Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

SAÚDE
Publicada em 19/03/21 às 06:04h - 112 visualizações
OMS diz ter encontrado possível origem da pandemia da Covid-19
Fazendas de vida selvagem no sul da China são provável fonte do novo coronavírus

Jornal O Niquel



Os ratos de bambu estão entre os animais selvagens criados para alimentação na China e em outras partes da Ásia. Um membro da equipe da Organização Mundial de Saúde que está investigando a pandemia do novo coronavírus disse que seu relatório concluirá que essas fazendas de animais são provavelmente o local onde a pandemia começou. Acima, um rato vivo está à venda em um mercado de alimentos em Mianmar (Foto: Jerry Redfern/LightRocket Getty Images)

 

Brasília – A Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu um estudo que investigou a exata origem do SARS-CoV-2, a variante do novo coronavírus que se transformou na pandemia da covid-19. O relatório completo só deve sair no final de março deste ano, mas um membro da equipe, Peter Daszak, que participou da pesquisa, compartilhou uma prévia dos resultados com um jornal estrangeiro.

Segundo o especialista, que viajou para a China, há fortes evidências que confirmam hipóteses iniciais sobre as primeiras contaminações. O novo coronavírus provavelmente nasceu a partir do consumo da carne de animais que foram infectados por morcegos.

Os bichos em questão são animais silvestres que vivem em fazendas legalizadas há ao menos duas décadas pelo governo da China, possivelmente na região de Yunnan. Esses locais ajudaram a reduzir a pobreza na região e costumam fornecer o que é vendido em mercados de frutos de mar como o de Huanan, em Wuhan, epicentro da pandemia em humanos.

Origem localizada

A China fechou essas fazendas de vida selvagem em fevereiro de 2020, diz Peter Daszak, ecologista de doenças da EcoHealth Alliance e membro da delegação da OMS que viajou à China este ano. Durante essa viagem, diz Daszak, a equipe da OMS encontrou novas evidências de que essas fazendas de vida selvagem forneciam animais aos vendedores do Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan, em Wuhan.

Daszak disse que o governo chinês pensava que essas fazendas eram o caminho mais provável para um coronavírus em morcegos no sul da China chegar aos humanos em Wuhan.

Tais fazendas de vida selvagem, incluindo aquelas na região de Yunnan, são parte de um projeto único que o governo chinês vem promovendo há 20 anos.

“Eles pegam animais exóticos, como civetas, porcos-espinhos, pangolins, cachorros-guaxinins e ratos de bambu, e os criam em cativeiro,” diz Daszak.

A agência deve divulgar as descobertas investigativas da equipe nas próximas duas semanas. Nesse ínterim, Daszak relatou o que a equipe descobriu.

Projeto de combate a fome do governo chinês

“A China promoveu a criação de animais selvagens como uma forma de aliviar as populações rurais da pobreza,” diz Daszak. As fazendas ajudaram o governo a cumprir metas ambiciosas de acabar com a divisão rural-urbana, conforme relatado pela imprensa estrangeira no ano passado.

“Foi muito bem-sucedido,” diz o ecologista. “Em 2016, eles tinham 14 milhões de pessoas empregadas em fazendas de vida selvagem e era uma indústria de $70 bilhões”.

Então, em 24 de fevereiro de 2020, quando o surto em Wuhan estava diminuindo, o governo chinês deu uma volta completa em relação às fazendas.

Ratos de bambu e outros bichos eram criados como comida e vendidos em mercados e feiras

A pandemia faz com que a China proibisse a reprodução de ratos de bambu e outros animais selvagens. “O que a China fez foi muito importante,” diz Daszak. “Eles divulgaram uma declaração dizendo que parariam de cultivar animais selvagens para se alimentar”.

O governo fechou as fazendas: “Eles enviaram instruções aos fazendeiros sobre como descartar os animais com segurança – enterrá-los, matá-los ou queimá-los – de uma forma que não propagasse doenças”.

Por que o governo faria isso? Porque, pensa Daszak, essas fazendas poderiam ser o local de transbordamento, onde o coronavírus saltou de um morcego para outro animal e depois para as pessoas. “Acho que o SARS-CoV-2 atingiu as pessoas pela primeira vez no sul da China. É o que parece”.

Em primeiro lugar, muitas fazendas estão localizadas ao redor de uma província do sul, Yunnan, onde os virologistas encontraram um vírus de morcego que é geneticamente 96% semelhante ao SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a doença covid-19. Em segundo lugar, as fazendas criam animais que são conhecidos por transportar coronavírus, como gatos civetas e pangolins.

Finalmente, durante a missão da OMS na China, Daszak disse que a equipe encontrou novas evidências de que essas fazendas estavam abastecendo vendedores no Mercado Atacadista de Frutos do Mar Huanan em Wuhan, onde ocorreu um surto precoce de COVID-19.

O mercado foi fechado durante a noite em 31 de dezembro de 2019, após ter sido relacionado a casos do que foi descrito como uma misteriosa doença semelhante à pneumonia.

“Havia uma transmissão massiva acontecendo naquele mercado, com certeza,” diz Linfa Wang, virologista que estuda vírus de morcego na Duke-NUS Medical School, em Cingapura. Ele também faz parte da equipe de investigação da OMS. Wang diz que após o surto no mercado de Huanan, cientistas chineses foram lá e procuraram o vírus.

“Na seção de animais vivos, eles tiveram muitas amostras positivas,” disse Wang. “Eles ainda têm duas amostras das quais podem isolar vírus vivos”.

E assim, Daszak e outros membros da equipe da OMS acreditam que as fazendas de vida selvagem forneceram um canal perfeito entre um morcego infectado com coronavírus em Yunnan (ou na vizinha Mianmar) e um mercado de animais de Wuhan.

“A China fecha esse caminho por uma razão,” diz Daszak. “A razão foi que, em fevereiro de 2020, eles acreditavam que esse era o caminho mais provável [para o coronavírus se espalhar para Wuhan]. E quando o relatório da OMS for publicado também acreditamos que seja o caminho mais provável”.

O próximo passo, diz Daszak, é descobrir especificamente qual animal carregava o vírus e em qual das muitas fazendas de vida selvagem no Sul da China.

POR VAL-ANDRÉ MUTRAN – DE BRASÍLIA




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