eilla Ramalho de Deus, apressaram-se em
ir a uma emissora de rádio anunciar que dariam toda a assistência aos pacientes
renais, inclusive providenciando a testagem.
Roberto Freitas, entretanto, já estava contaminado
pelo novo coronavírus e precisava ser removido para o Hospital Regional em
Marabá. Porém, como a ambulância do município estava ocupada por uma paciente,
em vez de vir na maca, ele viajou sentado em uma cadeira, sem suporte e sem
oxigênio, no último dia 1º.
Como ele morava com a mãe, Alice, que estava em
completo isolamento, automaticamente e sem saber, passou o vírus para ela, que
ficou quatro dias internada no Hospital São José, lá mesmo em Rondon, mas a
situação se agravou e a idosa teve de ser removida para hospital de Marabá.
Novamente Júlia apelou à prefeitura para que
providenciasse uma ambulância a fim de transportar a mãe até Marabá e outra vez
viu seu pedido negado. Alice Freitas teve de viajar 160 km em um automóvel
particular, acompanhada de uma técnica de enfermagem e sem o menor suporte de
atendimento de urgência, como afirma a jornalista na denúncia.
Internada no dia 5 no Hospital Municipal de Marabá,
posteriormente ela foi removida ao Hospital Regional, onde morreu na
sexta-feira. “A omissão do estado, por seus ocupantes de Cargo Eletivo ou
Servidores Públicos, também é uma forma de genocídio da população deste
Município [Rondon] por conduta omissa e mesmo, no caso concreto, de homicídio”,
afirma a jornalista no documento.
“Ademais, os fatos relatados configuram violação
grave à Constituição Federal da República, à Lei de Improbidade Administrativa,
tendo repercussão na seara Política, Administrativa e Penal”, adverte ela,
solicitando do MP as providências legais para o caso.
O Blog do Zé Dudu tentou, de todas as formas,
contato com a Prefeitura de Rondon, por meio da Assessoria de Comunicação, para
que o Executivo Municipal ou a Secretaria de Saúde se manifestassem sobre o
caso, mas não obteve retorno.